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Jonas Paegle: “Me empolguei demais e depois vi tudo amarrado”

Prefeito de Brusque fala das dificuldades do seu primeiro semestre à frente da prefeitura

O prefeito Jonas Paegle herdou a campanha do PSB quando Ciro Roza foi impedido de concorrer pela Justiça Eleitoral. Liderou com folga as pesquisas de intenção de voto, com sua vitória se confirmando com facilidade nas urnas.

Depois da empolgação da vitória, Paegle convive agora com a realidade da administração pública. Em entrevista a O Município, ele cita a decepção que teve com o ritmo lento que as coisas andam no setor público, sobretudo as longas licitações que precedem qualquer obra.

“Eu tinha um espírito diferente, tem que agir, fazer na hora. Quando chega aqui, é lei aqui, lei lá, para aqui, segura lá, é licitação, é pregão, um perfil completamente diferente”.

Paegle também diz que tem sido surpreendido toda semana com fatos de governos anteriores que estão caindo sobre seu colo.

“Convênios feitos no governo passado que não foram cumpridos, e nós estamos sendo penalizados”, diz.

Cita, por exemplo, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) financiada pelo governo federal, localizada no bairro Santa Terezinha, que não foi adiante.

“Eu tinha um espírito diferente, tem que agir, fazer na hora. Chega aqui é lei aqui, lei lá, para aqui, segura lá, é licitação, é pregão, um perfil completamente diferente”

“Estive em Brasília e o ministro foi incisivo: o senhor faz um inventário e vai notificar os prefeitos que o antecederam, senão o senhor vai ser penalizado, já era para estar funcionando [a UPA]”, diz o prefeito, que cita outros exemplos.

“Esses dias o Tribunal de Contas me cobrou uma prestação de contas da Fenarreco em 2013, eu fui autuado. Tivemos que correr atrás de números e dados, não tinha notas. Essa parte administrativa prende muito a gente”, relata.

O prefeito também se decepcionou com a promessa de verbas do governo federal para reparar danos das cheias do começo do ano. Ele esperava R$ 2,5 milhões para indenização aos moradores do bairro Nova Brasília. Conseguiu a promessa de R$ 300 mil, que ainda não vieram.

Para ele, entretanto, “o governo está indo bem”, diante das dificuldades administrativas.

“É claro que vai ter oposição, sempre tem aquele que é dodói, que é mais explosivo, que quer atacar. A gente vai enfrentar todo tipo de situações no município”.

Nessa entrevista, ele comenta os principais fatos que marcaram os seis primeiros meses do governo. Aliás, trata-se de uma das raras entrevistas concedidas pelo prefeito, que justifica a sua preferência por se manter longe dos holofotes.

“É claro que vai ter oposição, sempre tem aquele que é dodói, que é mais explosivo, que quer atacar. A gente vai enfrentar todo tipo de situações no município”

“Eu sou médico por 45 anos, o médico é mais analítico, não toma decisões graves, não entra em furdunço, brigas”. Segundo ele, a comunicação do governo está mais centrada no vice-prefeito, Ari Vequi, porque ele tem mais facilidade, em virtude da agenda administrativa mais apertada do prefeito. “Ele representa a minha ideia”, diz, sobre o vice.

Paegle também justifica outro fato pelo qual frequentemente é cobrado, o não comparecimento em alguns eventos do município.

“Tenho muitos compromissos que sou obrigado a ir, teve dias em que tive três compromissos no mesmo horário”.

Maiores dificuldades
Paegle diz que a maior surpresa que teve, ao assumir a prefeitura, foi no dia 5 de janeiro, data em que as fortes chuvas causaram estragos em Brusque.

“A maior surpresa foi ir na Secretaria de Obras e estar todo o material sucateado. Quando precisei usar, não tinha patrola, não tinha caçamba, não tinha trator, não tinha nada. Tivemos que licitar, sair correndo atrás de peças”, diz.

Segundo o prefeito, a situação financeira da prefeitura estava em conformidade com aquilo que imaginava, mas a maior dificuldade foi organizar a estrutura administrativa.

Ele diz que, como a cidade teve três prefeitos em um único mandato, a prefeitura estava “em um redemoinho administrativo que tinha de ser brecado”.

Prioridades da administração
O prefeito lista a abertura da margem esquerda da avenida Beira Rio e a ampliação da captação e produção de água na Cristalina como prioridades, em termos de novas obras. Questionado sobre financiamentos para obras, ele cita o Badesc e o Ministério das Cidades como principais fontes.

Segundo Paegle, o município tem condições de pegar empréstimos, porque se trata de recursos a serem pagos em longo prazo.

Paegle diz também que irá tentar cumprir todas as promessas de campanha, que serão previstas no Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes Orçamentárias do município, que estão em execução. “Creio que vamos fazer todas”, diz, sobre as promessas de seu plano de governo.

Empolgação no governo
Questionado se havia algum erro que cometera durante o mandato e que, se pudesse, seria revisto, o prefeito disse que se trata de ter previsto equivocadamente o ritmo de trabalho no governo.

“Eu tinha um plano de ação de resposta rápida, e aqui há essa demora, faço uma autocrítica porque realmente a agilidade não é como a gente quer. Eu imaginava uma coisa e é outra coisa. Foi um erro ter imaginado isso, me empolguei demais e depois eu vi tudo amarrado”.

Segundo ele, as licitações “amarram muito” o trabalho da prefeitura. “Tem várias obras para serem feitas e com as licitações, demora”.

Jonas Paegle diz que não tem problemas com vereadores, apesar de recentemente ter criticado alguns nas redes sociais | Foto: Wendel Rudolfo

Política: “Não tenho nada contra os vereadores”

Recentemente, o prefeito envolveu-se, via redes sociais, em um embate contra alguns vereadores, que criticaram o governo pela condução das obras da ponte do Rio Branco. Apesar disso, ele não vê problemas no relacionamento com o poder Legislativo.

“Todos os projetos têm sido aprovados, não tenho nada contra os vereadores, não acusei nenhum deles, o que falei da ponte foi da ponte, não falei de ninguém”, diz o prefeito, o qual também afirmou que acha que, hoje, conseguiria a aprovação de projetos polêmicos na Câmara.

“O que a gente mandar de projeto é de interesse comunitário, e o vereador tem que defender os interesses da comunidade”.

Vereador na Câmara
Questionado se é contra ou a favor a lei que proíbe vereadores de assumirem cargos na prefeitura, sepultada pelo Legislativo meses atrás, o prefeito é categórico.

“Eu pessoalmente sou contra, fui vereador por dois mandatos, fui convidado a ser secretario, não quis assumir. Porque fui eleito para trabalhar no Legislativo, não ia me meter na parte administrativa”, discursa.

Entretanto, ele tem em seu gabinete José Zancanaro como secretário de Educação, que é vereador eleito. Sobre isso, Paegle justifica como um compromisso firmado antes de ser eleito.

“No palanque assumimos esse compromisso, caiu um pacote no meu colo. Eu era candidato a vereador, tive que assumir um monte de coisas que veio neste pacote. Não deu tempo de visualizar todo esse pacote, é um compromisso de campanha, tem que cumprir”, afirma.

Ciro Roza e Denisio
Sobre a participação de Ciro Roza no governo, Jonas Paegle afirma que ele “não tem nenhuma gerência aqui”.

“Eu considero ele um amigo, tenho um apreço por ele porque renunciou e me convidou para ser candidato a prefeito. Tenho amizade e apreço mas ele não tem nenhuma gerência aqui dentro”.

“Eu considero ele [Ciro Roza] um amigo, tenho um apreço por ele porque renunciou e me convidou para ser candidato a prefeito. Tenho amizade e apreço mas ele não tem nenhuma gerência aqui dentro”

“Não tem gerência nenhuma aqui” foi também a frase utilizada para responder à pergunta sobre o grau de influência de seu genro, o empresário e piloto de rali Denisio Nascimento, no governo, especulação que percorreu os bastidores políticos desde o começo do ano.

Além disso, Paegle rebate as acusações de que outras pessoas têm gerência sobre as decisões do governo, com exceção dele e do vice-prefeito Ari Vequi.

Prefeito diz que há problemas de outros governos que estão aparecendo agora | Foto: Wendel Rudolfo

Gestão: “Não posso fazer uma reforma precipitada”

Durante a campanha eleitoral, Paegle disse que uma reforma administrativa era prioridade para o novo governo. No entanto, mais de seis meses após o início da gestão, ela ainda não foi realizada.

Segundo o prefeito, a reforma só sairá depois que o Plano Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias forem concluídas. “Essa reforma vai vir lá na frente, vai ser uma reforma mais ajustada, não posso fazer uma reforma precipitada”, diz.

O prefeito considera o número atual de funcionários da prefeitura “ideal, por enquanto”.

“O número é ideal por enquanto para tocar a prefeitura. Se for necessário poderá até aumentar, desde que não ultrapasse o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal”.

Ele diz que em setembro de 2016 eram 3.699 funcionários. Hoje, segundo suas contas, são 3.658. “Então se vê que caiu o número, estamos tentando administrar de uma maneira mais enxuta”.

Creches domiciliares
O prefeito diz que se mantém o projeto de implantação de creches domiciliares para ajudar a reduzir o déficit de vagas na educação infantil do município.

Afirma que a prefeitura está estudando projetos, inclusive de casas modulares para construção de novos espaços. Este ano, diz, foram criadas 319 vagas novas, mas a população está aumentando e há migração para o ensino público.

“Muitos pais estão tirando os filhos de creches particulares e colocando na rede municipal. A gente está lutando para tentar resolver o problema das creches”.

Prefeito diz que governo “está indo bem”, apesar das dificuldades administrativas | Foto: Wendel Rudolfo

Esgoto sanitário
Sobre a necessidade de implantação de coleta e tratamento de esgoto sanitário em Brusque, o prefeito reconhece a necessidade, e diz que a prefeitura está trabalhando em um levantamento de custos.

Entretanto, avalia que o eventual alto custo da tarifa deve ser discutido previamente com a população. “É mais uma tarifa. Tem a da água, do lixo, da luz, seria mais uma tarifa que viria cair no colo da comunidade, estamos discutindo para ver a maneira mais barata para a população brusquense”.

Aplicativo da Defesa Civil
Paegle anunciou que o município pretende criar um aplicativo de celular e um software para que a Defesa Civil e a população possam acompanhar o nível do rio com mais precisão. Segundo ele, isso está sendo desenvolvido e deve ser anunciado nos próximos meses.

Recapeamento asfáltico
O prefeito também anunciou que em breve será feito o recapeamento asfáltico de diversas ruas do município, com asfalto produzido na usina municipal, que segundo ele está em plena operação. “Vamos fazer um recapeamento de muitos quilômetros, com asfalto produzido na nossa usina, que vai ser bem mais barato, não tenho dúvida”.