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Libertação do dinheiro e pelo dinheiro (2)

O dinheiro é uma linguagem universal, um dado cultural fundamental de nossas organizações e estruturas sociais. Para falar dos mecanismos e do símbolo do dinheiro, o filósofo personalista Mounier (1905-1950), utilizou frequentemente a expressão “mundo do dinheiro”, universo que tem sua linguagem, seu sistema social e sua filosofia. Este alimenta certa “mística” e cosmovisão que […]

O dinheiro é uma linguagem universal, um dado cultural fundamental de nossas organizações e estruturas sociais. Para falar dos mecanismos e do símbolo do dinheiro, o filósofo personalista Mounier (1905-1950), utilizou frequentemente a expressão “mundo do dinheiro”, universo que tem sua linguagem, seu sistema social e sua filosofia. Este alimenta certa “mística” e cosmovisão que regem a persecução e a aquisição do dinheiro.

“O mundo do dinheiro”, segundo Mounier envolve de certa forma todos os seres humanos. Ele invade as mais diversas atividades humanas. Inclusive, a arte e a religião sofrem sua influência. Separa os seres humanos, negando a fraternidade e o amor universal, implantando a injustiça. O reino do dinheiro é uma ameaça constante à pessoa humana, comprometendo-a em sua liberdade, escravizando-a. Quebra a totalidade humana, privilegiando o valor econômico em detrimento dos outros valores.

Com efeito, o dinheiro, não tendo valor em si mesmo, reclama uma organização social. É esta que lhe dá um sentido financeiro, comercial e uma expressão psicossocial. Tal sentido revela uma civilização e uma cultura. Numa palavra, uma escala de valores. Por isso, e por outras razões.

Mounier ataca a ética e a metafísica subjacentes à crença imoderada no poder do dinheiro. Denuncia, ao mesmo tempo, toda uma falsa hierarquia de valores. O dinheiro, transformado em absoluto, pouco a pouco, mata o “reino do espírito” e o “reino da liberdade”.

A antropologia mounieriana, com sua crítica áspera ao reino do dinheiro, visa mais o espírito que anima a instituição-dinheiro que a própria instituição. Pois, de modo alguns, preconiza a supressão da instituição, do meio de medidas e de câmbio que é o dinheiro, em suas múltiplas formas e expressões. Ela o vê como uma mediação, limitada como toda mediação, indispensável ao ser humano e à comunidade humana. Contudo, ela afirma que é preciso se libertar pelo dinheiro.

Não se trata, como vimos, de uma negação pura e simples do dinheiro, mas de uma tomada de consciência e de distância da situação que ele criou e cria e, em seguida, por meio de uma ascese pessoal e comunitária, transformar o espírito que anima o mundo do dinheiro. Transformação que será operada pelo abalo profundo e pela mudança no modo de pensar, de ver o mundo, de agir e de viver de cada um, anestesiados, em grande parte, pela onipresença do influxo do reino do dinheiro.

A pessoa humana liberta pelo dinheiro completará sua libertação do dinheiro. Esta exige uma recusa e um protesto contra um mundo apresentado como “normal”. Portanto, uma revisão dos interesses, das relações, das seguranças, das tranquilidades, dos mitos…

Isto não proíbe o uso efetivo e moderado do dinheiro no espírito de pobreza. A pobreza vista e vivida como um ideal de vida. Pois, somos administradores dos bens. Não donos. Parece-lhe, à antropologia mounieriana, que este caminho é o mais adequado para situar o ser humano face a si mesmo, aos outros e ao universo físico e dos valores. Mais de acordo com sua liberdade.

Portando, libertação pelo dinheiro e do dinheiro significa servir-se dele, sem se deixar aprisionar e escravizar por ele. Significa também aceitá-lo como uma mediação limitada, embora indispensável à pessoa e às comunidades humanas.

Por isso, o esforço de personalização e de libertação da pessoa, da comunidade e do universo físico precisa levar em conta estes limites, para que o dinheiro seja um meio entre outros e não o meio de libertação da pessoa humana. E ele o será quando é devidamente colocado, em seu lugar na escala de valores, que personalizam e libertam a pessoa e a comunidade.