João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Francisco e Lula

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Francisco e Lula

João José Leal

Na semana passada, o Papa Francisco recebeu Luiz Inácio Lula da Silva em audiência particular. Como manda o costume, deve ter lhe concedido uma bênção para absolvê-lo dos pecados. Penso que a audiência foi um lamentável equívoco. Político, porque deu a um condenado por corrupção e associação criminosa combustível para continuar o seu discurso demagógico, de se dizer inocente e perseguido político. Religioso, porque o forte sentimento de admiração que o povo brasileiro dispensou ao Papa Francisco, quando da sua visita ao nosso país, deve ter ficado seriamente abalado.

A justiça criminal que, por duas vezes, já condenou Lula é a mesma que condenou os mais de 700 mil criminosos, que estão nas prisões brasileiras ou fora delas, por terem direito a um regime externo. Entre esses milhares de condenados, os casos mais conhecidos são os de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, Marcelo Odebrecht, megaempresário e Fernandinho Beira-Mar, um mega-traficante. Todos eles foram defendidos por grandes advogados, que usaram todas as armas processuais previstas na lei e na Constituição.

Com certeza, nenhum deles achou justa, muito menos, ficou contente com a sua condenação. Mas, também, nenhum deles ou seu advogado procurou desqualificar o juiz e o judiciário deste país. Nenhum se disse injustiçado ou um perseguido político da justiça criminal brasileira. Só Lula da Silva, um condenado em liberdade, é que continua a mentir para si próprio, dizendo-se inocente, mesmo depois de condenações confirmadas em três instâncias.

É, portanto, um condenado comum, como todos os demais. É, assim, que pensa a grande maioria da população brasileira, que gostaria de ver Lula a cumprir as suas penas de mais de 24 anos de reclusão. Só a democracia brasileira permite tamanha liberdade! Mas, a militância política e jurídica da esquerda não pensa assim. Prefere acreditar no discurso em causa própria do seu grande timoneiro e messias.
Por isso, penso que o Papa Francisco cometeu grave equívoco. Ao receber Lula em audiência, praticou um ato de desconsideração para com o Estado brasileiro, onde a religião católica continua sendo a predominante.

Foi, também, uma atitude de menosprezo para com a justiça criminal brasileira, que tem inúmeros defeitos, mas não pode ser acusada de opressora e inquisitorial. Defendido por advogados em regime de tempo integral, Lula da Silva usou e abusou de dezenas de recursos. Mesmo condenado, conseguiu sua liberdade provisória, privilégio que mais de 350 mil presos não conseguem.

Infelizmente, o Papa Francisco praticou também uma desfeita aos brasileiros que o recepcionaram com tanto carinho, durante sua visita ao nosso país, em 2013. A grande maioria dos brasileiros não pode compreender que o papa tenha escolhido um condenado da justiça criminal brasileira para conceder-lhe uma audiência particular. Ao misturar religião com política, o papa pagará o devido preço pela sua opção preferencial que, no caso de Lula, seguramente, não foi uma boa escolha.
O Papa, que não é infalível nas coisas terrenas, deve ter esquecido a tradição secular da Igreja Católica.

Na quinta-feira pascal do próximo dia nove de abril, estará lavando os pés de 12 condenados. Deveria ter esperado para, nesse ato de profunda humildade, aí sim, lavar os pés de Lula da Silva ao lado dos seus pares condenados pela justiça italiana. Quem sabe, nesse momento, Lula deixaria de mentir.

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo