Keka explica por que não convocou votação para presidência da Câmara: “Troca-troca de favores”
Vereador questiona tomada de decisões e acordos feitos entre a base aliada e a prefeitura
O vereador Gerson Luis Morelli, o Keka (PSB), convocou entrevista coletiva para esta quinta-feira, 19, para explicar os motivos de não ter convocado novas eleições para a presidência da Câmara de Brusque neste ano.
Na última sessão ordinária do ano, na terça-feira, 17, o então presidente José Zancanaro (PSB) anunciou renúncia dele e do vice Ivan Martins (PSD). Um acordo de bastidores previa que Keka, que assumiu a presidência por ser o primeiro secretário, convocasse a votação logo na sequência.
Keka, porém, informou que a votação aconteceria apenas da primeira sessão de 2020, em 4 de fevereiro, e deu a sessão como encerrada, surpreendendo os vereadores da base aliada, que tinham maioria para eleger Martins como novo presidente da casa.
Segundo Keka, a decisão de adiar a votação para o novo presidente foi única e exclusivamente sua. O objetivo do adiamento foi seu descontentamento com a forma como decisões entre o Executivo e a base aliada estavam sendo tomadas.
“Não foi para me promover politicamente. Eu senti a necessidade de me posicionar. Queria uma política nova, mas fui podado e deixado em segundo plano desde que assumi meu mandato. Senti uma angústia porque vim para cá com várias ideias, mas nenhum pedido meu foi atendido, enquanto outros vereadores, porque têm mais poder, foram levados em consideração”, afirmou.
Para Keka, a votação estava sendo feita às pressas, sem informar os vereadores da oposição. Ele afirmou que não concorda com o que chamou de ‘troca-troca de favores’ em que algumas decisões são tomadas pela Câmara.
“Não passa pela minha cabeça que isso aconteça ainda atualmente. Essa é a oportunidade de repensar isso. O foco deveria ser o bem-estar do povo. Este tempo até a votação é uma oportunidade dos vereadores repensarem o seu voto”, reforça.
Reunião da CPI foi decisiva
O presidente em exercício reforçou que sua atitude foi legal e prevista no regimento. Ele conta que uma reunião foi realizada fora da Câmara na quinta-feira, 12, com o objetivo de discutir quem faria parte da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a suspeita de fraude no fornecimento de merenda escolar e cestas básicas para a Prefeitura de Brusque pela Distribuidora de Alimentos BV Limitada.
Em novembro, a prefeitura anunciou a suspensão dos contratos com a empresa devido a suspeita de irregularidades na prestação dos serviços. Desde 2015, a empresa recebeu quase R$ 9 milhões da prefeitura.
Keka contou que não compareceu a esta reunião, porque outro encontro já havia sido feito anteriormente e a comissão formada. Ele faria parte da CPI ao lado de Cleiton Bittelbrum (PATRI), Marcos Deichmann (PATRI), Paulo Sestrem (PATRI) e outro membro filiado ao Democratas.
Após esta decisão, porém, Keka contou que Ivan Martins, então vice-presidente da Câmara, recebeu uma ligação e voltou afirmando que a comissão deveria ser outra, que seria decidido neste segundo encontro.
“Não compareci a esta reunião porque sabia que teria que engolir outra decisão que não concordava. Eu protocolei na Câmara e pedi para o Ivan Martins assinar que queria fazer parte da comissão, mas informei ao Zancanaro que não queria mais após esse novo encontro ser marcado”, explicou.
Além disso, Keka contou que o prefeito em exercício Ari Vequi participou da reunião e também contestou a presença de Deivis da Silva, vereador licenciado e atual secretário de Assistência Social, órgão investigado nesta CPI.
“Ele é a pessoa com mais interesse nessa CPI, porque é diretamente ligado na investigação. Não vejo isso como uma coisa positiva, formar uma comissão para investigar uma coisa e levar as principais pessoas ligadas para ela”, contestou.
O vereador também afirmou que, além da discussão da formação desta comissão, nesta reunião também se discutiu a eleição da presidência da Câmara.
“Na manhã do dia seguinte, eu liguei para o Zancanaro e ele me disse que a gente estava fora, porque eles já tinham oito votos e que não precisavam do meu voto. Eu disse que não chamaria a votação para este ano caso isso acontecesse”, relatou.
Na sequência, Keka afirma que em conversa com Martins, que seria o escolhido para presidir a Câmara, lhe foi dito que Zancanaro seria o vice.
“Eu disse que estava tudo bem e este talvez seja o acordo que dizem que tenha sido feito por mim. Mas fui para casa e dormi pouco por dias. Pensei muito se iria entrar nesse jogo. Eu não faço parte disso aí, não sei fazer isso, não quero isso para minha carreira política. Essas tramoias não são do meu feitio. Ou continua com dois ou três vereadores mandando na casa e na prefeitura ou se tenta fazer uma nova política”, reforçou.
Base aliada afirma que vai realizar sessão extraordinária
Existe um requerimento da base aliada ao governo para que uma sessão extraordinária seja convocada para sábado, 21, às 14h, para a votação da nova presidência da Câmara. Keka acredita que não há motivo para que esta eleição seja realizada já no próximo fim de semana e que não vai aprovar o pedido dos vereadores.
“Os servidores vão estar todos de férias, vai ter que ser pago hora extra. Não entendo a ânsia de fazer essa eleição agora, se já está marcada para fevereiro. O que vai mudar?”, questionou.
Após o fim da coletiva, o vereador Alessandro Simas (PSD), líder do governo, afirmou que a sessão extraordinária vai acontecer no dia 21, com iniciativa de nove dos 15 vereadores da Câmara. Simas questiona o argumento de Keka de que não há motivo para ela acontecer.
“Hoje não existe uma Câmara constituída, uma mesa constituída, há a necessidade de representatividade da casa, além de outros argumentos que estão no ofício convocando a sessão. Existe base jurídica. Quando o presidente, por omissão, não aceita a sessão extraordinária, o prefeito pode, de acordo com os prazos, marcar a sessão. Se fosse para pensar em gastos, o Keka deveria ter feito aquilo que ele se comprometeu”, ponderou.