Larva da Palavra
Com organização do Coletivo Hiato (Rafael Zen e Guilherme Muller), com patrocínio da Prefeitura Municipal de Brusque, por meio da Fundação Cultural de Brusque e com recursos do Fundo Municipal de Cultura de 2016, o livro “Larva da Palavra” de Angélica Miranda, será lançado neste domingo, 09\04\2017, na Praça Sesquicentenário, as 17 horas. O livro traz poemas da autora (falecida em 2015, com poemas cedidos pela sua família e ilustrados por mim.
Para Rafael Zen, o método escolhido pelo Coletivo Hiato para este trabalho resume-se desta forma: “É sempre importante vasculhar o passado: compreender as gavetas, os rabiscos, as inflexões. Contudo, há de se atentar para o que permanece – o silvo, o rascunho, diversas (im)possibilidades. Percorremos o interior de inúmeras páginas amareladas de caderninhos mergulhados em escritos poéticos e assim iniciamos um processo arqueológico cuja busca contempla os poemas que traríamos à tona: ei-los”
O texto abaixo descreve como este processo foi para mim e minha amizade e aprendizado vivido com esta mulher maravilhosa:
Angélica nunca foi desse mundo. Seus ares de fada circularam entre nós e nos fizeram grandes. Tive a oportunidade de ser sua amiga, de me privilegiar de seus ensinamentos e seu afeto. Estar com ela era viver a própria doçura do poema. Ela era a poesia que envolvia nossas atitudes diárias com preâmbulos e mistérios. Nela, a experiência se definia transitoriamente. Ela estava em trânsito e isso ficava claro em todas as suas atitudes. Até mesmo seu corpo, pequeno e flexível flutuava entre nós nos intuindo ao empoderamento de nós mesmos. Escolher quais poemas colocar neste livro não foi fácil, pois cada um deles se faz presente como um rito de passagem. Traduzem com leveza de asas seus relicários deste mundo. Seu ser menina, mulher, mãe. Neles os resquícios de sua visão de mundo sempre conectada com a natureza, das flores, dos pássaros, das janelas e encantamentos criam rimas suspensas, que vão do romantismo a sensualidade de quem viveu sua essência. Mas foi necessário fazer escolhas, selecionar, criar uma coleção onde um trânsito específico fosse afirmado, e com isso me deleitar a desenhar para ela, minha musa, criatura que me levou a refletir o mundo, vendo-o como um caleidoscópio de peculiaridades, de agoras que só chegam a eternizarem-se através da soma de cada livre arbítrio, do sabor da vida e da morte, do ritmo.
Um voo rápido a inundar nosso céu, sem véu, mas com a fluidez das águas e a bruxuleante sensatez da chuva.