Laços de sangue: confira histórias de irmãos que se conheceram depois de adultos
Após publicação de reportagem, O Município recebeu dezenas de relatos de casos semelhantes na região
Após a publicação da reportagem sobre os brusquenses Naiane Nunes e Maicon dos Santos, que descobriram recentemente que são irmãos e se encontraram pela primeira vez depois de mais de 30 anos, O Município recebeu dezenas de histórias relatando casos semelhantes em Brusque e região.
Os motivos pelos quais essas pessoas foram separadas e perderam contato são os mais variados, entretanto, sempre há algo comum nessas histórias: a felicidade do reencontro e a oportunidade dos irmãos recuperarem o tempo perdido e fazerem parte da vida um do outro. Confira as histórias:
Irmãs e colegas de trabalho
Em 2013, Ana Cristina Garcia de Souza dos Santos começou a trabalhar em um supermercado de Brusque. Poucos meses depois, Gabriela Walter Dias iniciou no mesmo emprego.
As duas se gostaram logo de início e ficaram muito amigas. A semelhança entre as duas meninas, inclusive, sempre foi alvo de brincadeira dos colegas de trabalho. “Todo mundo perguntava se a gente era parente, e achávamos engraçado”, lembra Ana.
Gabriela foi criada pelo pai e sabia que tinha uma irmã um ano mais velha que ela, de outra mãe. O tempo foi passando e as duas ficaram cada vez mais amigas.
Um dia, quando foram comprar o lanche para fazerem o intervalo juntas, Gabriela ficou olhando para Ana e disse que ela era a cara de seu pai. “Ela disse que até o nariz era igualzinho. Achei que era brincadeira dela. Depois ela começou a me perguntar sobre meu pai biológico e tudo o que eu falava batia com o perfil do pai dela”.
No mesmo dia, a mãe de Ana foi lhe buscar no trabalho e a menina começou a perguntar sobre o pai biológico. “Perguntei para ela qual o nome do meu pai e liguei para a Gabriela. Ela estava voltando para casa e me atendeu. Então falei para ela qual seria o nome do meu pai e para nossa surpresa, éramos irmãs. Ela começou a gritar e chorar em cima da moto”, recorda Ana, que hoje tem 22 anos.
No dia seguinte, as duas se encontraram no trabalho e fizeram questão de contar para todos os colegas. “Todos ficaram pasmos com a história”.
Desde então, as irmãs fazem questão de participar uma da vida da outra. “Fazemos aniversário no mesmo mês e sou muito feliz por ter ela do meu lado. Foi uma grande felicidade saber que tenho uma irmã”, diz Ana.
Família reunida de novo
Há dois anos, a moradora de Brusque Ana Maria Wisnhesky Venske conseguiu reunir seus três irmãos novamente. Eles têm pais diferentes e foram criados também em famílias diferentes.
Ana sempre soube da existência dos seus irmãos. Ela foi criada pela avó, um dos irmãos ficou com a mãe e os outros dois foram doados para duas famílias.
“Eu tive contato com o André, chegamos a morar um tempo juntos. Eu também sabia mais ou menos sobre o Diego, só a Fernanda, que é a caçula, que eu não tinha contato nenhum”, diz.
O tempo passou e os irmãos nunca mantiveram contato. Foi em dezembro de 2017 que Ana resolveu procurar os irmãos e tentar reunir a família biológica. “Achei o Diego no Facebook, marquei um almoço e a partir dali iniciamos a nossa busca pela Fernanda. Não sabíamos qual família havia adotado”.
Ana conta que logo depois do nascimento da menina, a mãe morreu e, por isso, ninguém sabia informações sobre o paradeiro dela. “Procuramos no Facebook, mas nunca conseguimos nada, até que um dia, um primo adotivo dela conheceu um dos meus irmãos, sabia da história dela e desconfiou que ela poderia ser nossa irmã”.
Ana e André marcaram um encontro com Fernanda. Logo depois, os quatro se reuniram pela primeira vez em Joinville, cidade em que Diego e André moram.
A partir deste dia, os irmãos entraram um na vida do outro. “Foi uma grande felicidade. A Fernanda estava com o casamento marcado, e participamos do casamento, foi muito especial, aos poucos estamos criando laços”, diz.
Os irmãos fazem um rodízio, cada encontro é realizado na casa de um dos irmãos para poder recuperar o tempo perdido.
Fernanda sempre soube que fora adotada e que tinha três irmãos, entretanto, nunca procurou por eles. “Foi algo que eu fui deixando acontecer naturalmente. Nunca forcei nada. Hoje mantemos contato sempre pelas redes sociais, nos encontramos eventualmente. Hoje eles fazem parte da minha vida”, destaca.
Encontro na tragédia
A jornalista Guédria Motta conheceu sua irmã, Graziela Tomasi Bertolini, logo após a morte do pai. A mãe de Guédria era viúva há 15 anos quando se relacionou com ele. Deste relacionamento nasceu a filha, que cresceu sem conhecer o pai, já que a relação não deu certo e ele não quis assumir a paternidade.
Logo depois, ele se relacionou com uma segunda mulher, com quem teve mais uma filha: Grazi. Ele também não assumiu a paternidade.
Guédria conta que apesar de viverem todos na mesma cidade, nunca mantiveram contato. “Eu mesma não saberia nem onde procurar”, diz.
O pai de Guédria e Grazi morreu em um domingo de Páscoa, em 2004. A jornalista ficou sabendo, mas preferiu não ir ao velório. “Se não havia lembranças de um pai vivo, por qual razão iria guardar memórias de um pai morto?”.
No mesmo dia, a mãe de Grazi sofreu um derrame e teve morte cerebral, falecendo três dias depois. Naquela semana, a sogra de Guédria, que era sacristã da Igreja Matriz, conversou com uma conhecida após a missa.
“Esta mulher contava para minha sogra o que havia acontecido com a Grazi: ela não conheceu o pai, que faleceu no domingo, mesmo dia que a sua mãe teve morte cerebral. Minha sogra também argumentava o que havia acontecido comigo: o pai, que não conheci, morreu no domingo. E elas começaram a perceber que a história tinha detalhes comuns: mesmo dia e causa do falecimento. E as duas confirmaram que a Grazi e eu éramos irmãs ao falar o nome do nosso pai”.
Pouco tempo depois, a sogra de Guédria entrou em contato com ela, falando que havia encontrado a sua irmã. “Ela já tinha, inclusive, anotado o seu número de telefone. Não lembro bem o que aconteceu, mas acredito que fui em quem telefonou. E já marcamos um encontro para o dia seguinte”, lembra Guédria.
Grazi conta que não sabia da existência de Guédria. “Uma vez, lembro vagamente que minha mãe comentou que meu pai tinha outro filho perdido, mas nem sabia se era menino ou menina. Eu nem imaginava. Foi uma grande surpresa quando ela entrou em contato comigo”, diz.
A partir do encontro, lá em 2004, as duas irmãs passaram a fazer parte uma da vida da outra. “Ela me fez muita falta a vida inteira. Apesar de não ter conhecido o meu pai, sou grata por essa herança que ele me deixou. Nada teria mais valor, ou seria tão especial para mim”, resume Guédria.
Repercussão nacional
Há dois meses, teve grande repercussão a história do empresário Antonio Nunes, 35 anos, que descobriu que seu funcionário, Maicon Luciani, é seu irmão perdido há 31 anos, em Blumenau. A história, revelada por O Município Blumenau, foi destaque no programa Encontro com Fátima Bernardes.
Antonio cresceu sabendo que tinha dois irmãos em Blumenau que haviam sido dados para adoção logo ao nascimento, porém, só conseguiu encontrá-los depois de quase 30 anos. Há três anos ele e o filho do meio, Jefferson, se encontraram após a mãe adotiva dar informações sobre a família biológica dele.
Os dois passaram os últimos anos em busca do caçula, porém as poucas pistas que tinham dificultavam o encontro. Foi em uma viagem neste mês que Antonio descobriu que Maicon Luciani, amigo dele há quase uma década e funcionário da empresa que comanda, era seu irmão.