José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Fome de beleza

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Fome de beleza

José Francisco dos Santos

Faleceu no último final de semana o filósofo britânico Roger Scruton, um dos maiores defensores do conservadorismo dos tempos atuais. Sua obra abrange um vasto leque de temas, mas tem um destaque especial na estética. Scruton sempre foi um crítico mordaz dessa pretensa estética contemporânea, que banaliza a obra de arte, trazendo o feio e o esdrúxulo como critérios estéticos no mesmo nível do belo, o que nada mais é do que a aplicação do relativismo na estética.

Uma de suas críticas a essa estética do ridículo teve como fato gerador um vaso sanitário que foi colocado num museu de arte. Para Scruton, essa degeneração estética tem a função de preparar a alma das pessoas para aceitar o grotesco e o falso como legítimos.

Ora, nossa sensibilidade compõe uma parte significativa de nós. Como animais sensíveis, nossas noções intelectuais e crenças passam pelo escrutínio da nossa sensibilidade. Para que o nosso intelecto e o nosso caráter estejam integrados de modo harmônico, a sensibilidade precisa apresentar uma base de sustentação. Não adianta ensinar coisas teóricas verdadeiras e boas para uma pessoa que tem a sensibilidade estragada. As boas ações requerem um coração predisposto, e isso se conquista com uma educação estética bem encaminhada.

Os gregos sabiam disso há muito tempo. Por isso valorizavam a boa música como formadora da alma, assim como a ginástica, que predispõe o corpo para a saúde. No século XIX, o filósofo alemão Friederich Schiller se dedicou enormemente a esse tema, ressaltando a importância do que ele chamava de “impulso lúdico” , que se consegue através da arte, para predispor nosso corpo a seguir os ditames da nossa razão. Sem um corpo predisposto, a pessoa pode saber tudo o que é certo, mas fará o errado, porque o intelecto não tem força para se impor à sensibilidade. Ambas as instâncias precisam trabalhar em sintonia.

Ora, não à toa Roger Scruton criticava tanto a cultura contemporânea. O que o século XX representou de degeneração no mundo da arte é algo nunca visto. Saímos da nona sinfonia de Beethoven para o festival de besteirol e mediocridade das músicas atuais. Um vaso sanitário ou um borrão de tinta feito com a cola de um cavalo podem ser expostos como arte. O cinema e a televisão exploram o que há de mais espúrio na humanidade. Nossas crianças estão cada vez mais atraídas pelo terror e pela lascívia e cada vez menos pela poesia e pela harmonia.

Não é à toa que nossa sociedade esteja tão doente, e que em nome da arte se produzam coisas indignas e abjetas, como o que faz o grupo “Porta dos Fundos”, ou o “Queermuseum” (aquele de Porto Alegre, lembram?).

Nossa alma anseia pela Beleza, como anseia pela Verdade e pelo Bem. A cultura atual nos tem roubado esses valores, dizendo que qualquer coisa pode ser boa, bela e verdadeira, ou que não existe nenhum desses atributos, pois tudo depende da nossa opinião ou de nossos interesses. Essa mentira está nos adoecendo gravemente.

A obra de Roger Scruton é um alento no meio desse lixo cultural e desse relativismo sem limites. Que ele possa ser mais conhecido e nos ajude a recuperar e conservar nossa humanidade e nossa sanidade.

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