Lula, Marat e Maradona
Quem quer que já tenha passado pelo ensino médio deve ter ouvido, mais de uma vez, algum discurso inflamado contra a Idade Média, pintada como tempo de obscuridade, desmando e dogmatismo. Em contraposição, tudo o que é moderno representa iluminação, racionalidade, crítica. Essa ideia se tornou tão universal, que falar contra é quase que defender […]
Quem quer que já tenha passado pelo ensino médio deve ter ouvido, mais de uma vez, algum discurso inflamado contra a Idade Média, pintada como tempo de obscuridade, desmando e dogmatismo. Em contraposição, tudo o que é moderno representa iluminação, racionalidade, crítica. Essa ideia se tornou tão universal, que falar contra é quase que defender a quadratura do círculo.
Os fatos, porém, são bem diferentes. Durante a Idade Média, havia intensos debates sobre quaisquer ideias, e nenhum filósofo faria sucesso com ideias de almanaque, já que havia gente preparada para debater e depurar qualquer questão teórica. Os modernos, escrevendo para si mesmos, lograram reinventar a roda e acabaram se afastando tanto da realidade nas suas filosofanças, que geraram as mais esdrúxulas crenças. Entre elas, está uma enormemente aceita hoje: a de que somos nós que criamos a realidade, ou que a descontruímos, conforme queremos. Essa tem sido a tônica da vida intelectual desde há muito tempo. Quem segue essa tendência acredita ser “crítico”. Quem tenta mostrar suas falhas é, em geral, chamado de “dogmático” ou obscurantista. Com isso em mente, podemos tentar compreender um pouco do que se passa na cabeça dos defensores de Lula, que, a essa altura do campeonato, insistem na sua inocência. Aliás, transformam-no numa espécie de divindade. Aliás, é curioso que, de correntes teóricas que se dizem tão apegadas à crítica, saiam as posições mais extremadas e mais desconectadas da realidade.
E é igualmente curioso que os que se consideram mais críticos não aceitem, de modo algum, que suas ideias sejam contrariadas. Pois bem, se quiserem saber bem o que é o tal “dogmatismo”, “obscurantismo” e a tal “Idade das Trevas”, basta olhar para o comportamento dos adoradores de Lula, ou para o MST, que está defendendo quem fez menos reforma agrária que o FHC (será que algum dia alguém vai me explicar isso?). O fenômeno não é mais político ou ideológico, mas religioso. Não há a menor chance de diálogo racional: o fanatismo dominou os integrantes da seita lulista. Vivem numa realidade paralela, criada por eles, na qual Lula é mártir, o impeachment foi golpe, a Venezuela é uma democracia e daí por diante. Algo parecido já havia acontecido durante a Revolução Francesa. O líder jacobino Jean Paul Marat, dono de um jornal chamado “Amigo do Povo”, era o radical mais extremista da revolução, responsável pela morte de milhares de pessoas na guilhotina. Quando foi assassinado, tornou-se um mártir, um “santo”, um “deus”, inclusive com a substituição de crucifixos em igrejas pela banheira na qual foi morto. Outra “divindade” é Diego Armando Maradona, que tem igreja com seu nome em Buenos Aires e membros fanáticos na sua seita de adoradores. Diante de tudo isso, só resta repetir o jargão de que a inteligência humana é limitada, mas a estupidez é um poço sem fundo.