Luciano Hang fala sobre os 30 anos da Havan e os efeitos da crise econômica
Idealizador da rede de lojas brusquense conversou com o Município Dia a Dia nesta semana
Idealizador da rede de lojas brusquense conversou com o Município Dia a Dia nesta semana
O trabalho árduo, a superação de desafios e a concretização de sonhos são três dos pilares fundamentais que sustentam e ampliam a história de uma das maiores redes de lojas de departamentos do Brasil: a brusquense Havan. No último domingo, 26, a rede completou três décadas de fundação.
Idealizada pelo empresário Luciano Hang em parceria com Vanderlei de Limas, a Havan nasceu a partir de uma pequena loja de tecidos localizada na avenida Primeiro de Maio. Atualmente, a marca conta com 93 filiais espalhadas por 74 cidades de 14 estados do país. São mais de um milhão de metros quadrados construídos.
Para falar sobre os 30 anos da rede, o crescimento da marca, investimentos, a crise econômica do país e também o cenário político atual, Hang recebeu a reportagem na sede administrativa da Havan na manhã de ontem.
Aos 54 anos de idade, o empresário demonstra, em cada fala, a importância dos colaboradores para a expansão da marca. Ao todo, a rede possui 10 mil funcionários. Em cada um deles, Hang vislumbra potencial e capacidade. Ele, inclusive, insere-se como apenas mais um no quadro total de colaboradores.
A Havan pelo país
“A Havan aumentou a sua expansão a partir de 2009 quando sentimos que o modelo de negócio que nós tínhamos era um modelo vencedor. Então, escolhemos estados pelo país e fomos abrindo lojas. Saímos de 2009 com cerca de 20 lojas. E nosso intuito era chegar em 2012 com 50 megalojas espalhadas pelo país, o que também conseguimos. A partir de 2012 começamos um novo projeto que era ter 100 lojas até 2015. Somente em 2014, criamos 24 novas lojas, ou seja, uma loja praticamente a cada 15 dias. Mas veio a crise e nós achamos mais prudente parar o plano de expansão e cuidar mais do dia a dia da empresa para que pudéssemos passar a crise com tranquilidade”.
“Devemos abrir mais uma ou duas lojas neste ano. As duas lojas que estão sendo construídas começaram em 2015 e estamos esperando os acabamentos para poder inaugurar. As duas são no estado de São Paulo, uma na Praia Grande e a outra em Jundiaí. Mas já temos 12 terrenos comprados e mais sete lojas, com a parte estrutural, compradas. E quem sabe no ano que vem vamos fazer a tão sonhada centésima loja. Somos assim, tão logo acabamos de concretizar um objetivo, já passamos para outro. A Havan vive de objetivos e são sempre objetivos ousados para que toda a nossa equipe fique bem engajada. Quando você tem objetivos pequenos e sonhos pequenos, você acaba trabalhando menos e se esforçando menos. E quando você tem grandes objetivos e grandes sonhos, e quando consegue passar isso para os colaboradores, todos eles veem a oportunidade de crescer profissionalmente e como pessoa e, por isso, todos eles começam a se engajar nesse projeto e a partir desse projeto fazem os seus objetivos. E é muito importante tão logo consigamos fazer a centésima loja, já tenhamos outro objetivo que é chegar a 200 megalojas espalhadas pelo país”.
“Temos lojas no Norte, no Nordeste, no Centro-oeste, no Sudeste. A Havan cresceu para todas as regiões do país. Nós tivemos uma receptividade muito grande no Centro-oeste, no Norte e no Nordeste. Principalmente no Centro-oeste, onde já temos sete lojas só no Mato Grosso, mais quatro lojas no Mato Grosso do Sul. Essa reciprocidade acontece porque a loja é diferente. A Havan tem um estilo diferente, um modelo diferente e uma variedade única no país. São lojas enormes que tentam fazer tudo aquilo que o cliente espera da loja. Há estacionamento, há variedade e há boas condições de pagamento. Os espaços também são cada vez mais espaçosos e aconchegantes. Eu sempre falo que o grande sucesso da Havan é descobrir o que o cliente quer e tentar realizar esse sonho”.
Brusque
“Embora a Havan abra lojas pelo Brasil todo, sempre vai dar mais atenção para a nossa matriz. E para isso foi passando os anos e fomos aumentando a estrutura aqui de Brusque, tanto na sede administrativa como no tamanho de lojas e como trazendo bandeiras como McDonald’s, Subway e Madero. Assim, fomos fazendo ela praticamente como um shopping center. E se você andar pelo Brasil todo você não vai encontrar uma loja com essa estrutura, com cinemas, com praça de alimentação, com duas mil vagas de estacionamento gratuito, ou seja, vai passando os anos e sempre vamos investindo na loja de Brusque, porque ela atrai milhares de pessoas. Passam por mês na loja de Brusque de 200 a 300 mil visitantes. Pessoas do Brasil todo e até da Argentina, do Uruguai e do Paraguai. A Havan de Brusque, por ser a matriz e por ser onde tudo começou, não deixa de ser um ponto turístico”.
“Estamos sempre a procura de inovações, sempre que houver a possiblidade de trazer alguma coisa nova para Brusque para inovar, vamos atrás e vamos trazer. Queremos deixar essa região cada vez mais atrativa. Não tenho dúvida de que Brusque é uma marca importante como polo de pronta-entrega e polo de produção têxtil. A Havan tenta produzir na cidade de Brusque tudo aquilo que precisa, tanto em confecção quanto cama, mesa e banho. Compramos de Brusque, Guabiruba, Botuverá, Gaspar, Blumenau, Indaial e toda essa região. Todo o têxtil que precisa compramos aqui e mandamos para todo o Brasil, então geramos milhares de empregos diretos e outros milhares de empregos indiretos. Há muitas empresas de Brusque trabalhando praticamente com exclusividade para a Havan”.
“Acho que é muito importante para os nossos colaboradores, ontem [segunda-feira] eu falava sobre esse assunto com os colaboradores. Nada melhor do que estar numa empresa que continua crescendo, porque aí você vê a oportunidade de crescer profissionalmente e como pessoa. Quando nós trabalhamos em uma empresa que não cresce mais, não há perspectiva de crescimento. A Havan quer continuar crescendo para gerar oportunidades para que as pessoas sonhem em melhorar a sua vida, em ganhar mais e em prosperar mais. Hoje temos lojas em todos os cantos do país com pessoas que começaram em cidades pequenas em que há a Havan. Hoje essas pessoas são nossos gerentes, nossos supervisores e nossos diretores. Nós queremos dar esse sonho de crescimento profissional. As pessoas precisam acreditar que vão crescer na vida. E o trabalho é o segredo da Havan. São 10 mil colaboradores que tocam a empresa e eu sou apenas mais um colaborador. Eu acredito nas pessoas, acredito que cada indivíduo tem uma capacidade”.
“A política é necessária, os políticos são necessários. E para a cidade de Brusque também, como é para o estado e para o país. Queremos sempre políticos com boa gestão. Queremos que um político pense como um empresário e um empreendedor. Quem assume o governo municipal, estadual ou federal tem que pensar em como utilizar da melhor forma o imposto que recebe. Não é gastando mais para cobrar mais impostos. É pensando como vai utilizar esse recurso da melhor maneira possível otimizando uma quantidade mínima de colaboradores. Nos países que eu visito, eu vejo que os políticos trabalham melhor com o mínimo. O município de Brusque é um município que tem tudo para dar certo, temos uma inciativa privada muito boa, temos empreendedores maravilhosos. É um município que vive do trabalho. Aliás, é um dos melhores municípios de empreendedores do pais, que começou lá atrás com a Renaux , com a Buettner e com a Schlösser, que através das pessoas foram nascendo e criaram esse espírito empreendedor. Eu torço para Brusque, para Santa Catarina e para o Brasil melhorarem, mas isso passa por uma reorganização política, por uma redução drástica no número de partidos. E eu também acho que a qualidade dos nossos políticos tem que melhorar. Nós exigimos vários diplomas e várias qualificações para as pessoas desenvolverem suas profissões, e acabamos colocamos na política pessoas sem qualificação nenhuma, com grande discurso, mas com zero de gestão”.
Crise econômica
“Dados históricos da economia, do PIB, dizem que esse crise ultrapassa a crise de 1929 e 1930. Durante dois ou três anos teremos uma queda de PIB, uma queda da atividade econômica, da indústria, do comércio. Eu, como empresário há 30 anos, já vi muitas crises. Eu vivi a época da inflação, eu vivi a época dos planos econômicos, mais igual a essa crise eu nunca havia visto igual. Toda a economia se contraiu e está se arrastando por muitos meses e faz com que as pessoas não vejam um horizonte. O empreendedor, o empresário, bem como o consumidor, precisam ter a certeza do futuro para gastar e investir. O que nós precisamos urgentemente é acabar com a crise política, e acabando com a crise política vamos ter uma certeza na economia. E no nosso caso, vamos voltar a investir, gerar empregos e abrir novas lojas”.
“No ano passado éramos para completar a centésima loja, íamos inclusive completar 106 lojas, estamos com 15 lojas programadas. Quando notamos que a crise econômica que se apresentava era séria, simplesmente paramos de fazer as lojas e passamos a nos concentrar em deixar a nossa empresa mais economicamente viável no sentido de redução de despesas e de geração de caixa, ou seja, aquilo que o governo devia fazer, reduzindo a despesa e aumentando a sua receita. E com isso nós criamos musculatura para passarmos o ano de 2015 de uma maneira excelente e vamos passar 2016 da mesma forma. Estamos tranquilos que vamos fazer um 2016 dentro da nossa expectativa, preparados para 2017. E tão logo essa crise vá embora, nós vamos voltar a investir no Brasil”.
“Tudo depende de como o governo toca as coisas. Nós, empreendedores, e toda a população queremos um sinal de que o governo passa a fazer as coisas da melhor forma possível. Eu viajo o mundo todo e vejo o quanto o Brasil precisa melhorar. Nós temos a pior infraestrutura dos últimos tempos. Não temos estrada. Está tudo a Deus dará e temos uma burocracia única no mundo. Temos os produtos mais caros do mundo. Se você vai para a Europa ou para os Estados Unidos, por exemplo, você vê como os produtos lá em valor absoluto são mais baratos do que no Brasil. A energia no Brasil é a mais cara do mundo, o litro do combustível é um dos mais caros do mundo. Todo o dinheiro que é arrecadado no Brasil vai para a máquina pública e de lá desaparece. Eu vejo que enquanto nós empresários estamos reduzindo nossa folha de pagamento e reduzindo nosso número de funcionários para que possamos fazer frente à crise, os órgãos públicos continuam contratando e colocando gente. Cada vez mais essa máquina pública tem que ser reduzida para diminuir os impostos”.