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Jovens e Velhos Caminhantes Praianos

Nem todos que vão à praia entram no mar para tomar banho. Quando muito, mal põem os pés n’água. Para mim, banho de mar tem sido raro nos últimos tempos. E não por causa da poluição. Se existem alguns pontos que a vigilância sanitária classifica como “impróprio para banho”, isso não significa água poluída e […]

Nem todos que vão à praia entram no mar para tomar banho. Quando muito, mal põem os pés n’água. Para mim, banho de mar tem sido raro nos últimos tempos. E não por causa da poluição. Se existem alguns pontos que a vigilância sanitária classifica como “impróprio para banho”, isso não significa água poluída e nociva à saúde. Tanto que milhões se banham todos os anos e raros são os casos de doença causada pela água do mar.

Talvez por comodidade, prefiro caminhar. E vejo que boa parte dos caminhantes também não se anima a atender ao chamado de Netuno, o deus grego das profundezas oceânicas que, no vaivém das ondas parece dizer ao caminhante “vem cá, vem cá; mar adentro, mar adentro, para um refrescante banho nas minhas águas de sal e espuma”.

E assim como o herói grego Ulisses tampou os ouvidos com cera para não ouvir o canto sedutor das sereias, esses caminhantes praianos também não escutam o chamado de Netuno para enfrentar as ondas e se banhar nas águas do mar. Preferem caminhar, uns, os mais jovens, silenciosos e com uma bucha eletrônica tampando os ouvidos, numa marcha de passos cadenciados pelo marulhar incessante das ondas.

E, para isso, a Praia Central de Balneário Camboriú, com uma faixa de areia firme próxima da água, parece uma pista de atletismo. São seis quilômetros para quem quer fazer uma boa caminhada. Os mais novos podem ir de ponta a ponta, num passo rápido e apressado, seguindo o ritmo cadenciado marcado pelo tambor da jovialidade, num exercício de suar pra valer, troteando ou até correndo como se fossem tirar um ente querido da forca.

Para os mais velhos como eu, que ainda podem caminhar, a receita médica é seguir devagar e sempre, o que significa até aonde as pernas resistirem. Já fui longe, quase até o final da praia. À medida que o tempo passou, o percurso foi diminuindo. Hoje, não ultrapassa a metade da pista praiana, pois a velhice é uma máquina de encurtar distâncias. Até em pensamento já não vamos tão longe e os nossos sonhos mal saem do chão nem voam nas alturas.

Caminho num ritmo lento como as horas das noites de insônia e nostalgia da velhice, que meus amigos mais otimistas chamam de terceira idade. É triste! Envelhecemos e a linha do nosso horizonte vai ficando cada vez mais perto, quase de tocar com a mão.

Agora, meu caminhar obedece a um vaivém rotineiro para chegar a um ponto qualquer, tão longe quanto as pernas resistam, dar meia-volta e, cansado, fazer o mesmo itinerário de retorno ao local de partida, quase sempre o aconchego do lar, esse refúgio de intimidade entre quatro paredes, esse ninho de afetividade familiar de onde podemos alçar voo, mas a ele sempre queremos voltar.