José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Conservar ou revolucionar?

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Conservar ou revolucionar?

José Francisco dos Santos

Em 1986, o cantor Guilherme Arantes fazia muito sucesso com um disco recém lançado. Uma das músicas era “Cheia de Charme” que, em essência, era apenas uma música romântica. Mas um dos versos diz: “cheia de charme, um desejo enorme de revolucionar”. Lembro-me de ter perguntado a um amigo mais velho, enquanto ouvíamos a música no rádio, o que, afinal, ele queria revolucionar. Meu amigo respondeu, sem nenhuma convicção, que era “revolucionar tudo, ora bolas”.

A conversa parou por aí, mas meu inquieto coração adolescente, que também tinha a mania de se achar revolucionário, percebeu que havia algo de profundamente errado nesse desejo. Só muito tempo depois fui começar a compreender melhor esse espírito revolucionário, que os jovens cultivavam esteticamente, através da música e do cinema, mas não conseguiam entender sua dinâmica, seu significado e o jogo de interesse que trazia oculto. Conheci as raízes dessa mentalidade no pensamento moderno, na sua luta contra as tradições cristãs da Europa.

Como estudante, sempre fui um tanto fustigado a gostar mais do que era revolucionário. Embora preferisse Gonçalves Dias e Olavo Bilac, Da Vinci e Rafael, a escola sempre me fustigava a engrandecer a tal “Semana de Arte Moderna”, de 1922. A revolução francesa sempre foi pintada com ares de grande acontecimento e evolução para a humanidade. John Lennon e Che Guevara eram os ídolos da época e eu me afeiçoava a eles, de maneira acrítica, no afã de não parecer retrógrado e conservador.

Rememoro essas coisas para falar, mais uma vez, de Roger Scruton, o filósofo britânico falecido no início deste mês, e que se notabilizou por contestar, com argumentação brilhante e grande classe, esse espírito revolucionário. Scruton despertou para a necessidade de conservar os fundamentos da cultura quando viu os jovens franceses na sua revolta de 1968, que desencadeou um frenesi revolucionário na juventude do mundo inteiro. Scruton percebeu o vazio e a falta de sentido daquele processo. Outro filósofo, o francês Michel Foucault, professor em Paris à época, incentivava seus jovens alunos a entrarem na trilha revolucionária, a usarem droga e fazerem sexo à vontade, na sanha revolucionária que deveria romper os padrões da sociedade tradicional.

Pois bem, Foucault é o filósofo mais aclamado do mundo contemporâneo. O único que, segundo me disse um editor de livros de filosofia, tem seus livros vendidos como pão quente. Scruton, por sua vez, talvez só esteja sendo conhecido para muita gente depois que morreu, e que muitos jornais estão escrevendo sobre ele. E isso mostra como a mentalidade revolucionária ganhou corpo, e hoje se deleita em debochar do sagrado, de propagar os instintos e a degradação como arte e de fazer avançar projetos de lei para instituírem o aborto, o incesto e a poligamia na legislação nacional.

Precisamos de mais Scruton e menos Foucault. Precisamos conservar os valores que fizeram de nós uma civilização. A revolução pela revolução nos levou à beira do precipício. E como disse alguém, diante de um precipício, a única maneira de avançar é dando um passo para trás. É tempo de preservar, cultivar e conservar o que temos de melhor. Essa onde de rebeldes sem causa já se tornou insuportavelmente chata.

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