Licitação para conserto da cratera na SC-108, em São João Batista, será lançada ainda nesta semana
Governo do estado afirma que projeto para recuperação da via está pronto; obra custará R$ R$ 2,7 milhões
Após quase dois anos em busca de soluções para a cratera que se formou no bairro Tigipió, na rodovia SC-108, que liga São João Batista a Major Gercino, a população finalmente recebeu uma resposta concreta.
Durante a audiência pública realizada na noite de segunda-feira, 6, no salão de festas da Capela São Sebastião, o secretário do estado de Infraestrutura, Carlos Hassler, afirmou que ainda nesta semana deve ocorrer o lançamento do processo licitatório para iniciar a obra.
Ele informou que desde que assumiu o comando da pasta teve conhecimento do caso e passou a trabalhar no tema, devido à sua gravidade. O projeto para a recuperação da via já está pronto, e assim que entrar para licitação, o prazo estimado é de 30 dias até a escolha da empresa vencedora. Em seguida, a empreiteira terá mais um prazo igual para visitar o local, tomar conhecimento da obra e então iniciar os trabalhos.
A obra está orçada em R$ 2,7 milhões, mas com a licitação a tendência é de que esse valor diminua. “Não faremos a recuperação somente daquele trecho em que existe a cratera, mas também de mais 200 metros à direita e à esquerda, que correm riscos futuros também de cederem e formarem nova ruptura”, explicou o secretário.
Hassler lembrou que em todo o estado existem outros pontos críticos semelhantes e que, em uma ação geral, a secretaria deve corrigir.
“Estamos readequando recursos para atender essas situações que trazem risco. Peço desculpas à comunidade por mais uma audiência estar acontecendo, mas não é um problema único para o estado”, disse. Sem um prazo para conclusão, o secretário garante que até o fim do ano a obra deve estar finalizada.
A audiência contou com a presença dos prefeitos e vereadores de todo o Vale do Rio Tijucas, além dos vereadores de Rancho Queimado e Angelina, que se sensibilizaram com o assunto. O deputado Altair Silva (Progressistas) foi o mediador da audiência pública, e os deputados Marlene Fengler (PSD) e Maurício Eskudlark (PR) também representaram a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).
População lota salão
Os assentos no salão da capela precisaram ser improvisados com mais bancos, pois a população lotou o espaço. O auxiliar de almoxarifado Vanderlei Paulo Filipus, 38 anos, participou junto com a família. Morador do bairro Tigipió, precisa fazer o trajeto duas vezes ao dia: de manhã e à noite.
“Já dá medo de passar ali, principalmente de noite. Presenciei várias cenas que, por pouco, não se tornaram tragédias. Tem muita caçamba das extrações de areia que circulam por ali”, disse.
O casal Valdir Loz, 61, e Dalila Prada Maçaneiro, 59, de Major Gercino, também marcou presença na esperança de receberem respostas por parte do estado. “Está super perigoso. Daqui a pouco acontecerá acidente mais grave. A gente usa muito a rodovia para acessar outras cidades do Vale. Nossa família que mora fora também passa por ali constantemente. É uma preocupação coletiva”, disse Dalila.
Os alunos do ensino médio da escola Lídia Leal Gomes, de Tigipió, acompanharam a audiência e levaram um abaixo-assinado para que realmente seja feita a obra, que deve ser entregue na Alesc.
“É uma forma de conscientizar os alunos do problema que toda a população está passando. Levamos semana passada os alunos em uma escola no Centro para assistir a uma palestra, e ficamos com medo de passar com o ônibus por ali, pois não sabemos como está por debaixo também”, comentou o assistente pedagógico Jaison Simas.
A gestora escolar Andrea Stefania Piazza, da escola Vicente Gomes, de Major Gercino, também levou os alunos do ensino médio para participarem da audiência pública. “É uma causa de bem comum e eles também precisam ter noção do que é uma audiência pública e entenderem o porquê de toda essa mobilização, até porque a maioria tem pais que usam diariamente o local”, informou.
O aluno do 1º ano do ensino médio, de Tigipió, Luiz Henrique Zeitz Vicenteiner, 15, disse que a esperança dele e dos colegas era de que a audiência não se tornasse apenas promessa política. “Esperamos que alguma atitude seja tomada de verdade para solucionar o problema”.
Responsabilização pelo problema
O coordenador regional da Defesa Civil na Grande Florianópolis, Jackson Dirceu Laurindo, se manifestou e lembrou que viu a cratera nascer em junho de 2017, de dentro do gabinete do prefeito Daniel Netto Cândido.
Ele ressaltou que esta cratera não foi a primeira e não será a última no Vale do Rio Tijucas. “O processo de erosão da margem do rio é normal, mas a gente sabe que a extração mineral acelera esse processo. Então além de cobrar do governo do estado que corrija e recupere os problemas, também tem que buscar os responsáveis por causar isto”.
Para Laurindo, é necessário diagnosticar o que e quem está causando este tipo de evento que acontece em toda a bacia do rio Tijucas. “A gente sabe que existem responsáveis. O governo deve sim corrigir o problema e buscar os responsáveis para cobrir os custos, pois é dinheiro público que acaba saindo do cidadão”.
Ele acrescentou que seria interessante todos os prefeitos e vereadores do Vale do Rio Tijucas, que estavam reunidos na audiência pública, se encontrarem pós-evento para debaterem o quanto as empresas de mineração contribuem para os municípios e, em contrapartida, os problemas que causam.
“É importante discutir como poderiam criar uma política pública integrada para a bacia do rio Tijucas para reduzir a questão da extração mineral em todo o leito”, finalizou.
O secretário de Infraestrutura concordou com o coordenador regional da Defesa Civil e afirmou que o estado irá buscar a identificação dos responsáveis pelo problema.