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Pão nosso de cada dia. Parabéns, padeiro!

Está escrito na Bíblia que o ser humano comerá o pão com o suor do seu rosto. Este é o mandamento divino, nem sempre cumprido, muitas vezes ignorado por homens fracos de espírito, fortes de ambição e esperteza sobrando. E a realidade, longe da prescrição bíblica, nos mostra muita gente comendo o melhor pão sem […]

Está escrito na Bíblia que o ser humano comerá o pão com o suor do seu rosto. Este é o mandamento divino, nem sempre cumprido, muitas vezes ignorado por homens fracos de espírito, fortes de ambição e esperteza sobrando. E a realidade, longe da prescrição bíblica, nos mostra muita gente comendo o melhor pão sem fazer qualquer força.

Na Roma Antiga, pão e circo foi uma frase que marcou a história do mais poderoso império do seu tempo. Na verdade, os governantes doavam farinha de trigo e a plebe faminta é que fazia o seu pão em casa. Quase na mesma época, os cristãos começaram a rezar para pedir o “pão nosso de cada dia”. Bem mais tarde, durante a Revolução Francesa, o povo nas ruas, revoltado, gritava por pão para matar a fome. Então, o governo francês criou o “pão da igualdade”, a famosa baguete, com cumprimento, largura e peso previsto em lei.

Como se vê, o pão se tornou símbolo e sinônimo do próprio alimento humano. Estudiosos informam que a história desse emblemático alimento começa na Babilônia, com a produção dos primeiros pães há mais de 11 mil anos. Séculos mais tarde, os egípcios já teriam usado o processo de fermentação e construído fornos para assar o pão de trigo, mais ou menos como conhecemos nos dias de hoje.

Claro que, hoje, tudo é feito de forma muito mais sofisticada, com farinhas refinadas, ingredientes mais apurados, fornos eletrônicos e com profissionais qualificados em cursos de culinária, seguindo a receita da mais avançada tecnologia de alimentos. Mas, é o mesmo pão feito com os três elementos básicos, o trigo, a água e o calor para assar, que alimentou a humanidade, desde a Babilônia até os nossos dias.

De Tijucas, ainda guri, guardo a lembrança de minha mãe e de outras donas de casa da vizinhança a cuidar da prole sempre numerosa, a realizar o fatigante trabalho doméstico e a enfrentar o calor escaldante dos fornos a lenha para fazer o pão com o suor de seus rostos. Lembro, também, a passar pela rua Nova, a carroça tipo charrete do padeiro ambulante. Na parte traseira, a carroçaria de madeira, uma caixa quadrada, dividida em duas partes e duas tampas na parte superior, onde viajava o pão.

Da nossa Brusque, quando aqui cheguei no começo dos anos de 1970, lembro das poucas e tradicionais padarias. E, principalmente, dos fornos a lenha, construídos em tijolos fora da casa, onde era assado o pão caseiro para toda a semana, tradição secular que o progresso transformou em cinzas. E por que tudo muda, hoje, Brusque dispõe de modernas panificadoras, que são também confeitarias e lanchonetes.

A verdade é que, sem esse alimento quase sagrado, provavelmente o ser humano não teria superado os perigos e ataques (pestes, guerras, secas), que sempre ameaçaram a sua perigosa e nem sempre pacífica caminhada pela sobrevivência da nossa espécie. E não estaríamos, aqui, vivendo neste tempo de pós-modernidade.

Nesta quarta-feira, Dia do Padeiro, dedico esta crônica a todos esses valiosos profissionais que, da madrugada até a noite, trabalham duro em frente ao forno ardente para fazer o pão nosso de cada dia.