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Previsto em lei, Museu de Arte de Brusque nunca saiu do papel

No local deveriam ser expostas as obras participantes da Bienal Internacional de Brusque; grande parte foi extraviada

Criado pela lei nº 1834, sancionada em dezembro de 1993 pelo então prefeito Danilo Moritz, o Museu de Arte de Brusque (MAB) nunca saiu do papel. O museu era uma reivindicação dos artistas do município e projetado, pelo menos, desde 1988, segundo reportagens publicadas em O Município.

Quase 26 anos depois de sua ‘criação’, o MAB nunca existiu e entrou para a lista das leis não cumpridas no município.

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De acordo com a lei, o Museu de Arte de Brusque foi criado com o objetivo de “guardar, preservar, recuperar, difundir e divulgar as obras de artes que integram o acervo municipal e outras de autoria de artistas municipais, estaduais, nacionais e internacionais, oriundas de doações ou aquisição, de entidades públicas ou privadas e de pessoas físicas”.

Ainda segundo a lei, as obras de arte que integrariam o museu ficariam, em caráter temporário, até que o museu possuísse sede própria, em locais com garantia de segurança e conservação e de fácil acesso ao público: nos prédios da prefeitura, Câmara de Vereadores e Fórum.

Apesar do museu nunca ter saído do papel e, de fato, existido, a lei também não foi revogada.

Obras extraviadas
Pelo texto da lei, ficariam integradas ao acervo municipal todas as obras de arte que participaram da 1ª Bienal Internacional realizada em Brusque nos meses de julho e agosto de 1989 e que foram doadas ao museu.

Na época que a lei foi sancionada, essas obras estavam em poder e sob guarda da Secretaria Municipal de Cultura e Assuntos da Juventude e também da Associação Artístico-Cultural de Brusque (Assac).

Passados mais de 25 anos, não se sabe ao certo o paradeiro das mais de cinco mil obras – entre quadros, esculturas e desenhos – que integraram a Bienal Internacional de Brusque. Alguns quadros estão expostos na sede da Fundação Cultural, outros exemplares, acredita-se que estão no Fórum de Brusque.

“Acredito que mais de 90% das obras foram extraviadas. Sei que era para ter algumas na Policlínica, outras que não chegaram a ser restauradas no Fórum, e umas 70 a 80 obras na Fundação Cultural”, diz o artista plástico Jorge Grimm, que foi quem organizou o evento na época, quando estava a frente do departamento de Artes Plásticas da Associação Artística e Cultural de Brusque (Assac).

De acordo com ele, chegou-se até a ter um início de projeto para a construção do Museu de Arte de Brusque, que abrigaria essas obras, entretanto, nunca foi adiante. “Lembro que na época conseguimos dinheiro com patrocinadores que era mais do que suficiente para construir o museu, mas não sei como ficou”.

Em 2013, antes da mudança da Fundação Cultural para a nova sede, na Praça da Cidadania, Grimm chegou a fazer a catalogação das obras que participaram da Bienal e estavam guardadas no órgão.

Após a mudança, de acordo com o coordenador da fundação, Igor Balbinot, as obras foram colocadas em exposição permanente no local. Todos os quadros que estão sob a responsabilidade da fundação enfeitam os corredores da sede.

Ele diz que tem conhecimento da lei que criou o Museu de Arte de Brusque. A ideia atual seria criar uma galeria de arte moderna aproveitando essas obras que estão com a Fundação Cultural, entretanto, depende de recursos.

“Seria um planejamento a médio e longo prazo, agora, de imediato, não temos condições e nem recursos. As obras que estão na Fundação Cultural estão todas muito bem cuidadas”, diz.

Atual presidente da Associação Artística e Cultural de Brusque (Assac), Eneida Schaefer diz que não tem conhecimento sobre as obras. “Ficou um pouco na prefeitura, um pouco no Fórum, não sei onde estão essas peças”.

Bienal movimentou Brusque
O Município publicou, por diversas vezes, reportagens falando sobre a Bienal Internacional. Em 2 de dezembro de 1988, o jornal noticiou que já haviam chegado a Brusque “mais de mil trabalhos de 200 artistas de 46 países e 57 artistas nacionais, nos gêneros pintura, desenho, fotografia, impressos arte postal, selos, fitas cassete, cerâmica, escultura e poesia”.

A reportagem também destacou a japonesa Keiku Ryu que “era considerada a artista mais famosa da atualidade”, na época. Ainda segundo o jornal, a pintora, escultora e ceramista doou um quadro para a Bienal avaliado, àquela época, em um milhão de cruzados.

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Todos os artistas doaram seus trabalhos em troca da divulgação nos catálogos, livros e folders que seriam impressos sobre a Bienal e distribuídos pelo mundo inteiro.

“A Bienal será itinerante. Depois de Brusque, percorrerá diversos estados do Brasil durante dois anos. No final da peregrinação da exposição, os quadros serão doados ao futuro Museu de Artes de Brusque, um projeto que vem sendo ventilado pelos meios artísticos da cidade”, diz um trecho da reportagem.

A Bienal Internacional de Brusque aconteceu na Fideb, entre os dias 28 de julho a 11 de agosto e reuniu mais de quatro mil obras de 54 países, de acordo com reportagem publicada em O Município na edição de 18 de agosto de 1989.

Em 1992, aconteceu uma segunda edição da Bienal Internacional em Brusque.