Jogadores e funcionários do Brusque reivindicam pontos perdidos em caso de racismo
Em coletiva de imprensa, Edu leu um manifesto assinado por 60 pessoas que trabalham no clube
Os jogadores do Brusque convocaram uma coletiva de imprensa no início da tarde desta terça-feira, 26, para reivindicar os pontos perdidos pelo clube no caso de racismo contra o meia Celsinho, do Londrina, ocorrido entre 28 e 30 de agosto. A punição foi definida pela quinta comissão disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), e tem recurso a ser julgado.
Edu abriu a coletiva com um pronunciamento reafirmando o compromisso dos jogadores e funcionários contra o racismo. O documento foi assinado por 60 pessoas, entre atletas, comissão técnica e funcionários do clube.
Respondendo às perguntas dos jornalistas, o capitão Thiago Alagoano, o atacante Edu e o zagueiro Sandro se manifestaram afirmando que a punição de três pontos não afeta os responsáveis pelo caso de racismo. Perguntados sobre qual seria a punição ideal para responsabilizar o clube pela nota que minimizava o caso e insinuava oportunismo por parte de Celsinho, o zagueiro Sandro afirmou que as medidas suficientes foram tomadas internamente.
O Brusque abriu a 32ª rodada da Série B e está com 35 pontos, na 16ª posição, com um jogo e três pontos a mais que o Londrina, 17º colocado. Sem a punição, teria o dobro da vantagem. Depende de si mesmo para escapar do rebaixamento, com seis jogos pela frente diante de Náutico, Confiança, Cruzeiro, CRB, Operário e Goiás.
Assista à coletiva na íntegra:
O caso
Na partida Brusque 0x0 Londrina, em 28 de agosto, pela 21ª rodada da Série B, o presidente do conselho deliberativo do clube, Júlio Petermann, gritou “vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha” para Celsinho, jogador que usa um corte de cabelo black power. Esta ofensa foi registrada em súmula. Na entrevista pós-jogo, Celsinho afirmou ter ouvido a ofensa racista “macaco”.
Dois dias depois, no domingo, 30, o Brusque emitiu nota oficial, sem assinaturas nominais, minimizando Celsinho, referindo-se ao jogador como “reserva do Londrina” e negando qualquer caso de racismo, mas confirmando a ofensa relatada na súmula. Outro ponto foi a dúvida levantada sobre a veracidade de dois casos, nos quais radialistas de Goiânia e Belém ofenderam Celsinho de forma semelhante, em transmissões ao vivo.
Na nota, constava também que o Brusque tomaria “todas as medidas cabíveis para a responsabilização do atleta pela falsa imputação de um crime”, encerrando com o trecho “racismo é algo grave e não pode ser tratado como um artificio esportivo, nem, tampouco, com oportunismo.”
A repercussão nacional da nota foi péssima para a imagem do clube, que chegou a ter uma empresa anunciando a suspensão de seu patrocínio, retomado semanas depois. No dia seguinte, segunda-feira, 1º de setembro, uma segunda nota, desta vez assinada pelo presidente Danilo Rezini, falava em valores de respeito e inclusão, pedindo desculpas pelo que o clube passou considerar “um posicionamento equivocado”.
Na terça-feira, 31 de agosto, o Londrina publicou em suas redes sociais um vídeo com um trecho da partida contra o Brusque, alegando que a ofensa “macaco” foi gritada no início do segundo tempo.
O julgamento em primeira instância, pela quinta comissão disciplinar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), foi realizado em 24 de setembro. O Brusque foi punido com a perda de três pontos e multa de R$ 60 mil, enquanto Júlio Petermann foi multado em R$ 30 mil e suspenso por 360 dias.
Quanto ao vídeo publicado pelo Londrina alegando a ofensa racista “macaco”, o perito Valdecir Figueiredo, contratado pelo Brusque, não identificou a palavra nos registros audiovisuais do jogo, nem mesmo no publicado pelo Londrina. Assim, este elemento passou a ser desconsiderado. De qualquer forma, os auditores reprovaram veementemente o comportamento do presidente do Conselho Deliberativo e o clube enquanto instituição, especialmente em relação à primeira nota oficial sobre o caso.
A defesa do Brusque pediu suspensão das penas acordadas pela quinta comissão disciplinar até o julgamento do recurso. O relator do processo, Maurício Neves Fonseca, concedeu o efeito suspensivo sobre as multas, mas não sobre perda de pontos. O despacho foi liberado em 8 de outubro.
O julgamento do recurso no Pleno do STJD ainda não tem data anunciada publicamente.