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Jovem brusquense pode ter se suicidado em Tijucas

Família de Alex Capistrano, 24 anos, acusa o Caps de Brusque de negligência

A família do brusquense Alex Capistrano, 24 anos, desaparecido desde a noite de domingo, 24, suspeita que seja ele o homem que se jogou da ponte no rio Tijucas na manhã de segunda-feira, 25. As buscas pelo corpo foram encerradas pelo Corpo de Bombeiros do município ainda na quarta-feira, 27, no entanto, o corpo ainda não foi localizado.
Alex sofria de transtornos psquiátricos e, segundo a família, ameaçou acabar com a própria vida inúmeras vezes. “Ele sempre dizia que se jogaria da ponte de Florianópolis. Nos últimos dias, ele dizia que queria acabar com o sofrimento, que não aguentava mais viver, mas nunca achei que ele chegaria a esse extremo”, diz a irmã Gisele Mirley Capistrano.

Ela foi a última pessoa da família a ter contato com Alex. “No domingo, perto das 18h30 foi a última vez que o vi. Perto da meia-noite entrei em contato com ele por telefone, e ele disse que estava perto do trevo de São João Batista, pedi pra ele voltar, mas ele disse que pra trás ele não voltava, só ia pra frente”, diz.
Gisele acredita que o irmão tinha como destino Florianópolis, mas não aguentou seguir em frente e decidiu acabar com a vida em Tijucas. “Ele sempre gostou muito de caminhar. Ele foi a pé até Tijucas e ali resolveu se jogar”.

Apesar de o corpo ainda não ter sido localizado, Gisele tem quase certeza que se trata do irmão. “Fui em lojas que ficam próximas da ponte e algumas me forneceram as imagens do sistema de monitoramento. O meu irmão passa em direção a ponte bem próximo do horário que as testemunhas informaram que o homem se jogou. Além disso, localizei a mulher que viu, e mostrei a foto dele, ela ficou muito emocionada e diz que tem quase certeza que é ele”.

Família acusa Caps de negligência

Alex foi diagnosticado com bipolaridade aos 14 anos de idade, mas segundo a irmã, nos últimos anos é que o comportamento dele se agravou. Ele era paciente do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas na maioria das vezes se recusava a ser atendido. No fim do ano passado, a família procurou a entidade mais uma vez, para que ele fosse internado, já que as crises de agressividade se tornaram constantes, porém, segundo a irmã, o médico constatou que Alex não tinha nada.

“Em uma consulta com o médico do Caps, ele praticamente ignorou o Alex, disse que ele não era um risco, que era só um problema familiar devido à sexualidade dele e disse que não precisava de internação”, diz a irmã.
Vinte dias depois da consulta, durante uma crise, Alex esfaqueou o vizinho. Cerca de um mês depois, golpeou o padrasto com sete facadas durante outra crise. A família fez boletim de ocorrência e Alex foi preso. “Após dois meses ele saiu com uma ordem do juiz para fazer tratamento psiquiátrico, mas não tinha uma clínica, nós não tínhamos condições de pagar particular e o Caps é quem deveria providenciar isso para ele, mas eles se recusaram”.

De acordo com Gisele, a família fez vários pedidos de internação na entidade, mas não foi atendida. “O Caps nunca se mexeu, sempre disse que era um problema familiar, que meu irmão não tinha nada”, declara.
Gisele diz que um dos motivos para a recusa do atendimento de Alex no Caps após a sua saída da prisão foi por causa de ameaças que ele fez aos funcionários da entidade. “Foi achado um caderno em que ele diz que vai matar o médico e as enfermeiras do Caps, mas isso foi feito em um momento de crise. Após tantas recusas, o meu irmão queria se recuperar, ele pediu para ser internado porque não queria mais voltar para a prisão. Ele saiu da prisão em abril e estamos em agosto e nada foi feito. Agora aconteceu isso, ele não suportava mais, precisava de ajuda e não o ajudaram”.

A Secretaria de Saúde de Brusque foi procurada para comentar o caso. Em nota, a pasta informou que “Alex Capistrano tem sido atendido pela rede de saúde municipal desde 2006, porém com períodos longos de resistência e não aderência ao tratamento proposto. O Caps II tem acompanhado o caso com muita responsabilidade e realizado todos os encaminhamentos possíveis para o tratamento do paciente. Todos os pedidos oriundos do Poder Judiciário foram executados e devidamente comunicados. Devido à natureza do caso, e para proteção do próprio usuário, a Secretaria de Saúde se reserva o direito de não expor mais detalhes. Dessa forma, a Secretaria de Saúde reitera que não houve negligência no atendimento ao usuário e se coloca à disposição da família para outros esclarecimentos”.

Juiz pede explicações

Na semana passada, o juiz Edemar Schlösser, diretor do Fórum de Brusque, mandou um ofício ao Caps de Brusque solicitando explicações. “Determinei que em até 15 dias eles informem porque não conseguiram vaga e porque ainda não encaminharam o réu para o Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina (IPQ), em Florianópolis”, afirma.

Ele destaca que a prisão de Alex foi revogada na condição de ele fazer um tratamento psiquiátrico. “Ele foi encaminhado para fazer tratamento, depois veio a informação nos autos do processo de que ele não queria fazer o tratamento e que também teria ameaçado o pessoal do Caps. Depois, veio pedido do Ministério Público para internação dele, o pedido foi deferido e determinado que o Caps providenciasse a vaga. Ele estava aguardando vaga para fazer o exame de insanidade mental, em Florianópolis. A vaga já havia sido solicitada, pelo que me consta só faltavam agendar”.

Schlösser informa ainda que recentemente chegou até ele um pedido de prisão preventiva para Alex, porém o documento ainda não foi analisado. “A promotora fez esse pedido porque ele estaria ameaçando vizinhos e familiares, por enquanto, nem vou analisar já que há essa suspeita da morte dele”.