José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Nossa vã (mas nem tanto) Filosofia

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Nossa vã (mas nem tanto) Filosofia

José Francisco dos Santos

Na última sexta-feira, 16, comemorou-se o Dia do Filósofo. Diz uma antiga anedota que a filosofia é uma coisa que com a qual ou sem a qual tudo fica tal e qual. Temos razões de sobra para afirmar que a anedota está equivocada. Muito longe de ser palavrório desnecessário, a filosofia molda a conduta, determina os rumos da cultura, produz, sustenta ou faz desmoronar sistemas políticos, estabelece objetivos e práticas para a educação, e por aí vai. Se olharmos para a nossa sociedade contemporânea, liquefeita e esvaziada, presa numa cultura relativista e materialista, podemos mapear ponto a ponto as ideias filosóficas que a construíram.

Se as relações familiares estão deterioradas, se a autoridade dos pais e professores é sempre questionada e desafiada, se grande parte da juventude mergulha no redemoinho do prazer sem freio e sem sentido, sabemos muito bem que tudo isso foi cuidadosamente planejado e escrito, em primeira mão, em livros de filosofia. Aos poucos, essas ideias ganharam as universidades. Dali saíram para a linguagem do cinema, da música, das artes plásticas, para a pedagogia. Orientaram os folhetins de televisão, as políticas de incentivo à cultura.

Enquanto a maioria das pessoas pensa que tudo isso brotou naturalmente, nós, que conhecemos os meandros do pensamento filosófico, podemos identificar os autores e os livros em que o planejamento foi feito. Antes a filosofia fosse mesmo inútil, como diz a anedota. Ao contrário, ela pode ser veículo de grande destruição.

A filosofia que faz sucesso hoje é a que imagina que nós, usando de nossa liberdade praticamente ilimitada, podemos inventar o mundo do modo como quisermos. Tal modalidade de pensamento nos coloca como super-homens, que são a medida de todas as coisas e, portanto, não reconhecem uma realidade objetiva e leis morais e espirituais que estejam acima de nosso domínio.

E por que tal filosofia faz tanto sucesso? Porque aceitar nossa própria limitação e a verdade óbvia de que não somos a medida de todas as coisas nos traz o compromisso de buscar uma Verdade para além do nosso umbigo e de agir de acordo com ela, para além dos nossos desejos imediatos e inclinações.

Os grandes sábios da filosofia e da religião sempre tiveram plena consciência disso, e orientaram suas doutrinas no sentido de adequar nosso intelecto, nossa sensibilidade e nosso agir moral na direção de uma Verdade que não fabricamos, mas que, por iluminação da própria fonte da Verdade, somos capazes de vislumbrar.

Entre esses gigantes está Agostinho de Hipona. Não é o maior filósofo que já existiu, porque não se pode concorrer de igual para igual com Platão e Aristóteles, mas certamente compõe o Top 5 dos maiores. No dia 28 deste mês, nós católicos, que também o veneramos como Santo, celebramos sua memória. A grande lição filosófica que ele nos dá hoje, ao contrário da propaganda que nos domina há quinhentos anos, é que a nossa Inteligência é capaz de conhecer e desvendar grande parte do mistério do universo, mas que ela própria é apenas uma gota da uma Inteligência muito maior que nos engloba. Precisamos reaprender essa lição. Nossa síndrome de super-homens está nos destruindo.

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