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Ruas asfaltadas, calçadas mal cuidadas

Na minha idade, sinto que caminhar é viver. Afinal, pode ser pleonástico dizer, mas só quem é vivo e com saúde pode caminhar. Não me acostumei com a academia, moda que hoje faz a cabeça de muita gente. Mesmo que malcuidadas, prefiro caminhar pelas calçadas das ruas de nossa cidade. E, a cada caminhada, fica […]

Na minha idade, sinto que caminhar é viver. Afinal, pode ser pleonástico dizer, mas só quem é vivo e com saúde pode caminhar. Não me acostumei com a academia, moda que hoje faz a cabeça de muita gente. Mesmo que malcuidadas, prefiro caminhar pelas calçadas das ruas de nossa cidade. E, a cada caminhada, fica mais evidente que vivemos o tempo do Senhor automóvel, cuja marca, quanto mais sofisticada é indicador seguro do status social e da capacidade financeira do cidadão.

Infelizmente, nesta cidade de quase um veículo por habitante, poucos são aqueles que saem de suas casas ou do trabalho sem tomar assento diante do volante ou sem montar numa motocicleta, de preferência com o escapamento aberto, porque barulho e poluição sonora rimam com velocidade e imprudência. Não é só em Brusque. Neste Brasilis Automobilísticus, cidade é sinônimo de ruas sempre tomadas pelo automóvel e sua companheira de duas rodas, a motocicleta.

Para o senhor automóvel, o paralelepídedo um dia foi sinal de progresso urbano, o paralelepídedo está ultrapassado. Faz barulho, faz a lataria bater e o volante trepidar nas mãos do condutor. Porisso, nesta terra de mudanças sem fim, não tem mais lugar para essas pedras cortadas uma a uma, talhadas na dureza eterna do granito roubado das encostas da Serra do Mar por mãos calejadas e mal pagas, de dorsos doloridos e envergados dos cantareiros de marreta e picão. E assim, o paralepípedo está sendo descartado, pois o soberano motorizado de quatro rodas precisa trafegar num autêntico tapete negro, sem buracos nem rachaduras. Se possível, sem sinaleira.

Afinal, se esta sociedade do século 21 ainda persiste em praticar o culto ao automóvel e à sua companheira motocicleta, é preciso admitir que quem reina merece se deslocar com todo o conforto, toda a segurança, livre e em alta velocidade, como se seus condutores estivessem fugindo do diabo ou de alguma assombração. Infelizmente, muitos condutores desses bólidos motorizados gostam também de fazer um barulho infernal que agride e irrita os nossos tímpanos.

Antigamente, a calçada era espaço congestionado, disputado por gente movimentando-se em todas as direções. Era um vai-e-vem contínuo de gente, uns apressados e outros nem tanto, caminhando lentos, olhando paisagem. Neste tempo intensamente automotorizado, as ruas estão desertas. Fora três ou quatro vias públicas centrais, nas ruas de nossa cidade podemos caminhar livres solitários porque pedestre é ave rara.

Mas, infelizmente, para o pobre e solitário caminhante sobraram calçadas irregulares, esburacadas, muitas vezes tão inclinadas que andamos adernados, quase caindo sobre o meio-fio e a sarjeta do negro tapete asfáltico.