Jornal O Município deu início à campanha para construção da rodovia Antônio Heil
Páginas do jornal serviram de espaço para reivindicar a ligação de Brusque com o litoral, contribuindo para o desenvolvimento da cidade
“Pugnar constante e ininterruptamente, pelo progresso do município de Brusque e pelo bem estar do seu povo”. Foi com essa missão que Raul Schaefer e Guilherme Renaux fundaram o jornal O Município, em 26 de junho de 1954.
Ao longo dessas sete décadas, o jornal se manteve firme no propósito de seus fundadores, buscando a cada edição, dar sua contribuição para o desenvolvimento de Brusque e região.
Em 70 anos de história, suas páginas noticiaram várias conquistas, mas principalmente, serviram de espaço para cobranças, em busca de melhorias em benefício de toda a população.
Uma das lutas mais emblemáticas encampadas pelo jornal ao longo desses 70 anos foi pela construção de melhores estradas de acesso a Brusque. A necessidade de construção do que hoje conhecemos como rodovia Antônio Heil, que liga a cidade à BR-101, e da rodovia Ivo Silveira, entre Brusque e Gaspar, foi tema de muitos artigos e reportagens em tom de cobrança, principalmente do fim da década de 1950 até meados dos anos 1970.
Em dezembro de 1957, o artigo “Nossas estradas…uma calamidade” destacou as más condições e o estado de abandono das estradas de acesso a Brusque e cobrou o poder público sobre a extrema urgência para a solução do problema.
“Precisamos, urgentemente, da ratificação da estrada para Itajaí, por onde escoa, em caminhões, toda a produção industrial e colonial do município; necessitamos de uma ligação rodoviária senão excelente, pelo menos em condições de trânsito permanente para a capital; a estrada para Blumenau precisa ser melhorada de uma vez, pois a que aí está é ainda aquela do tempo em que o carro de boi era o veículo da moda”.
Uma estrada para Brusque
A ligação de Brusque com a BR-59, mais tarde transformada em BR-101, foi, inclusive, tema de campanha lançada pelo jornal O Município na edição de 18 de abril de 1959, com o artigo intitulado “Somente Brusque”.
“Com base no direito que nos assiste de sermos tratados como parte do território catarinense, e dos mais importantes, vamos lançar uma campanha, que carece do apoio de todas as classes sociais, no sentido de conseguir (já que do Estado nada se consegue) uma estrada de acesso à BR-59”, diz trecho do texto.
Na edição seguinte, de 25 de abril, no artigo “Uma estrada para Brusque”, o jornal pede o apoio de clubes recreativos, entidades de classe, instituições religiosas e filantrópicas e do poder público na campanha de cobrança pela construção do acesso de Brusque à BR-59.
“Precisamos, unidos, fazer um movimento sério de reivindicação de um direito que nos assiste – a ligação de Brusque, por uma estrada decente e digna desse nome, a BR-59. O silêncio de nossa parte pode significar conformismo com o injusto tratamento que está sendo dado ao nosso município, que no ano que vem completa cem anos de trabalho e contribuição ao progresso de Santa Catarina e do Brasil”.
Nas edições seguintes, o jornal continua com artigos mostrando a necessidade da estrada. Cada adesão à campanha e cada conquista é celebrada, se transformando em motivação para continuar na missão de contribuir para a viabilização do acesso à cidade.
Na capa do dia 23 de maio de 1959, o jornal publica um telegrama recebido do gabinete do ministro da Viação, informando que foi determinada a análise do Departamento Nacional de Estrada de Rodagem sobre a ligação da cidade à BR-59. No mesmo texto, o jornal cobrou, mais uma vez, a mobilização das entidades da cidade, no sentido de ‘telegrafar’ ao presidente da República na época, Juscelino Kubitschek, e também ao ministro da Viação e Obras Públicas, Lúcio Meira, além de deputados federais e senadores, reforçando a importância da construção da estrada.
Na edição de 6 de junho de 1959, O Município noticiou que a campanha recebeu apoio no legislativo estadual. Ainda nesta edição, o jornal trouxe o artigo intitulado “E’cos da Campanha”, em que informa a repercussão do movimento em prol da estrada de acesso à BR-59. De acordo com o artigo, a campanha encabeçada pelo jornal foi notícia na Rádio Nacional e na Rádio Tupy, além de receber o apoio da Câmara de Vereadores.
“Assim, nossa campanha vai ganhando dimensão, espraia-se em todas as direções como onda avassaladora que não encontra barreiras até alcançar os seus fins”, diz o texto.
Jornal acompanha cada fase
Cada avanço em direção à construção da estrada foi acompanhado e noticiado nas páginas do jornal. Na edição de 12 de dezembro de 1959, a notícia em destaque foi a presença do engenheiro da empresa responsável pela obra na cidade e os estudos que concluíram que o melhor traçado para a rodovia seria em direção a Itajaí e não a Balneário Camboriú, como se acreditava até então. “O DNER já dispõe de verba para execução da grande obra e ninguém mais tenha dúvida de que a ligação de Brusque à BR-59 sairá, podemos dormir tranquilos e confiantes”, celebrava o jornal.
Mas a tão aguardada obra demorou 10 anos para sair do papel. Somente em 21 de agosto de 1969 é que as máquinas iniciaram o trabalho na tão sonhada estrada para Brusque.
“Em solenidade realizada no cruzamento da BR-101 foi iniciada a construção da estrada Itajaí-Brusque-Ribeirão do Ouro, que abre novo capítulo da história dos municípios banhados pelo Itajaí-Mirim”, noticia O Município na capa da edição do dia 22 de agosto de 1969.
Os cinco anos até a inauguração foram repletos de notícias. Cada novo quilômetro asfaltado foi celebrado. E, ao mesmo tempo, as cobranças diante das inúmeras paralisações da obra foram firmes.
Do início da campanha, em abril de 1959, até a inauguração, em outubro de 1974, passaram-se 15 longos anos.
“”Finalmente, foi inaugurada dia 23 de outubro a rodovia Antônio Heil, estrada totalmente asfaltada, sinalizada e com acostamento perfeito, ligando a cidade de Brusque à BR-101, numa distância de 20 km”, anuncia o jornal na capa da edição do dia 1º de novembro de 1974. “Agora, o Berço da Fiação Catarinense está ligado ao Brasil todo pelo asfalto”, conclui a reportagem.
Duplicação
Os anos passaram, e a rodovia Antônio Heil continuou sendo assunto nas páginas do jornal O Município. Após sua inauguração, o jornal seguiu cobrando melhorias na estrada, cumprindo com a missão para a qual foi criado.
Mais recentemente, o jornal abraçou a campanha para a duplicação da rodovia. Dezenas de reportagens foram publicadas, mostrando a necessidade da obra de ampliação da estrada; o início das tratativas com o governo do estado; a parceria público-privada com a empresa Irmãos Fischer, que custeou a duplicação do trecho de Brusque; além da apresentação dos projetos; reivindicações da comunidade; as inúmeras paralisações da obra, até a conclusão da duplicação de toda a estrada, em outubro de 2020.
Agora, 65 anos depois do início da campanha para a construção da estrada, o jornal O Município acompanha atentamente, as negociações para o início da obra do trevo de interseção da rodovia com a BR-101.
Luta pela estrada virou livro
Em 1973, em comemoração aos 19 anos de fundação, o jornal O Município publicou o livro “Uma estrada para Brusque”, uma coletânea com todos os artigos e notícias publicados ao longo dos anos, contextualizando a luta da cidade pela construção da rodovia Antônio Heil e evidenciando a contribuição do jornal para essa conquista.
“O que certamente será positivado, com a edição do livro, é a importância que tenha tido o jornal, que lançou a campanha e manteve vivo o fecho de luz que ardeu até o fim. Sem ele, a história dessa estrada talvez nem pudesse ser contada”, diz trecho da nota publicada na edição de 15 de junho de 1973, informando sobre a publicação da obra.
Outras bandeiras
Nestes quase 70 anos de história, o jornal O Município defendeu inúmeras bandeiras, além da rodovia Antônio Heil.
Todo o processo para a construção da rodovia Ivo Silveira, entre Brusque e Gaspar, também foi acompanhado de perto pelo jornal, que em várias edições mostrou a necessidade da estrada e cobrou celeridade na obra, que foi executada ao longo de quatro governos: iniciou com pequenos cortes na época de Irineu Bornhausen, depois teve pequeno avanço na gestão de Heriberto Hülse.
Foi retomada com mais impulso no governo de Celso Ramos, que concluiu praticamente a metade, e finalizada e inaugurada em 29 de janeiro de 1967, pelo governador Ivo Silveira, que emprestou seu nome à rodovia.
Ainda relacionado às estradas, o jornal cobrou, em vários artigos e reportagens na década de 1960, o avanço e a conclusão das obras da rodovia BR-59, atual BR-101, em toda sua extensão em território catarinense.
Nos seus primeiros anos de circulação, o jornal O Município, fez questão de destacar em inúmeras edições, a importância do voto consciente.
Em agosto de 1959, Jaime Mendes publica o artigo “Seleção pelo Voto”, em que destaca a importância de saber escolher os candidatos.
“O remédio para corrigir os defeitos do nosso regime seria o voto consciente e esclarecido da maioria do povo. A escolha dos candidatos, pelos partidos, já devia obedecer um critério rigoroso de seleção dos mais mais capazes. Mas até chegarmos lá, muito há que sofrer”.
Em 12 de maio de 1962, o jornal publica o artigo “Um erro votar em branco”. O texto demonstra preocupação com o crescente número de eleitores de Brusque com a intenção de votar em branco nas eleições daquele ano. “Votar em branco, pois, é um erro. Erro que precisa ser combatido sem perda de tempo”.
Outra bandeira constante no jornal nos anos 1960, foi a necessidade de ampliação das redes de energia elétrica para combater o déficit na região. “Não é estranho a ninguém, sobretudo aos homens de negócio, que o nosso Estado, nos últimos tempos, vem sofrendo uma crise de energia elétrica das mais agudas de sua história”, escreveu Jaime Mendes, na edição de 26 de maio de 1962.
A edição de 26 de junho de 1964, dá grande destaque para a inauguração da linha de transmissão e distribuição de energia elétrica do bairro Dom Joaquim. Depois de anos de reivindicações, a população daquela região pode, enfim, ter energia em suas casas.
“Dom Joaquim, a florescente localidade de Brusque experimentará novas condições de desenvolvimento e progresso, recebendo energia elétrica, há tanto pleiteada e prometida, que virá abrir novos horizontes para o trabalho e o dinamismo de sua brava e sacrificada gente”, destacou um trecho da reportagem.
Mais recentemente, o jornal tem acompanhado todo o processo que envolve a construção da barragem de Botuverá. A primeira menção sobre a obra foi noticiada em 2011. Pelo projeto, a estrutura já deveria estar concluída, entretanto, a obra nunca foi, de fato, iniciada. Ano a ano, o jornal segue atualizando a população sobre os entraves que impedem o início da barragem e cobra do poder público as explicações, certo de que, algum dia, publicará em suas páginas o início e a conclusão de tão aguardada obra, assim como foi com a estrada de Brusque.