Mãe denuncia monitora de escola por “traumatizar” filho com autismo em Brusque
Ela relata que a profissional ameaçou chamar a polícia caso o menino não copiasse a tarefa
Era 19 de maio, quando a autônoma Daniela Maria Pinto, de 40 anos, deixou o filho Guilherme Emanuel Vermelho, na época com 9 anos, na porta da Escola de Ensino Fundamental Professora Augusta Knorring, no Steffen, em Brusque. Segundo a mãe, o menino, que tem transtorno do espectro autista (TEA), teve um surto psicológico ao entrar na unidade de ensino.
“Quando a monitora fechou a porta, ele começou a se debater a gritar: ‘ela vai chamar a polícia’, ‘a professora vai chamar a polícia’. Se referindo a monitora. Ele saiu correndo. Defecou na roupa, vomitou”, relata a mãe, que afirma ter presenciado a cena.
A mãe procurou o jornal O Município para denunciar a monitora da escola por ter “traumatizado” a criança durante a aula. Segundo ela, o menino relatou que a mulher ameaçou chamar a polícia caso ele não copiasse a matéria. Isso teria desestabilizado a saúde mental da criança, que também tem epilepsia. Desde então, ele não conseguiu mais voltar a entrar na escola. “Já se tornou um trauma”, afirma.
Agora, em outubro, Daniela aponta que, mesmo com denúncias para a escola, Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), Conselho Tutelar e Polícia Civil, ela ainda não recebeu nenhum retorno. Além disso, a mãe ressalta que a monitora continua atuando na escola.
Daniela detalha que o filho já apresentava resistência para ir a aula dias antes. Ela acredita que a situação tenha começado entre 17 e 18 de maio, pois Guilherme relatava as ameaças: “A prô está me ameaçando, se eu não copiar a polícia vai me pegar”, reproduz a mãe. “Eu pensava que poderia ser algo da cabeça dele, mas foi se agravando. Isso é o que ele falou, mas vai saber de quando começou”, continua.
Após o surto do filho, a mãe relata que não conseguiu acalmá-lo, pois nunca tinha acontecido algo assim antes. Então, ela o levou para a neurologista da criança.
“Ao chegar na médica, a doutora falou que ele estava tendo uma crise de pânico e ansiedade. Aí a doutora falou que ele estava nervoso por causa das ameaças. Pedia socorro. Falar para uma criança com autismo que vai chamar a polícia é um problema”, diz.
Meses de espera
A família é moradora da localidade Cerâmica Reis, no Steffen. Hoje, Guilherme tem 10 anos e ainda não voltou para a sala de aula. Segundo a mãe, ainda no dia do incidente, ela voltou até a escola para cobrar uma explicação. Contudo, foi decidido fazer uma reunião com a presença do marido, que não estava na cidade por ser caminhoneiro.
No dia seguinte, 20 de maio, aconteceu a reunião, mas Daniela ressalta que a monitora não estava. A diretora da escola teria falado que chamou a monitora e que ela confessou que falou a palavra “polícia” para a criança. Entretanto, a justificativa seria a presença do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), que tinha entrado na sala de aula.
Depois da reunião, Daniela conta que foi até o batalhão da Polícia Militar e o policial responsável disse que não esteve na escola naquele dia. Também, ela detalha que o policial falou que nem que entraria no 4º ano, pois o Proerd atua apenas no 5ª ano.
Daniela também diz que também procurou o Ministério Público. Fez uma denúncia e relatou o caso. Após sete dias, ela foi informada que o caso tinha sido encerrado. Ela afirma que isso aconteceu pois a escola defendeu a monitora.
Em 5 de agosto, Daniela procurou a polícia e fez o BO. Em seguida, foi ao Conselho Tutelar denunciar o caso. Ela ainda aguarda o retorno da polícia para prestar depoimento.
Segundo a mãe, duas pessoas do conselho foram até a casa da família para observar o local. “Uma delas falou pra mim que ‘talvez o problema esteja em você’, que era pra eu esquecer essa mágoa e seguir em frente, e sugeriu eu trocar o Gui da escola”, relata.
Daniela destaca que questionou ao conselho se iriam investigar a situação. Até agora, ela conta que não teve nenhuma resposta.
Efeitos psicológicos
Guilherme começou a ter tratamento psicológico em 21 de julho. Segundo a mãe, o psicólogo a orientou procurar o Conselho Tutelar e fazer o Boletim de Ocorrência (B.O.) pela Polícia Civil. Por meio de uma declaração, datada do dia 29 de julho, o psicólogo atesta os efeitos psicológicos causados pelo acontecido.
“Em consulta com Guilherme, o mesmo apresenta taquicardia, sudorese, estereotipias e preocupação ao falar sobre a escola e situações vivenciadas, evidenciando aversão ao atual ambiente escolar”, aponta.
Segundo Daniela, após o trauma, Guilherme também começou a ser medicado. “Ele relata ao psicólogo que está sofrendo. É um sono perturbado, até agora ele não consegue entrar sozinho no consultório. Precisa se adaptar com a sala, sozinho ele entra em pânico”, afirma.
A mãe relembra que um caso mais antigo já tinha acontecido na escola, quando Guilherme não conseguia fazer um exercício na aula de educação física. A mãe descobriu que o professor teria chacoalhado o menino, que ficou mal e foi afastado da escola pela neurologista. Contudo, nesta situação, o professor foi afastado e a criança voltou para a escola.
“Acredito que a justiça seja tirar a monitora da escola. Ele é apenas uma criança, e eu tenho que defender ele”, diz a mãe. “Isso é um grito de alerta para as mães, que são coisas que podem acontecer”, finaliza.
Respostas
A reportagem procurou a escola e a Secretaria de Educação de Brusque. Em resposta única, a pasta comunicou que está ciente do ocorrido e que acompanhou todos os procedimentos realizados no caso. De acordo com a Polícia Civil, com o BO feito, o caso ainda será investigado.
Segundo o Conselho Tutelar de Brusque, a atuação das conselheiras foi no sentido de orientar e mediar a relação entre família e escola. Isso ocorreu pois, de acordo com o conselho, a escola já havia tomado providências cabíveis para melhor atender a criança.
“O que a mãe verbalizou com relação às suas expectativas, não poderiam ser realizadas pelo Conselho Tutelar, pois não são de competência deste órgão. Entendemos que o Conselho Tutelar agiu dentro das suas atribuições, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), prezando pela garantia dos direitos da criança em questão”, finaliza a nota.
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