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Sala de emergência

Não é só a Covid. Envelhecemos e a doença aparece para nos fazer uma indesejada visita. Meu coração de muitas décadas vividas, mesmo com as pílulas de cada dia, saiu do ritmo e me deixou assustado. Acabei internado por três dias no Hospital do Coração, mas já estou de volta com a saúde que me […]

Não é só a Covid. Envelhecemos e a doença aparece para nos fazer uma indesejada visita. Meu coração de muitas décadas vividas, mesmo com as pílulas de cada dia, saiu do ritmo e me deixou assustado. Acabei internado por três dias no Hospital do Coração, mas já estou de volta com a saúde que me é permitida, nessa avançada idade da minha vida.

Ser internado, não é fácil, principalmente, neste tenebroso tempo de coronavírus e pandemia. Para começar, manda o protocolo médico, o paciente deve passar por uma triagem preliminar. Uma atenciosa enfermeira mede a febre e a pressão, põe aquele dedal eletrônico num dos dedos para ver, diz ela, a taxa de oxigenação e tira o sangue para os exames que forem indicados. Só depois, você estará preparado para ver o médico plantonista. No meu caso, uma cardiologista que não me deixou desistir de ali continuar.

Em seguida, me colocaram na sala de emergência, onde permaneci por cinco horas à espera de um quarto e, enfim, de um leito para repousar. Embora real, o cenário, é claro, não podia ser agradável. Luz quase na penumbra, uma TV ligada sem áudio para não perturbar, ali estavam mais de meia dúzia de pacientes necessitando tratamento de urgência. Eletrônica a serviço da Medicina moderna, estávamos todos conectados a um monitor, a sua tela a mostrar os sinais vitais de uma saúde cada vez mais dependente do mundo virtual.

Estirado numa poltrona, pude observar os meus aflitos companheiros emergenciais, cada um com as suas angústias e dramas diante da doença. Ao meu lado, conectado a um frasco de soro como todos nós, um jovem na casa dos 40 anos, como eu também com problema cardíaco. Apesar da dificuldade e limitações impostas pelos fios da sua conexão aos dos instrumentos eletrônicos, falava ao celular, esse esperto aparelho que nos acompanha dia e noite, mesmo na maca de uma sala de emergência. Dizia ele, para uma pessoa amiga ou da família, que já estava bom, que queria ir para casa comer uma feijoada e tomar uma cerveja.

À minha frente, um doente mais velho que parecia com câncer. Assim deduzi pelos gemidos e gritos que, de vez em quando, ecoavam pela sala. Ao seu lado, uma jovem incansável nos cuidados que dispensava ao pai, cena rara de se ver nos dias de hoje quando os asilos, agora eufemisticamente chamados de “casas de repouso”, parecem ser o destino dos idosos.

Dois ou três jovens haviam chegado intoxicados pela bebida ou pela comida. São as vítimas comuns do pecado da gula que nos leva a comer e a beber exageradamente, numa ação cujo prazer, se é que existe, só o masoquismo poderá explicar.

Aquelas cenas me levaram a refletir sobre a fraqueza e a fragilidade do ser humano diante da doença que nos assusta, nos causa sofrimento e sempre nos enche de tristeza. E também sobre a coragem e valentia quando sentimos que o mal passou.