A porta estreita
A cada dia nos chegam notícias de crimes de todos os tipos, mostrando a vileza a que pode chegar o ser humano. Um criminoso não se forma da noite para o dia, e seu processo de desenvolvimento no mundo obscuro fornece pistas importantes para que percebamos as inúmeras armadilhas nas quais ele vai caindo, pois, […]
A cada dia nos chegam notícias de crimes de todos os tipos, mostrando a vileza a que pode chegar o ser humano. Um criminoso não se forma da noite para o dia, e seu processo de desenvolvimento no mundo obscuro fornece pistas importantes para que percebamos as inúmeras armadilhas nas quais ele vai caindo, pois, de algum modo, elas estão também armadas para todos nós.
Imaginem alguns jovens, ainda adolescentes, que têm a sua frente várias escolhas. Estão em fase de formação do seu caráter, e tudo que acontecer agora terá grande repercussão no tipo de gente que serão e nas atitudes que desenvolverão mais tarde. Num ambiente que convida a todo tipo de desfrutes irresponsáveis, e com poucos bloqueios eficazes, é comum que a maioria comece a adentrar pelo espaçoso mundo das facilidades.
Resguardar-se, evitar a embriaguez e os “baratos” provindos das drogas, do sexo como “parque de diversões” e dos meios pouco lícitos de se ganhar dinheiro é tarefa por demais espinhosa e haverá poucos dispostos a escolher esse caminho de pedras. Afinal, para que abrir mão daquilo que parece tão agradável e sem consequências? Quanto mais se anda no caminho fácil, mais difícil é retornar. Imagine que, após inúmeras peripécias, o rapaz decide entrar para o rol dos “homens sérios”, e se casa. Mas quem acredita que uma “despedida de solteiro” é de fato uma despedida? Como um casamento será vivido com um mínimo de seriedade por quem viveu, até ali, sem se preparar em nada para ele? Um casinho aqui, outro ali, uma gravidez indesejada, e se passa para o nível criminoso mais exacerbado, ao se propor ou exigir um aborto. De qualquer modo, é a saída mais fácil para quem não pretende mudar em nada sua conduta. Se frustrada a tentativa, e aparecendo os incômodos típicos de situações assim, a tendência é jogar ainda mais pesado. Evidente que, numa vida assim encaminhada, a rede de relações que se forma não é das melhores, e dificilmente o cara encontrará amigos que o ajudem a reconhecer seus erros e pegar o caminho de volta. A tragédia final – anunciada, se pudéssemos conhecer o processo desde o início – é apenas o escopo de uma trilha formada por inúmeras escolhas infelizes.
Esse é o conhecido caso do goleiro Bruno, ex-Flamengo, mas é também o de muitos menos famosos. Mas, como metáfora, pode ser aplicado a todos nós. O que somos e o que seremos é resultado de nossas escolhas, e sempre é tempo de revê-las, de refazer a rota. Mas quanto mais tenhamos avançado em escolhas erradas, mais difícil será a trilha de retorno. Falo, sobretudo, aos mais jovens, que estão começando a fazer suas escolhas e que se sentem pouco atraídos para o caminho mais exigente e complicado daqueles que preferem se construir com material sólido, aprender e se preparar para deslanchar no momento adequado. Há muitas portas escancaradas e vejo como todos estão sendo atraídos cada vez mais para elas. Percebo então como é sábio o conselho daquele que disse que é preciso esforçar-se para entrar pela porta estreita. O problema dos conselhos sábios é que costumam ser também chatos e exigentes. Daí por que são até admirados, mas poucas vezes seguidos. Não vejo função mais importante para a educação do que fortalecer nossa vontade na direção das coisas mais difíceis, mas infinitamente mais valiosas.