João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

O “Horrível Cyclone” de 1925

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

O “Horrível Cyclone” de 1925

João José Leal

Não basta a Covid-19 a nos ameaçar com doença e morte. Neste período de medo e afastamento, já enfrentamos duas tragédias causadas por temporais, ciclones e até tornados. No último final de semana, mais um vendaval que soprou forte contra os telhado das nossas casas. Não foi só o vento que parecia o ciclone-bomba de dois meses atrás, voltando para arrancar árvores e destelhar nossas casas. O que impressionou e assustou, mesmo, foi a volumosa chuva de granizo. Bateu forte contra os telhados e vidraças das casas e edifícios, deixou terreiros, terraços e ruas cobertos de pequenas pedras de gelo.

Para muitos meteorologistas e cientistas, essas frequentes tragédias climáticas são castigos da natureza pelas agressões humanas contra o ambiente. No entanto, verifiquei que o verão brusquense de 1925 já foi marcado por intensos temporais que causaram sérios danos nas propriedades urbanas e rurais. Na sua edição de 12 de fevereiro daquele ano, informa a Gazeta Brusquense que a cidade vinha sendo castigada por constantes “espectáculos horrorosos de phenômenos naturaes”.

O título da reportagem – “Horrível Cyclone” – já diz tudo. No dia três, o calor tinha sido intenso e a tempestade começara a se formar durante a tarde. Escreve o redator que, no começo da noite, desabou a trovoada, com relâmpagos, acompanhada de uma intensa chuva torrencial, que alagou a cidade em poucos minutos. Era impossível uma pessoa atravessar a rua.

Não bastasse o forte temporal, a cidade foi fustigada por um “horroroso cyclone”, que causou pânico geral entre os indefesos moradores, acuados no interior de suas casas. E não era para menos. A fúria do vento foi tamanha que “sacudia as casas com violência” e lançava no ar telhados em estilhaços. Parecia um “tremor de terra”.

A cobertura da ponte central não resistiu à impetuosidade do ciclone. Como leves folhas de papel, as chapas de zinco voaram a uma centena de metros. Bem no meio da ponte fustigada pelo vento e pela chuva, lá estava, indefesa, desesperada, correndo risco de vida, uma mãe com sua filha pequena. Relata o jornal que, mesmo diante do grande perigo, o praça José Faria da Silva, “que muito honra a nossa força policial”, não hesitou em se lançar, com toda a coragem, contra “a impetuosidade do tufão para arrancar do perigo a senhora e a criancinha”. Foi o grande herói da terrível catástrofe climática.

Para sorte dos brusquenses, a sanha devastadora do vento durou pouco tempo. Apenas, 30 segundos. Mas, o cenário deixado pela tormenta de água e vento, foi descrito como desolador, com muitas casas danificadas, seus telhados em pedaços caídos nos quintais e nas ruas. Brusque “parecia em ruínas, como se tivesse sofrido um terremoto”.

A história é um processo que se repete com maior ou menor intervalo de tempo. Há 100 anos, tivemos a gripe espanhola. Hoje, enfrentamos a Covid-19. Há 75 anos, tempestades, chuvas de pedra e ciclone. Hoje, a natureza está de volta para nos submeter à mesma provação feita de granizo, vendaval e até tornados que passam voando para deixar um rastro de destruição e muita gente a chorar pelas perdas sofridas.

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