Bolsonaro e a gripezinha
Com esse Congresso Nacional, não é fácil governar o Brasil. Mas, passados 14 meses, já se pode constatar o despreparo de Jair Bolsonaro. Muitos têm sido os seus equívocos, tanto na área política quanto econômica. São decisões precipitadas, mal encaminhadas, equivocadas que precisam ser corrigidas ou revogadas. E o resultado tem sido o desgaste constante do atual presidente, que chegou ao poder para recuperar uma nação em profunda crise econômica, política e ética.
No ano passado, como sempre, veio o tempo das queimadas no Centro Oeste e do desmatamento da floresta amazônica. E o que se viu foi destempero, declarações grotescas, posições dúbias e divorciadas dos fatos, discussões despropositadas com técnicos e cientistas da área ambiental. O despreparo presidencial chegou ao cúmulo de Bolsonaro criar sérios atritos com governantes europeus e de fazer referência vulgar à mulher do chefe de Estado francês, como se para governar fosse necessário ter mulher bonita. Só depois de muita trapalhada e devastação é que o governo decidiu tomar as indispensáveis medidas de combate aos incêndios e ao desmatamento.
Agora, estamos vivendo esse tempo tenebroso de medo, doença e morte. E, novamente, em vez de se conduzir como principal dirigente da nação, Jair Bolsonaro tem demonstrado evidente incompetência para administrar a grave pandemia trazida pelo coronavírus. É inconcebível o comportamento do nosso presidente diante da pandemia.
Em vez de tomar medidas efetivas e coordenadas para enfrentar a doença, prefere ironizar dizendo que não passa de “uma gripezinha”. Acusa os meios de comunicação de estarem numa cruzada contra o seu governo. Sem base científica nem justificativa convincente, contesta as orientações das autoridades mundiais sobre a conveniência do isolamento social. Pior, desautoriza os seus próprios ministros. Não satisfeito, se indispõe com governadores e prefeitos, mesmo que alguns deles tenham se equivocado ou exagerado nas medidas de combate à doença.
Jair Bolsonaro parece aquele mesmo capitão que se rebelou contra a disciplina, a ordem e a hierarquia do seu exército. Agora, no comando do país, quando todos os brasileiros são convocados ao confinamento em suas casas e a nação contagiada pela doença espera que cada um cumpra o seu dever para combater a doença, Bolsonaro parece sentir prazer sádico em contrariar as regras da ciência médica, dos seus próprios ministros e do bom senso.
Acompanhado do seu séquito de seguranças, assediado por repórteres ávidos de notícias polêmicas, prefere caminhar pelas ruas de Brasília, apertar as mãos de simpatizantes, com eles tirar fotos de demagogia vulgar e assumir o risco criminoso de semear o vírus entre o seu próprio povo.
A sua pátria amada, que é a de todos nós e que ele tanto enaltece em suas truncadas falas, à deriva e indignada, não merece tamanha insensatez.