Vai Covid-19, só nos resta a esperança!
Nunca imaginei que a Covid-19 nos deixasse de quarentena por tanto tempo. A gripe espanhola que, em 1918, matou mais de 50 milhões de pessoas durou menos de dois meses. Após os primeiros casos, o contágio logo se intensificava para fazer as pessoas ferverem de febre asfixiante e levar muitas delas ao cemitério. Cumprida a sua sinistra missão de causar sofrimento e morte, o vírus da influenza espanhola sumia nos ares das cidades infectadas, deixando as populações a chorar os seus mortos.
Agora, é diferente. Quatro meses se passaram e o nefasto coronavírus teima em permanecer entre nós, para nos causar medo, afastar dos amigos, até dos familiares e espalhar a morte a cada dia. Em abril e maio, o foco da doença estava no Norte e Nordeste. Sem vacina, sem medicamento eficaz, sem hospitais nem UTIs, a Covid-19 se espalhou pela cidade de Manaus e outras capitais, infectando milhões de pessoas. Tantas foram as mortes que as imagens dos cemitérios e das holocáusticas covas coletivas chocaram o mundo inteiro.
Depois, mesmo sem mudança significativa na prática do afastamento social, a doença arrefeceu e continua em queda. Como explicar essa tendência, que parece estar se consolidando? Pegos no contrapé do seu discurso apocalíptico, cientistas e arautos do confinamento permanente e surrealista prenunciaram novos picos da pandemia que, felizmente, não aconteceram.
Agora, o foco da doença está no Centro-Oeste, região que se pensava longe o suficiente para ficar livre do mal. Mas, num mundo globalizado, ninguém vive isolado. O Sul é também a bola da vez desse fatídico sinuca pandêmico. Nós, catarinenses, vistos como exemplo de disciplina, de afastamento social e de prevenção contra a ação contagiante do vírus, somos agora os escolhidos para ferver de febre, alguns desafortunados para pagar com as suas vidas o preço exigido por esse emissário das trevas.
Passados mais de quatro meses, esses são os fatos, essa é a nossa realidade sanitária provocada pela Covid-19, porque a moderna ciência médica capaz de curas milagrosas, infelizmente, não tem tratamento eficaz para enfrentar essa nova doença infecciosa. Não consegue nem explicar o estranho deslocamento desse vírus coroado, muito menos essa misteriosa geografia epidemiológica. Ontem, lá, hoje, aqui.
Neste começo de século 21, temos organização mundial de saúde, SUS, planos de saúde e UTIs, temos antibiótico que faz milagres, medicina nuclear, eletrônica e robótica. E, no entanto, estamos vivendo um tempo de afastamento, de medo e de incerteza torturante. Tudo porque a ciência médica não consegue entender, muito menos dominar, esse terrível deus das trevas, chamado coronavírus.
Na verdade, estamos todos navegando num barco cujo porto seguro, a vacina, parece longe de ser alcançado. Até lá, é torcer para que a história venha a se repetir e que, como aconteceu em 1918 com a gripe espanhola, esse tenebroso coronavírus também desapareça nos ares das nossas cidades. Afinal, se a ciência médica não nos oferece remédio nem explicação, só nos resta a esperança, a última que morre.