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Legado quadragenário: conheça a mulher que trabalhou por mais de 40 anos no fórum de Brusque

Eliseni Cardozo recebeu homenagens ao se despedir dos colegas

Do uso do teletipo ao primeiro voto eletrônico do país, a vida da servidora, agora aposentada, Eliseni Cardozo passou não apenas pela evolução da tecnologia, mas também pela história do fórum de Brusque, local onde trabalhou por 43 anos.

A coordenadora da Central de Mandados da comarca de Brusque, aos 57 anos, conta que sua vida particular confunde-se com a profissional.

“Minha personalidade foi construída juntamente com minha carreira no Judiciário, muitos ensinamentos que levo para a vida foram intrinsecamente vividos no âmbito profissional, ou seja, como ser proativa, como ter empatia, como ser comunicativa e como ser melhor para o mundo”, conta.

Começo

Em 1979, ela ingressou no cartório eleitoral como estagiária, aos 13 anos. Depois foi contratada pelo município e cedida ao Judiciário local em 1980, onde atuou como telefonista e teletipista –  operador de teletipo – até os idos de 1986, quando ocorreu o grande recadastramento da Justiça Eleitoral. A partir de então, ela assumiu a organização e apuração das eleições na comarca, sob o comando do desembargador Carlos Prudêncio, na época juiz eleitoral e precursor da urna eletrônica, criada na década de 1980 e colocada em prática nas eleições de 1989 em Brusque.

“O trabalho era triplicado por conta do experimento em torno do pioneirismo da urna eletrônica, mas não poderia ser considerado oficial. Nessa esteira, tinha que achar maneiras de fazer o trabalho oficial concomitantemente com o grande feito que era apresentar ao mundo essa inovação. Por isso aprendi desde muito cedo a ser dinâmica e prática, pois o serviço oficial tinha que estar em dia, observando que era eu, somente eu, como funcionária do Eleitoral até dois ou três meses antes da eleição”, relembra Eliseni.

Voto eletrônico

A inovação que era o voto eletrônico, na época, foi tema de inúmeras reportagens no ano de 1989. A servidora recorda que toda a equipe e a comarca foram destaque no Jornal Nacional e no Fantástico, ambos da Rede Globo, e não apenas por conta do novo mecanismo, mas também por ser a primeira cidade no Brasil a promover a apuração total de votos, logo após o encerramento do pleito, às 17 horas.

Eliseni ingressou como servidora do Poder Judiciário em 1986, como auxiliar de serviços gerais, em 1996 passou no concurso para agente de portaria e comunicação e em 2001 foi chamada no concurso de técnico judiciário auxiliar. Até 1998, mesmo com todas as mudanças de cargos, a servidora permaneceu no Eleitoral até o TJSC deixar de disponibilizar sua grade para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

No ano de 1999, o então diretor da comarca, juiz Cláudio Valdyr Helfenstein, a convidou para assumir o cargo de coordenadora da Central de Mandados, onde permaneceu até fevereiro deste ano.

“Administrei 23 anos este setor de um aprendizado incrível, pois ali precisei treinar minha perspicácia e sagacidade em perceber como tratar as pessoas nas suas diferentes personalidades, gerenciar muitos oficiais de justiça com diferentes anseios e perspectivas em relação ao cargo e à própria vida, enfim, foi um caminho árduo, mas gratificante ao mesmo tempo”, compartilha, ao citar que nos últimos anos passaram por lá 15 oficiais de justiça, alguns dos quais se tornaram amigos íntimos.

Tarefas

Segundo a servidora, quem pensa que trabalhar na Central é simplesmente distribuir mandados está enganado.

“É um microuniverso, cheio de nuances distintas dentro do macro, que é a administração de uma comarca. Além disso, a coordenação da Central é a porta-voz entre oficiais e cartórios e assessorias, tendo todo o cuidado para não criar rusgas e para que o serviço se desenvolva da melhor forma a fim de que a prestação jurisdicional seja efetiva”, observa.

Nos anos de 2004 e 2005, o desembargador Prudêncio assumiu a presidência do TRE-SC e Eliseni foi chamada novamente para atuar na organização e apuração das eleições. Nessa caminhada pelo PJSC, Eliseni teve a oportunidade de cursar Direito e concluir o curso de pós-graduação em Direito Processual Civil, com bolsa de estudos disponibilizada pelo Tribunal de Justiça, sem a qual não conseguiria se manter financeiramente. Ela ainda guarda com carinho na memória que em 2007 foi nomeada presidente da comissão organizadora dos Jogos da Família Forense na comarca de Brusque, evento considerado um sucesso para o turismo brusquense, pois quase 800 pessoas vieram até a cidade do Vale do Itajaí para competir e festejar.

Despedida

Na despedida de Eliseni, o sobrinho e afilhado, Lucas Cardozo dos Santos – uma das cinco pessoas da família que hoje fazem parte do Judiciário, muito em razão dela ter sido a inspiração -, emocionou a todos com seu discurso.

“Você representa o que há de melhor, não só profissionalmente, mas pessoalmente também. Você é uma pessoa com valores nobres, ética, cuidadosa, parceira presente e muito compreensiva, pois coordenar várias pessoas com pensamentos diversos é um desafio muito grande, e você conseguiu com muita nobreza e sensibilidade.” “Além disso”, continuou, “organizar tantas eleições por tantos anos, com tanta presteza, não é pra qualquer um… Você faz parte da história eleitoral do Brasil”, orgulha-se o oficial de justiça.

TJ-SC/Divulgação

Eliseni finaliza dizendo que teve muitas alegrias na sua trajetória profissional, como também algumas frustrações onde não percebeu alguns erros.

“Cometi certos equívocos, sim, mas tudo é aprendizado. Por isso tenho orgulho da minha caminhada, pois nunca deixou de bater um coração aqui dentro, tudo foi feito com o intuito de acertar, sempre.”

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