Queda das máscaras e viagens mil
Na semana passada fui a São Paulo. Em pleno mês de agosto, vi salas dos aeroportos e aviões lotados, sinal claro de que a pandemia não nos obriga mais a viver em casa, isolados. Agora, sem medo do terrível inimigo patogênico, todo mundo quer viajar, botar o pé na estrada por este imenso Brasil de belezas mil. Muitos vão mais longe, além das fronteiras pátrias. Sem preocupação com o valor do dólar ou do euro nas alturas, cruzam o Atlântico para andanças turísticas em terras europeias ou norte-americanas, porque passaporte carimbado no estrangeiro é sinal de status social.
Brasileiro é assim mesmo. Reclama da situação do país, da inflação, do custo de vida e da passagem aérea – de ônibus ninguém mais quer andar – da cotação do dólar, mas sempre dá um jeito de fazer uma viagem para qualquer lugar. De preferência, quanto mais longe melhor porque mais histórias e anedotas turísticas terá para contar. Isso, os brasileiros que podem, verdadeiros privilegiados sempre a reclamar da situação.
Desde março, podemos frequentar qualquer lugar público fechado: lojas, restaurantes, bares, templos, farmácias e até hospitais, sem a obrigatoriedade do uso de máscara. Assim, já acostumado a andar de cara livre, quase não consegui viajar. Havia esquecido que a Anvisa, essa Agência saída do armário para mostrar serviço durante a calamidade sanitária, ainda exigia máscara até a semana passada para se ingressar nas salas de espera dos aeroportos e nos aviões.
Dois dias depois da minha volta, as máscaras caíram de vez. Não sei se alguma universidade federal, espaço feudal dos caprichos e privilégios da doutorada nobreza acadêmica, ainda insiste em ser um reduto de mascarados que não veem hora de se libertar da focinheira. Pode ser, porque os dirigentes dessas instituições de ensino financiadas pelo dinheiro do contribuinte têm os seus caprichos acadêmicos, que a nossa razão sem pós-doutorado não consegue entender.
De médico, poeta e louco, todos têm um pouco, diz conhecido ditado popular. Pori sso, arrisco a dizer que a Covid-19 veio para ficar e com ela vamos ter que conviver. Por quanto tempo ainda, não se sabe. Vai depender das vacinas e da capacidade de mutação e resistência do próprio vírus. Dessa forma, a queda das máscaras parece-me uma medida sensata. Seu uso será facultativo e cada cidadão, se assim quiser, terá liberdade de cobrir a cara para prevenir a doença ou esconder a estética facial.
O fato é que o tempo tenebroso de sofrimento, tristeza, dor e afastamento, já passou. Agora, todos livres, é roda nos pés para cruzar os limites do quintal e sair mundo afora. E quanto mais longe se puder chegar, melhor.