João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

O rei do lar

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

O rei do lar

João José Leal

Gosto de ver os verdejantes cajueiros de praia que embelezam a orla marinha de Balneário Camboriú. Árvore de muitos nomes populares – amendoeira, sombreiro e castanhola – além da beleza, ainda, proporciona uma aprazível sombra de seis quilômetros de pura ociosidade, nesta cidade de contínuas férias. Mas, quem pode reclamar, se praia é para isso mesmo. É lugar de descanso, de férias e muita diversão.

Sentadas num banco da calçada de pedra portuguesa, duas mulheres seguravam os seus peludos cães. Neste tempo de carência afetiva e solidão em meio à multidão, a calçada virou passarela da beleza canina. Ali, os elegantes e bem penteados cães parecem cachorros-guias a conduzir os dependentes donos em suas caminhadas a qualquer hora. Afinal, praia é tempo sem relógio.

A mais velha, com ares de setentona sem plástica facial, coisa rara nessa Dubai brasileira, segurava um belo e dócil Golden Retriever, de pelagem dourada. A outra tinha um elétrico e lanoso Lulu da Pomerânia, que latia nervosamente a cada pessoa que passava e, também, como se estivesse a provocar o tranquilo Golden. Este, em sua majestade canina, nem tomava conhecimento da provocação do exibido Lulu, que mais parece um desfiado novelo de lã, um espanador de penas de pavão, com focinho de raposa.

As duas mulheres já se conheciam de um casual encontro na semana anterior. Despreocupadas com a vida, davam trela aos seus cães e, também, à conversa como se fossem velhas amigas. Afinal, era uma conversa canina. Hoje, cão é assunto que facilita o papo entre as pessoas, principalmente, aquelas que saem às ruas levando ou sendo levadas por seus cães.

A mais velha aproveitou a palavra para completar uma conversa da semana passada. Disse para a dona do Lulu que o Golden não era dela, mas da sua filha, jovem universitária. Deixou a faculdade para ir trabalhar em Chapecó.

– Imagina, você. Minha filha diz que adora este cão como se fosse um filho. Deu-lhe até o nome de Luan, seu primeiro namorado, o grande amor da sua vida, diz ela. Mas, não entendo. Na verdade, deixou o cão para eu cuidar e se foi trabalhar num frigorífico daquela cidade. Ela até levou o Luan para lá e trouxe de volta, dizendo que ele não se adaptou com o ambiente da capital do oeste catarinense. Vem aqui a cada três meses e olhe lá. Mas, não me queixo. Tenho amigas com filhas mães-solteiras, que deixam os netos para a avó cuidar. Então, fico conformada. Eu até gosto deste cachorro dourado.

A boa mãe continuou o seu desabafo dizendo para a outra:

– Você sabe como é. Hoje em dia, cachorro em primeiro lugar. Não é só um animal de estimação, o queridinho de toda a família. Os costumes mudaram tanto que cachorro tem até estatuto legal, garantindo-lhes direitos. Ai de quem maltratar um animal de estimação. Ele é, verdadeiramente, sua majestade, o rei do lar!

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