Neste mês de junho, discute-se a importância da conscientização sobre o Ceratocone, doença oftalmológica que afeta pessoas jovens, que começam a perder gradativamente a visão e que se não diagnosticada e tratada corretamente, pode evoluir para a necessidade de um transplante.
A oftalmologista do Hospital de Olhos de Brusque, Kátia M. Bottós Leite, destaca que a campanha Junho Violeta, que acontece durante todo este mês, é muito importante, já que o diagnóstico precoce faz toda a diferença no tratamento do Ceratocone.
De acordo com a médica, que possui doutorado nesta doença pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e University of California, nos Estados Unidos, o Ceratocone atinge, principalmente, pessoas jovens (iniciando-se entre os 14 e 21 anos), e se o diagnóstico é feito precocemente, é possível estabilizar a doença ainda na fase inicial.
“Até pouco tempo atrás, não existia tratamento que conseguisse estabilizar o Ceratocone, e por isso, muitas pessoas não tinham outra opção a não ser o transplante de córneas. A evolução da medicina hoje traz esperanças para quem antes nada poderia fazer para evitar a progressão da doença”, diz.
A oftalmologista explica que o Ceratocone afeta a córnea, estrutura transparente, externa do olho. Nesta doença, a córnea torna-se progressivamente mais fina e irregular, resultando em distorção e embaçamento das imagens.
Os sintomas iniciais dessa doença podem ser confundidos facilmente com graus simples de óculos, pois gera o embaçamento visual para longe.
“É por isso que a piora da visão nunca deve ser subestimada. O ato de coçar os olhos é frequentemente associado a piora da doença, por isso, pessoas alérgicas ou que têm o costume de coçar os olhos devem procurar ajuda médica e este hábito deve ser evitado”, diz.
A médica observa que o Ceratocone tem uma evolução até aproximadamente 40 anos, quando, então, na maioria dos casos, há a estabilização.
Porém, durante os anos de atividade da doença, a progressão pode ser muito variável.
Alguns casos cursam lentamente, enquanto outros evoluem para transplante de córnea.
Existe, em alguns casos, uma base genética hereditária, por isso é recomendado que parentes de pessoas afetadas sejam examinadas. Além disso, existem evidências de que a doença pode piorar por alguns fatores como gestação e flutuações hormonais (como hipotireoidismo).
Pessoas com Síndrome de Down também têm mais chances de desenvolver Ceratocone. Recentemente, um estudo mostrou que a posição de dormir (apertando os olhos no travesseiro, por exemplo) pode agravar a doença. O diagnóstico exato se faz através de exames específicos, entre eles a Topografia de Córnea e a Tomografia de Segmento Anterior (PENTACAM ®️).
Tratamento inovador
A oftalmologista destaca que ao contrário do que muitos pensam, o uso de óculos, lentes de contato ou ainda o anel estromal não causam a estabilização da doença. “Eles são recursos úteis para permitir uma melhor visão, mas a doença poderá continuar avançando”.
Até pouco tempo atrás, o transplante de córnea era o único tratamento curativo para o Ceratocone. Atualmente, um tratamento inovador vem mudando a história desta doença: o Cross-linking.
De acordo com Kátia, esta é a primeira possibilidade real de estacionar e impedir a progressão da doença.
“O Cross-linking causa um “fortalecimento” da córnea, que pára então de abaular, o que permite que muitos pacientes permaneçam em estágios iniciais, evitando a evolução para transplante de córnea”.
O objetivo do tratamento não é corrigir o grau e sim evitar que a doença piore. Por isso, quanto mais cedo for realizado o tratamento, melhores os resultados. Dessa forma, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia se uniu para que o mês de junho fosse dedicado à conscientização sobre os perigos de se coçar os olhos e sobre a importância de não subestimar queixas como embaçamento visual.
“O Ceratocone atualmente deixou de ser uma doença intratável. Existem opções além do transplante e vários pacientes podem continuar com boa visão com o diagnóstico e tratamentos precoces”, afirma.
Sobre Kátia Bottós Leite
Kátia M. Bottós Leite é médica oftalmologista do Hospital de Olhos de Brusque. Possui Doutorado (PhD) pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e University of California, San Diego – UCSD – USA, cuja tese teve ênfase nos estudos do Ceratocone e Cross-linking Corneano.
Autora de capítulos de livros sobre tratamento do Ceratocone e artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. Formou-se em medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), graduada com o Prêmio Nilo Cairo, primeiro lugar entre os formandos de medicina de 1999-2005. Após a residência médica em oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), concluiu duas subespecializações: Córnea / Doenças externas e Cirurgia Plástica Ocular. Nos EUA, realizou International fellowship (2009-2010) pela University of California, UCSD, USA, pela qual foi certificada pelo Board of California.
Dra. Kátia M. Bottós Leite
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