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Ligada à natureza, Botuverá recebe acampamentos espirituais da Igreja Católica durante todo o ano

O contato intenso com a natureza fez com que a cidade se tornasse o local perfeito para acolher um novo modelo de evangelização

Município que mantém praticamente intocadas suas matas, Botuverá é habitada por um povo que valoriza a terra. O contato intenso com a natureza fez com que se tornasse o local perfeito para acolher um novo modelo de evangelização: os acampamentos espirituais.

“Botuverá acolhe isso, e essa acolhida é muito importante para nós”, explica o padre Luciano Toller, orientador espiritual dos campistas, que é como são chamados os participantes. No sítio do Calcário Botuverá, eles fazem uma jornada de cinco dias reclusos em atividades em grupo, destinadas, sobretudo, ao autoconhecimento e à absorção do espírito de comunidade.

O modelo surgiu nos Estados Unidos, como um curso dado a executivos, para que ficassem juntos cinco dias e aprendessem a conviver melhor, respeitar os limites dos outros e melhorar o relacionamento. Um padre mexicano, Prado Flores, adaptou o modelo à Igreja Católica.No Brasil, existe há cerca de uma década. Oito anos atrás, um grupo da região foi ao Sudeste conhecer a prática, e gostou do que viu.

O empresário e vice-prefeito Nilo Barni, um dos donos do sítio, se interessou por trazer a Botuverá os encontros. A Associação Santa Terezinha do Menino Jesus é a entidade que os organiza. Lá, também são recebidos participantes de Brusque, Guabiruba e eventualmente de outros municípios.

As atividades realizadas no sítio não podem ser detalhadas, para que os futuros participantes sejam surpreendidos. No entanto, a experiência vivida no local é descrita pelo padre Toller como “um encontro com Deus”. Lá, organizados em grupos distribuídos por cores, os campistas são instigados a reconhecer os valores dos outros e a respeitar os seus limites.

“Ali se dá a retomada da fé, da caminhada, com objetivo de servir na comunidade. Muitas vezes se abandona vícios, é um conjunto de modificações que acontece”, explica o orientador espiritual.Com encontros separados para adolescentes, jovens, adultos e casais, os acampamentos têm promovido transformação na vida de botuveraenses que andavam afastados da fé.

“Antes do acampamento, eu tinha uma visão de vida diferente, trabalhava 16 horas por dia, não ia à igreja, achava uma perda de tempo. De tanto focar em outras coisas meu casamento quase foi por água abaixo”, relata o empresário botuveraense Luís Augusto Camargo. “Hoje eu posso falar com toda confiança do mundo que foi a melhor coisa que eu fiz”.

Ao sair de lá, Camargo vendeu sua empresa anterior para ter mais tempo para a família e para exercer sua fé. “Aqui em Botuverá o que eu vejo é que o acampamento traz um novo fôlego para a Igreja Católica, catequistas estão surgindo, as pessoas estão ajudando mais”.E esse é justamente um dos objetivos dos acampamentos. Após sair de lá, os campistas são convocados, posteriormente, a serem voluntários nas próximas edições, auxiliando na organização e orientando aqueles que participam pela primeira vez. Desperta-se, assim, o espírito comunitário.

2 mil pessoas na espera

Hoje há uma lista de espera estimada em 2 mil pessoas, mesmo sendo realizados encontros a cada dois meses, em média. A prática, devido aos seus visíveis resultados, tornou-se bastante popular.Lá, os campistas partilham histórias e experiências. É um espaço também para repensar o caminho trilhado, reacender a fé e voltar mais animado para enfrentar as adversidades da vida.

“O acampamento foi uma transformação radical em minha vida”, diz o comerciante Ivandro Mariani. Ele, que participou pela primeira vez em 2009, classifica a experiência como um “pedaço do céu”, e também relata uma participação mais ativa nas atividades comunitárias após ter sido campista.

“Antes eu participava da igreja por obrigação, depois que fiz o acampamento eu comecei a entender o que é a igreja, o que é Deus. Antes eu só escutava falar, agora, ele anda junto comigo”, diz a também comerciante Deise Pavesi. Para ela, a grande lição dos acampamentos é ver a transformação que Deus pode fazer na vida das pessoas: “não tem preço que pague”, sintetiza. “E hoje busco agradecer a Deus servindo na minha comunidade”.

Assim, aos poucos Botuverá tem se tornado o epicentro de um movimento de restauração da fé daqueles que consideravam-na segundo plano, e essa mesma fé, recuperada, se multiplica pelas mãos de cada campista que leva para fora as lições que aprendeu lá dentro.