Gottfried Böhm e a nossa Igreja Matriz
Na quarta-feira passada, este jornal e diversos outros noticiaram o falecimento, na Alemanha, do conceituado arquiteto Gottfried Böhm. Tinha 101 anos de idade, o que não surpreende mais, pois a longevidade centenária do ser humano parece uma tendência inevitável. Pertenceu a uma família de arquitetos e nasceu três anos após o término da Primeira Guerra Mundial.
É fácil imaginar as dificuldades e agruras vivenciadas durante a sua infância e adolescência, numa Alemanha arrasada pelo conflito bélico, arruinada pela crise política e econômica, com desemprego, fome e graves conflitos sociais.
Mal saído da adolescência, padeceu as misérias e as atribulações causadas pela segunda grande guerra. É provável que, então com 20 anos, tenha sido mandado para vivenciar, nos campos de batalha, os horrores da violência e do holocausto que encharcou com sangue as terras do continente europeu.
Terminada a tragédia do morticínio causado pelo fanatismo nazista, Gottfried ingressou na Universidade de Munique para estudar arquitetura e se tornar um dos mais renomados arquitetos do seu país e da Europa. Os arquitetos citam o expressionismo, o brutalismo e outros ismos para se referir ao conjunto da sua obra.
No entanto, reconhecem a importância dos seus projetos que priorizam a leveza das linhas simples e retilíneas, combinando pedra e concreto armado para construir uma obra arquitetônica mundialmente reconhecida. Não por acaso, no ano de1986, foi escolhido para receber o prestigioso Prêmio Priztker, considerado o Nobel da arquitetura mundial.
Mas, afinal, o que este personagem tem a ver com a nossa cidade? Pois, é dele o projeto arquitetônico da nossa igreja matriz, cuja pedra fundamental foi lançada em 1955 e inaugurada em 1962. No Brasil, foi autor também com o seu pai do projeto da catedral de Blumenau, construída em granito rosa, com sua imponente torre logo no início da escadaria, formando um imponente portal de entrada ao templo.
Quanto à nossa Igreja Matriz, o projeto foi concebido para que o templo seja contemplado à distância, do nível da Praça Schneéburg para o alto da colina, como se o enorme monumento estivesse pairando nos céus. Suas altíssimas paredes de granito cinza e seus elevados pilares em concreto, formam uma arquitetura moderna e grandiosa.
A sua longa escadaria frontal, de mais de uma centena de degraus, parece ter sido projetada para que o visitante tenha a sensação de estar subindo para chegar a um espaço celestial de silêncio e paz.
Como escreveu um jornal de Curitiba, a monumental fachada com suas paredes altíssimas em granito, encimadas por arcos em concreto armado, dão a ideia de um belo portal paradisíaco. E, penso eu, nos faz sentir pequenos quando por ali caminhamos, galgando cada um dos seus degraus em granito picotados por mãos calejadas dos artesãos da rocha mais dura.