Lições da carne fraca
Glauco José Côrte - Presidente da Fiesc
Glauco José Côrte - Presidente da Fiesc
Depois da forte repercussão internacional causada pela infeliz operação Carne Fraca, que resultou em suspensões temporárias de importações da carne brasileira por alguns dos principais mercados consumidores internacionais, a decisão da China, do Egito e do Chile de levantar as barreiras é recebida com alívio pela agroindústria. Embora ainda difíceis de mensurar, é certo que haverá grandes prejuízos ao setor, sendo o dano à imagem do produto o mais preocupante deles. Os desdobramentos da operação serão acompanhados atentamente pelos brasileiros ao longo dos próximos meses, mas já é possível avaliar algumas lições do episódio.
A mais importante é o predomínio da responsabilidade necessária ao se tratar de tema tão sensível, que envolve uma cadeia que assegura sustento a milhares de famílias no campo e gera centenas de milhares de empregos nas plantas fabris do País. Para se ter uma ideia, só em Santa Catarina estamos falando de 60 mil postos de trabalho diretos na indústria de carnes e de um sistema de integração fundamental para manter viável a atividade econômica de pequenas propriedades. As carnes de frango e de suínos constituem o principal item da pauta de exportação do Estado. Entre 2010 e 2016 representaram quase 30% das nossas vendas internacionais, com média anual de embarques entre US$ 2 bilhões e US$ 2,7 bilhões.
Essa posição de destaque resulta de décadas de dedicação, esforço, pesquisa e investimentos em sanidade por parte das empresas e do governo. Tanto é que Santa Catarina tem status sanitário internacional diferenciado. E isso não é reconhecido apenas pelos governos dos países para os quais exportamos, mas também pelos importadores, que fiscalizam os rigorosos patamares de exigência que estabelecem para comprar a carne catarinense. Os mesmos que são aplicados pela agroindústria quando direciona seus produtos para o mercado brasileiro.
O setor do agronegócio defende as investigações, que são necessárias para punir eventuais desvios de conduta. Mas espera responsabilidade na divulgação de seus resultados, para que o consumidor, tanto doméstico quanto internacional, não seja induzido a interpretar que problemas isolados são a regra.
A ação proativa, rápida e eficiente dos governos e das entidades associativas que representam o setor foi fundamental para começar a recolocar as coisas nos seus devidos lugares. Se todos os envolvidos agirem com a responsabilidade que o tema exige, não precisaremos passar outra vez por situações como estas no futuro.
Por Glauco José Côrte, presidente da Fiesc