João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Onde anda a primavera?

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Onde anda a primavera?

João José Leal

A temperatura política está elevada, quase pegando fogo. Mas, a natureza não está nem um pouco preocupada com o clima eleitoral. Parece mesmo que está querendo evitar a chegada da primavera e prolongar o inverno. Faz quase um mês que o calendário meteorológico marcou o começo dessa romântica estação, cantada em versos por poetas de todas as cores e escolas. E nada de calor, de sol nem do cantar alegre dos pássaros.

Ao contrário do ar primaveril, tivemos até neve e geadas na serra, no final setembro. E o frio continuou a nos obrigar a usar casacos, blusas e até japonas. A chuva também não tem dado trégua. Desde agosto, tem chovido a cântaros, de encher as represas das grandes usinas hidrelétricas. Ontem ainda, tivemos mais um dia de tempo embrumado, chuvoso, meio friorento e nada primavera. Hoje, parece que, se não chover também, vamos ter mais um dia nebuloso.

Para os estudiosos, esse desarranjo climático é coisa do aquecimento global causado pela desastrosa ação humana contra a natureza, que vem gerando um perigoso desiquilíbrio ambiental. Preservar o ambiente é uma necessidade que ninguém pode contestar. Afinal, precisamos respeitar a natureza para que ela possa cumprir a sua missão cósmica de nos fornecer água límpida, atmosfera respirável e florestas verdejantes. Só assim teremos vida saudável assegurada, sem as tragédias climáticas que levam sofrimento a tanta gente.

No entanto, esse nosso inverno teimoso e extemporâneo ou essa primavera chuvosa e friorenta não é um fenômeno meteorológico novo. Há 162 anos, o fundador desta cidade escreveu que aqui chegou em 4 de agosto e que, até o final de outubro, frio e chuvas contínuas tinham castigado os colonos pioneiros. Disse ele que as tempestades tinham causado “por duas vezes, o transbordamento do rio Itajaí-Mirim”, cujas águas inundaram ranchos, caminhos e picadas da colônia recém-fundada.

Provavelmente, Schnéeburg e os primeiros colonos enfrentaram um tempo de lestada, que sempre traz um pouco de frio e dias seguidos de chuva. Quem, como eu, conviveu à beira-mar, conhece o ditado que os antigos pescadores das nossas praias tinham escutado dos seus antepassados nas conversas de pescaria: “Tempo de lestada, dias sem parar de chuvarada”.

Se os nossos antepassados conviveram com invernos teimosos em permanecer, então, penso que não se pode atribuir ao aquecimento global esta primavera friorenta e chuvosa. Para os pescadores, certamente, só quando o vento leste deixar de nos trazer chuva frequente e até com um certo frio, teremos o tão esperado e já atrasado tempo primaveril.

Então, a primavera vai chegar para nos trazer manhãs luminosas, tardes quentes sem muito calor, noites frescas e agradáveis. As flores desabrocharão e os pássaros cantarão.

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