João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Funcionário público, que um dia foi barnabé

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Funcionário público, que um dia foi barnabé

João José Leal

Um dia já foi apelidado de Barnabé, nome bíblico que, dizem os intérpretes das escrituras, significa “filho do profeta, da consolação ou da exortação”. Mas, a linguagem popular, possivelmente do povo carioca, sempre recheada de sarcasmo, lançou mão dessa palavra de origem hebraica para apelidar de Barnabé o funcionário público, aquele mais simples e de baixo salário. Isso, quando a cidade do Rio de Janeiro era bela, ainda a capital da República e o grande quintal do funcionalismo público federal.

Estou falando de uma época em que comecei a trabalhar na Caixa Econômica e os servidores públicos em geral ganhavam pouco, igual ou menos do que os trabalhadores da iniciativa privada. Tanto que uma conhecida marchinha de carnaval, cantada por Emilinha Borba, troçava do funcionário mal pago, o barnabé que só ganhava “pro cigarro e pro café/todo mundo fala fala/no salário do operário/ninguém lembra o solitário/funcionário barnabé”. E, para completar, o refrão da marcha da alegria carnavalesca ironizava o pobre barnabé: “todo mundo anda de bonde/só você é que anda a pé”.

Não é mais assim. A roda da história se move sem parar e, com ela, as mudanças ocorrem implacavelmente. Transformado, o carnaval continua, é verdade, mas não é o mesmo e as irreverentes marchinhas carnavalescas desapareceram das rádios e da boca do povo. E, porque tudo muda, a capital ganhou o nome de Brasília e foi transferida para o Planalto, há mais de 60 anos.

Agora, funcionário público é bem pago, muito melhor do que os trabalhadores do setor privado. Recebe muitos auxílios e gratificações, goza de plena estabilidade no emprego, tem licenças diversas, boas e excelentes aposentadorias, sindicato forte, direito ao feriado de Primeiro de Maio porque é trabalhador como os demais. E tem direito, também, por decreto presidencial, a ponto facultativo para folgar no dia de hoje. Afinal, servidor público não é de ferro, mas pode ser diferente dos demais que trabalham duro no seu Dia.

Neste ano, sempre para atender ao interesse maior dos cidadãos que pagam impostos, muitos Estados e Municípios transferiram a folga para sexta-feira, a fim de emendar com o feriado de finados. Mais um feriadão, certamente, ajudará o sofrido servidor público a recompor as suas forças neste tempo de pandemia em que muitos deles permaneceram em casa sem ir ao serviço.

E assim, há muito tempo, funcionário público não é mais chamado jocosamente de Barnabé, porque tem bom automóvel e não anda mais a pé, como dizia a marchinha de carnaval. E o nome Barnabé, então, retornou às páginas da Bíblia para continuar sendo apenas aquele tal de José de Chipre, que teria ficado pobre para ajudar os primeiros apóstolos.

Neste Dia dedicado ao funcionário público, penso que nós (afinal, sou funcionário público aposentado), não precisamos receber parabéns. Com tantas conquistas e vantagens, na verdade, já vivemos de parabéns todos os dias.

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