Eleição e urna eletrônica
No próximo domingo, os brasileiros vão às urnas eletrônicas para escolher parte dos nossos governantes. Apesar da desconfiança de alguns, creio que o atual sistema informatizado é seguro, não havendo qualquer evidência de que possa ser violado para fraudar os resultados. Estes podem ser fiscalizados por todos os partidos e outras instituições, por meio dos boletins de urna afixados na porta de cada seção eleitoral, ao final da votação.
No entanto, quando a urna eletrônica foi implantada nas eleições de 1996, eu achava que não deveríamos ter abandonado o voto impresso. A eleição com cédula em papel fazia parte da nossa centenária tradição política e toda mudança sempre gera resistência e incerteza. Cada eleitor saía da cabina eleitoral com a sensação de que o seu voto impresso tinha uma existência concreta e constituía uma prova material da sua manifestação eleitoral.
Ao deixar o recinto da sua seção eleitoral, o eleitor sentia-se mais cidadão, certo de que o seu voto permaneceria secreto no interior daquela urna de lona, que os mesários lacravam ao final da votação. Depois, sabia que o SEU voto seria manuseado e contado em meio de tantos outros, por habilidosas mãos de escrutinadores, trabalhando voluntariamente em todo o país. A votação durava nove horas e a apuração dois ou três dias, às vezes até mais, tempo de expectativa e emoção com os votos contados manualmente e disputados um a um.
Conhecidos os resultados, para os escolhidos, o momento era de alegria, passeatas e foguetórios. Aceitar a vitória, sempre foi fácil. Todos sabem ganhar com nobreza de sentimentos e de gratidão. Para outros, os perdedores, o sentimento era de frustração e desconfiança de traições. Não raro, a reação era de denúncias de fraudes. Perder é dureza. Nem todos sabem aceitar a derrota. Como se vê, nem a urna eletrônica acabou com o coro do choro dos perdedores bradando que são roubados.
Talvez por saudosismo, a eleição com cédula impressa me parecia mais emocionante. Tinha também um sabor cívico explícito, até patriótico, caraterizado pelo trabalho voluntário da manhã à noite de milhares de mãos. Afinal, se não podemos votar pelo computador ou celular, se temos que ir pessoalmente a uma seção eleitoral, se dirigir a uma cabina e apertar um botão para “depositar” o nosso voto virtual, penso que poderíamos ter continuado com o voto impresso. Tanto que até hoje, a maioria dos países ainda adota a cédula em papel para eleição dos governantes.
Mas, as nossas autoridades eleitorais quiseram inovar, colocar o Brasil à frente das nações de todo o mundo.
Na verdade, tudo muda. Estamos vivendo a era da informática, da cultura do conhecimento e das informações circulando no espaço invisível da realidade virtual e a urna eletrônica aí está e deve ficar. Agora, é tarde para voltar ao tempo das cédulas de papel.