Feriado de praia lotada
No último domingo, fiz minha habitual caminhada na praia de Balneário Camboriú. Caminhar é viver, mesmo que tenha que carregar o peso da idade octogenária, que já não me permite mais aquela marcha lépida e forçada de seis quilômetros por hora. Agora, é caminhar lentamente, respirando sem resfolegar, num ritmo de pernas já cansadas, tão […]
No último domingo, fiz minha habitual caminhada na praia de Balneário Camboriú. Caminhar é viver, mesmo que tenha que carregar o peso da idade octogenária, que já não me permite mais aquela marcha lépida e forçada de seis quilômetros por hora. Agora, é caminhar lentamente, respirando sem resfolegar, num ritmo de pernas já cansadas, tão devagar que me permita observar o entorno do percurso praiano. A velhice é assim, tempo de observar, de refletir e relembrar o que passou.
Brasileiro, todos sabem, adora esticar fim de semana e criar feriadão para descansar do trabalho duro, principalmente os funcionários públicos. Curiosamente, feriadão não é para ficar em casa e repousar, mas para botar o pé na estrada. Assim, no feriado de ontem, da Proclamação da República, ao final de quatro dias de ócio turístico, muitos brasileiros voltaram para casa das suas viagens e, creio, poucos se lembraram do marechal Deodoro ou da família imperial apeada do poder e embarcada à força para o exílio sem volta.
Feriadão é sinônimo de praia cheia na badalada Balneário Camboriú. No último domingo, vi uma amostra do que está por vir no próximo veraneio. Era muita gente caminhando, outros muitos sentados embaixo dos guarda-sóis e um batalhão de ambulantes vendedores de sorvetes, picolés, sanduíches, vestes de praia, bijuterias artesanais e muitas outras coisas.
Aproveitar é preciso, parece ser o lema dos veranistas dos feriadões ou de poucos dias. Assim, no mar agitado, vindos de longe ou de perto, boa parte desses turistas de primeira viagem se banhava nas águas ainda frias de uma primavera cheia de timidez. Alguns deles, nem respeitavam o festival de bandeirolas vermelhas a advertir que, naquele local, o mar não estava pra peixe, muito menos para afoitos veranistas de primeira viagem.
Pelo que vi, ignoram a advertência de perigo e enfrentam o mar agitado e perigoso para o indispensável banho de batismo turístico. Agora que Lula da Silva voltará ao poder, talvez estejam pensando que não será apenas a garantia de picanha para todos. É possível que alguns desses veranistas imaginem que as bandeiras fincadas ao longo de toda a praia, ali estão para demarcar as áreas privativas de banho dos companheiros petistas, cutistas e camaradas do MST, que tanto gostam da cor encarnada.
E quando o bombeiro salva-vidas, envergando a tradicional camiseta vermelha, aciona o seu apito de advertência e gesticula para alertar sobre o perigo, então esses incautos banhistas abanam as mãos num gesto de saudação imaginando que estão a cumprimentar um companheiro de militância política.
Ironia à parte, o fato é que, pelo retrato de uma praia lotada num feriado de novembro, é possível prever que a volta de Lula à presidência, a meu ver lamentável, não impedirá um próximo veraneio de multidões nas praias brasileiras.