Lança perfume: conheça as variações e os perigos da droga que matou catarinense no último final de semana
Substância chegou ao Brasil há mais de 100 anos e segue sendo utilizada até hoje
Jonathan Cordeiro Lavratti, de 32 anos, morreu após utilizar droga “pingo de solda”, uma versão genérica e caseira do entorpecente lança-perfume, durante a madrugada do sábado, 12. O caso aconteceu no Centro de Tijucas, por volta das 0h30. A variação ‘original’ da droga que matou o catarinense já existe há mais de 100 anos e chegou em solo brasileiro entre os anos de 1904 e 1906. Ao longo das décadas, outras variações surgiram.
O “lança-perfume” é uma droga recreativa que ficou famosa no Brasil e em outros lugares durante festas e eventos. É uma substância inalante que contém produtos químicos voláteis que podem produzir efeitos alucinógenos e estimulantes quando inalados. Muitas vezes o líquido ‘entra’ nas festas através de tubos ou frascos conta gotas (já que costuma ser comercializado por gota). Um exemplo de embalagem utilizada é a de adoçante.
A inalação desses produtos químicos pode levar a uma sensação temporária (de 15 a 40 minutos) de euforia, aumento da energia e alterações na percepção. No entanto, o uso de lança-perfume é extremamente perigoso e pode levar a uma série de riscos para a saúde e até à morte, como foi o caso de Jonathan.
“Loló” e “pingo de solda”
O termo “loló” se refere a uma versão genérica e caseira do lança-perfume. O termo é mais amplo e geralmente se refere a uma mistura de substâncias inalantes, que podem incluir produtos químicos como clorofórmio, éter, solventes industriais, entre outros.
A composição exata do “loló” pode variar amplamente, e muitas vezes é feita de maneira não controlada, tornando difícil determinar os ingredientes específicos presentes em uma mistura de “loló”.
Uma diferença notável entre os dois é que o “loló” tende a ser mais variável em sua composição, pois pode ser uma mistura de diferentes produtos químicos inalantes. Isso torna o “loló” ainda mais imprevisível e perigoso, pois os usuários muitas vezes não sabem exatamente o que estão inalando.
Além dele, também há o “pingo de solda”, que nada mais é do que o anti respingo de solda, um composto usado na resistência para evitar respingos de metal fundido que podem ocorrer durante o processo.
Geralmente, é um líquido ou spray aplicado na área de tração ou diretamente nas peças a serem unidas para minimizar a formação de respingos. Porém, ele também pode ser utilizado como uma alternativa (versão) barata do lança-perfume. Muitas vezes também é chamado de “loló”.
Por ser mais fácil de comprar, é o “pingo de solda” que pode ser visto com mais frequência em eventos e festas. Por conta da fácil venda e distribuição, há locais que comercializam o produto apenas para clientes com cadastro. A venda para menores de 18 anos é proibida.
“Existe também uma variante do lança-perfume que é composto por uma mistura química baseada em fluido de isqueiro com o B-25. Esse último é uma cola utilizada em superfícies acrílicas, e que pode ou não ser diluída em solventes como thinner”, diz o doutor de Brusque, João Pedro Techy.
Perigos
Os três produtos químicos não apresentam perfume e, como os solventes orgânicos, podem causar danos graves ao sistema nervoso central, sistema cardiovascular e outros sistemas do corpo.
“Ao longo do uso frequente, os sintomas são semelhantes àqueles das drogas mais pesadas como cocaína e heroína, por exemplo. O indivíduo pode apresentar prejuízo da capacidade crítica, reflexiva ou ter um surto psicótico. Em longo prazo, comprometimento e retardo das funções psicomotoras também acontecem. O consumidor torna-se mais vulnerável a quedas, atitudes violentas ou ações inconscientes, e que colocam em risco sua integridade física e a de outras pessoas”, ressalta o médico.
A inalação repetida ou em grandes efeitos pode resultar em efeitos colaterais graves, como:
- Asfixia: o uso pode levar à falta de oxigênio nos pulmões e no cérebro, causando sufocação e risco de parada respiratória;
- Danos radiais: os solventes presentes podem afetar as funções radiais, causando danos permanentes e benefícios na capacidade cognitiva;
- Arritmias cardíacas: os produtos químicos estimulantes presentes podem causar alterações nos problemas cardíacos, aumentando o risco de arritmias e outros problemas cardiovasculares;
- Lesões nos órgãos: o uso intenso pode causar danos nos rins, fígado e outros órgãos internos;
- Risco de overdose: a falta de controle sobre a quantidade e a frequência de inalação pode aumentar o risco de overdose, que pode ser fatal;
- Dependência: o lança-perfume ou “loló”, como outras drogas, podem levar à dependência física e psicológica, tornando difícil para o usuário parar de usá-los.
“Entre os efeitos do loló, o mais predominante entre os jovens é a depressão do cérebro: a aspiração repetida de solventes provoca a destruição das células cerebrais, conhecidas como neurônios. Consequentemente, há uma evolução rápida para problemas de memória, de aprendizagem e desequilíbrio mental. Em longo prazo, surgem lesões na medula óssea, comprometimento hepático, renal e dos nervos periféricos que coordenam a musculatura. O usuário torna-se apático, desinteressado pela vida e começa a alimentar ideações suicidas”, complementa João Techy.
Em resumo, tanto o lança-perfume quanto o “loló” são substâncias altamente perigosas que podem causar danos graves à saúde e até a morte. É altamente recomendado evitar completamente o uso de qualquer uma dessas substâncias, pois os riscos superam em muito certos efeitos recreativos.
História
O lança-perfume ganhou popularidade no Brasil e em outros lugares durante festas e eventos, principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Sua origem remonta à Europa, onde inicialmente foi usado como um perfume líquido durante o final do século XIX e início do século XX. Historiadores acreditam que ele chegou ao no Brasil no início do século XX como um produto perfumado para ser usado em lençóis e roupas.
No entanto, ao longo do tempo, o lança-perfume começou a ser usado de maneira recreativa e abusiva, especialmente em festas e carnavais (por volta de 1904). Na época, principalmente no carnaval, os foliões descobriram que inalar os vapores do lança-perfume podem causar efeitos alucinógenos e estimulantes, levando a uma sensação temporária de euforia e alterações na percepção.
O uso recreativo do lança-perfume se tornou mais proeminente no Brasil nas décadas de 1960 e 1970, quando ele se tornou ainda mais popular em festas e eventos culturais. Naquela época, era comum que as pessoas inalassem os vapores do lança-perfume de pequenas ampolas para obter seus efeitos psicoativos.
O lança-perfume foi proibido no Brasil em 1961. Na época, o governo brasileiro tomou medidas para restringir a venda, a compra e o uso dessa substância devido aos riscos à saúde pública associados ao seu uso recreativo. Antes da trava, o lança-perfume era amplamente utilizado em festas, especialmente durante o carnaval, como uma droga recreativa para obter efeitos alucinógenos e estimulantes.
Morte
Texto: Marlos Glatz
O corpo de Jonathan foi velado no Capela da SC Funerária e o sepultamento aconteceu no Cemitério Municipal de Tijucas. Ele deixou um filho pequeno.
A Polícia Militar foi acionada no Hospital de Tijucas para atender a ocorrência. No local, os policiais conversaram com a equipe de plantão que contou que Jonathan chegou no hospital já inconsciente e com sinais vitais muito baixos, e em seguida faleceu.
Um amigo da vítima relatou que os dois estavam em uma conveniência bebendo, quando Jonathan acidentalmente ingeriu a droga “pingo de solda” e passou mal. A Polícia Civil foi acionada para investigar o caso.
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