Jornadas de junho: protestos que tomaram ruas de Brusque em 2013 completam dez anos

Porta-voz das manifestações na cidade avalia mudanças após uma década de mês histórico para política brasileira

Jornadas de junho: protestos que tomaram ruas de Brusque em 2013 completam dez anos

Porta-voz das manifestações na cidade avalia mudanças após uma década de mês histórico para política brasileira

Junho de 2013 é um mês marcado na história da política brasileira. Vestindo as cores verde e amarela, manifestantes foram às ruas com uma série de pedidos. Em Brusque, a onda de protestos também foi sentida. Os movimentos não tinham líderes, somente porta-vozes.

As manifestações pelo Brasil ficaram conhecidas como jornadas de junho. Nelson Diego Mafra, hoje com 33 anos, foi um dos personagens que atuou fortemente nos protestos. Ele diz que não se arrepende de ter sido um dos porta-vozes das manifestações que tomaram as ruas de Brusque.

Apesar de não se arrepender das atitudes tomadas, Nelson entende que poderia ter feito mais na época, participando mais diretamente da política. Ele nunca foi filiado a partidos. Naquela ocasião, recebeu convites e rejeitou todos.

“Eu e o pessoal estávamos tão saturados com a questão partidária que eu declinei de todos os convites. Não queria tomar lado nenhum. O nosso foco maior era despertar o interesse das pessoas”, afirma Nelson.

Hoje com 33 anos, Nelson recorda movimento e diz que não se arrepende. Foto: Thiago Facchini/O Município

No Brasil, as manifestações iniciaram com o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo, encabeçadas pelo Movimento Passe Livre (MPL). Depois, diversos assuntos entraram na pauta e os protestos tomaram o país.

Notícias relacionadas às jornadas de junho apareceram seis vezes na capa do jornal O Município durante o mês. A primeira vez foi no dia 18 de junho, em que foi dado destaque aos protestos em Brasília, com o título “Brasileiros tomam as ruas do país”.

Nelson considera que as manifestações tiveram ganhos ao Brasil quando se trata de despertar o interesse das pessoas pela política. No entanto, ele avalia que os protestos foram banalizados com o surgimento dos extremismos.

“Os protestos hoje se definem basicamente na direita protestando contra tudo que a esquerda propõe e a esquerda protestando contra tudo que a direita propõe. Na época, não era assim. Cada um tinha seu viés político, mas deixávamos claro que não era para expor. Um lema que tínhamos era não aceitar nada de políticos”.

Ele relata ainda que, em Brusque, alguns vereadores tentaram “surfar na onda”, conforme define. O objetivo da tentativa dos políticos era discursar em palanques dos protestos. Porém, os manifestantes não aceitaram as “ajudas”.

“Tivemos benefícios a curto prazo [com os protestos], porém, olhando o cenário como todo, vejo que houve uma ‘profissionalização’ por parte dos políticos. Nossos políticos ficaram mais espertos. A população ficou mais atenta. Os políticos, por consequência, ‘subiram um nível’ também”, considera.

Brusque vai às ruas

As manifestações iniciaram em Brusque no dia 21 de junho de 2013, uma sexta-feira. O pequeno grupo, formado por cerca de 50 pessoas, já sinalizava o que estava por vir. “Sábado vai ser maior”, disse um manifestante.

O protesto, que aconteceu em frente à Prefeitura de Brusque, foi tratado como um “ensaio” dos protestos anunciados para o dia seguinte. Com um megafone, o jovem manifestante Nelson, na época com 23 anos, dava as orientações.

“Estamos aqui para trocar ideias, definir como será o protesto de sábado e debater nossas demandas”, disse Nelson ao jornal O Município. Assuntos relacionados a Brusque também foram discutidos, como o transporte coletivo.

A situação do Hospital Azambuja e as prioridades de votação da Câmara de Vereadores também eram demandas em pauta na cidade. Entre os assuntos nacionais, os manifestantes eram contrários às PECs 33 e 37 e ao então presidente do Senado, Renan Calheiros.

Estreia dos protestos em Brusque ocorreu em frente à prefeitura. Foto: David T. Silva/Arquivo O Município

“Dia D”

No sábado, dia 22, chegou o “dia D” das manifestações em Brusque. Segundo reportagem de O Município na época, 6 mil pessoas foram para as ruas da cidade. O ponto alto dos protestos foi quando os manifestantes chegaram na prefeitura.

O primeiro grupo chegou à avenida Lauro Muller por volta das 10h. Quando o relógio marcava 10h47, a avenida já estava tomada pelos manifestantes, que gritavam “Vem pra rua, vem”.

Em seguida, eles foram até à ponte estaiada, cartão postal de Brusque, e sentaram sobre a estrutura. Os manifestantes gritavam palavras de ordem. A maior parte do grupo chegou em frente à prefeitura às 11h39. Os protestos na cidade foram divulgados por estudantes no Facebook.

O prefeito interino de Brusque na época, Evandro de Farias, o Farinha, avaliou como positivo os protestos no município. Ele considerou que o descontentamento com os rumos do país faz parte da democracia.

“Foi uma manifestação pacífica e organizada, em que não houve violência nem depredação do patrimônio público. Com o foco mantido, este manifesto demonstra que as pessoas não estão contentes com o país, e isso é democracia”, disse o então prefeito interino.

Em frente ao prédio do Executivo, manifestantes cantaram: “O povo unido protesta sem partido”. Uma banda tocou também a música “Que país é esse?”, do Legião Urbana. Cartazes foram deixados em frente à Câmara de Vereadores.

Manifestantes fecharam ponte estaiada durante caminhada rumo à prefeitura. Foto: David T. Silva/Arquivo O Município

O grupo começou a se dispersar por volta de 13h. Enquanto alguns manifestantes permaneceram na praça Sesquicentenário, outros foram até a praça Barão de Schneeburg e fecharam a avenida Cônsul Carlos Renaux. O protesto se encerrou por volta das 13h45.

Voz na Câmara

O primeiro ato público depois do grande protesto ocorreu na sessão da Câmara do dia 25 de junho, três dias após o ato pelas ruas brusquenses. Os manifestantes entraram quietos na sessão e assim permaneceram por 15 minutos, até que, em coro, gritaram: “O povo quer falar”.

O vereador Valmir Ludvig, que presidia a sessão, permitiu que um dos representantes falasse. O escolhido foi Nelson. Ludvig considerou a fala legítima e, após o discurso, afirmou que iria atender ao pedido dos manifestantes. No final, todos cantaram o hino nacional.

Nelson discursou na tribuna da Câmara; ato contrariou regimento interno da Casa. Foto: Aline Camargo/Arquivo O Município

No dia seguinte à sessão, os manifestantes pararam o trânsito do Centro e cobraram que as propostas entregues na Câmara saíssem do papel. No quarto ato público, cerca de 50 pessoas foram às ruas.

O grupo, muito menor que o público presente no sábado, teve que improvisar para parar o trânsito. Eles deram as mãos e formaram um círculo que obstruiu o início da rodovia Antônio Heil. Alguns motoristas ficaram impacientes e tentaram furar o bloqueio.

A marcha continuou sentido cruzamento da avenida Lauro Muller com a rua Pedro Werner. Quando chegaram no local, formaram um círculo. Depois disso, um dos manifestantes leu um texto escrito por eles mesmos. Trata-se do último ato registrado no mês de junho.

Manifestação menor ocorreu após protesto na Câmara de Brusque. Foto: David T. Silva/Arquivo O Município

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