X
X

Buscar

Novo tempo, novo Natal

No Alvorada do Atlântico, as condôminas recém-chegadas estão numa conversa animada. Algumas não se encontraram durante todo o ano e a emoção do reencontro, marcado por beijos, abraços demorados e ruidosos risos gera um clima de euforia espalhafatosa. Se notícias e fofocas são muitas, maior é a curiosidade reprimida durante todo o ano. Agitada e […]

No Alvorada do Atlântico, as condôminas recém-chegadas estão numa conversa animada. Algumas não se encontraram durante todo o ano e a emoção do reencontro, marcado por beijos, abraços demorados e ruidosos risos gera um clima de euforia espalhafatosa. Se notícias e fofocas são muitas, maior é a curiosidade reprimida durante todo o ano.

Agitada e cheia de saudosismo, a chapecoense Maria Cecília está contando para as amigas sobre o jantar natalino que desejava fazer para os filhos e netos.

— Não sei se para melhor, mas a verdade é que a família mudou, já não é como no tempo dos meus pais. É verdade que a mulher era educada para se casar, ser dona de casa ou do lar como se dizia naquela época. Seu destino conjugal era o trabalho doméstico e ter filhos de contar nos dedos das duas mãos. Concordo que isso não era certo, porque a vida pouca coisa lhe reservava, a não ser o carinho dos seus muitos rebentos. Lá em casa éramos sete e tínhamos um profundo amor por nossa mãe que, carinhosamente, chamávamos de Rainha do Lar.

— A ceia de Natal era uma festa alegre e bonita. Imaginem, sete filhos. Atendendo ao chamado da tradição cristã, a tribo inteira reunia-se com os pais em volta de uma mesa guarnecida com um recheado peru. Os filhos casaram. Vieram os netos e a festa natalina na casa de meus pais foi aumentando a cada ano. Era tanta gente que os netos comiam na cozinha, na sala, na varanda e até nos quartos.

— Mesmo assim, a ceia de Natal não deixava de ser um momento mágico, de muita alegria e contentamento. Nos abraços apertados, acalorados pelo espírito natalino, desavenças familiares eram espancadas.

— Meus pais faleceram e a dispersão, a diáspora familiar, começou. Agora, cada família reúne-se com os filhos e netos. Mas, o Natal já não é mais o mesmo, como antigamente. Se muitas famílias ainda conseguem reunir filhos, netos, sogros e primos, outras tantas ficam reduzidas ao casal. Quando muito, recebem um ou dois filhos e alguns netos. Infelizmente, é o meu caso.

— Por isso, chega o tempo de Natal e me dá tristeza desgraçada. Tenho dois filhos casados, uma filha divorciada e apenas quatro netos. Meus dois filhos vão passar o Natal em Chapecó. Vocês sabem como funciona a coisa. As noras sempre puxam pro lado da família delas.

— Até rresolvi fazer um jantar natalino na primeira semana de dezembro. Na segunda-feira, meu filho mais velho estava viajando; na terça, uma nora tinha festa com as amigas; na quinta, era a outra que não podia. Os netos também tinham os seus compromissos. Passou a semana inteira e não foi possível reunir os três filhos e netos para um jantar.

— Resultado, vim para a praia para passar a noite de Natal com o meu marido. Não será um jantar a dois porque minha filha divorciada também estará presente. Mas sem os dois filhos porque, com essa nova moda de guarda compartilhada, este ano eles passarão o Natal com o pai e os avós maternos.

Aos meus fieis leitores, Bom Natal e um Novo Ano de muita paz.