Outono 2020 – Tempo de Coronavirus
Pois é. O outono começou na sexta-feira passada e o dia amanheceu como se estivéssemos em pleno verão. Porém, o assunto do momento não é estação do ano nem temperatura elevada. Para todos nós, este será um outono de doença, morte e tristeza, um tempo de humanidade assustada e enclausurada. Um tempo para não esquecer […]
Pois é. O outono começou na sexta-feira passada e o dia amanheceu como se estivéssemos em pleno verão. Porém, o assunto do momento não é estação do ano nem temperatura elevada. Para todos nós, este será um outono de doença, morte e tristeza, um tempo de humanidade assustada e enclausurada. Um tempo para não esquecer jamais. Tudo por causa de uma espécie de coronavirus surgido na China, que assumiu a forma de uma nova gripe, a Covid-19 para contagiar e confinar a população de Whuan.
A partir daí, esse parasita do mal sobrevoou os oceanos nas asas dos aviões, cruzou os mares nos cascos dos transatlânticos, incrustrado nos pulmões da gente de negócios, dos turistas que andaram por terras chinesas e se espalhou rapidamente pela aldeia global em que vivemos. Cumprindo desígnios da lei natural, a foice sinistra da terrível gripe golpeia, principalmente, idosos já fragilizados e vem deixando medo e morte no seu tenebroso rastro de dor e sofrimento.
Estranha coincidência ou aviso sobrenatura, na lente poderosa do microscópio, o vírus tem a forma de uma coroa. Talvez, porisso, do seu trono de maldade, esse invisível soberano das profundezas das trevas tenha surgido para implantar seu reino de terror e morte sobre seus desvalidos súditos humanos, há muito se imaginando pequenos e grandes deuses por conta do avanço tecnológico e dos milagres da cibernética.
No Brasil, a doença já mostrou a sua tenebrosa face em todas as regiões do país. País continental, felizmente, o maldito vírus ainda não chegou à grande maioria das nossas comunidades. No entanto, o medo tomou conta de todos nós, com autoridades decretando estados de emergência e de calamidade pública para enfrentar um flagelo epidêmico, que se imaginava banido da história da humanidade.
Então, estamos todos confinados, isolados, em quarentena, numa espécie de prisão domiciliar, como nos tempos medievais de peste ceifando populações de cidades e aldeias inteiras. Agora, ao menos por alguns dias, até que a poeira da doença e da morte baixe e deixe ver o tamanho do estrago causado pela Covid-19, é viver e refletir sobre este sinistro tempo de cólera trazido pela força inexorável da natureza.
Há muitos anos, li o excelente romance, A Peste, de Alberto Camus e a memória já não me permite lembrar detalhes dessa impressionante e fantástica obra. Lembro do médico Bernard Rieux e do misterioso Jean Tarrou, do padre Paneloux, do jornalista Rambert, e do operário Joseph Grand, personagens principais vivendo o drama da população de Oran, cidade argeliana tomada pela peste bubônica, transmitida por uma horda interminável de ratos infestados.
Ao final de sua obra, profetizando uma triste verdade, Camus escreve que a peste sempre volta. E aí está a profecia se concretizando. Mas, sem ratos e, sim, nas asas de morcegos e sob as escamas do exótico pangolim, perigosa iguaria da culinária chinesa. Sob o espectro de uma contagiosa e letal gripe, aí está a Covid-19 causando um flagelo global e aterrorizando uma humanidade ainda à procura da felicidade sem tristeza, sem dor e sem sofrimento.