Mais de 20 bandas autorais estão na ativa em Brusque; conheça a história de três delas
Município é conhecido pelo cenário musical efervescente; Confira os desafios e os resultados da produção local
Em Brusque, 22 bandas autorais estão na ativa, de acordo com a lista de registros da Fundação Cultural.
Das mais recentes até os mais veteranas, elas produzem conteúdos únicos e movimentam o cenário musical da cidade, desde singles (músicas de divulgação) até álbum com músicas inéditas.
Dentre elas, está a Pulsação, fundada há 21 anos. Ela foi a primeira banda brusquense a gravar um videoclipe, para a música Vícios, em meados de 2000.
Para o baterista da banda, Alex Gonçalves, 45 anos, Brusque sempre teve uma boa qualidade musical. “A história mostra que a cidade já foi a capital do rock do final dos anos 1980, com bandas que se destacaram nacionalmente, como o Bandeira Federal”, conta.
Segundo ele, atualmente, a qualidade permanece alta, com diversas bandas e artistas que reverberam o nome da cidade pela região e pelo Brasil. Ele cita a Etílicos e Sedentos, Morenas Azuis, Capim e Bryan Behr. “Acredito que estamos vivendo um bom momento”, completa.
A Pulsação é formada por Widman W. Muller (guitarra), Jeferson Petermann (baixo), Gabriel Zambiazzi (vocal) e Alex Gonçalves (bateria).
Segundo o baterista da banda Etílicos e Sedentos, Juninho Tavares, 39, o rock em Brusque pode ser considerado um patrimônio cultural da cidade, pois, historicamente, acompanha o surgimento de produções locais, desde as bandas que surgiram no município na década de 1980 até hoje.
“Então, penso que isso já é algo intrínseco na nossa cultura, em especial para os mais jovens. É o filho se inspirando no pai que já teve uma banda, o sobrinho se inspirando no tio, o aluno se inspirando no professor e assim por diante”, conta.
Além disso, Juninho reforça que, atualmente, a existência de mais de 20 bandas autorais, que lançam conteúdo e fazem shows pelo Brasil afora, contribui para o cenário musical do município. “Acredito que vivemos a época mais produtiva da história do rock autoral da nossa terrinha”, diz.
Há 13 anos na estrada, a Etílicos e Sedentos possui três álbuns e um EP de músicas inéditas lançados, um álbum tributo ao Rock Brusquense, nove videoclipes e 230 shows apresentados.
Ela é formada por Juninho Tavares (bateria), André Gomes (baixo), Cleber de Limas (vocal, flauta doce, escaleta, gaita de boca, guitarra) e Lucas Rhuan Fischer (guitarra).
A avaliação é a mesma para o vocalista e guitarrista da banda Galáxia, Jean Miguel, 36. Para ele, poucas cidades catarinenses contam com um cenário musical aquecido como Brusque, principalmente, quando se fala de rock.
“Criou-se um estilo de tocar rock que é próprio dos músicos brusquenses, algo que resgata elementos do rock dos anos 70 e 90 e se atualiza a partir das experiências próprias de cada banda”, comenta.
Porém, ele observa que é preciso mais iniciativas que promovam eventos na região, para oportunizar apresentações de diferentes bandas. No estado, ele acredita que é necessário um grande festival de rock, para impulsionar nacionalmente o que é feito por aqui.
Com seis anos de estrada, a banda Galáxia conta com dois EPs e dois álbuns gravados. Ela é formada Jean Miguel (vocais e cordas), Louis Machado (vocais, cordas e sintetizador), Lucas Maurici (baixo e backing vocal) e Felipe Schorny (bateria).
Processo de criação
Alex, da Pulsação, conta que os desafios são maiores para bandas autorais. “Precisamos mostrar o nosso trabalho e, para isso, além das gravações e videoclipes, temos que tocar, pois esse é o objetivo”, conta.
Para ele, o mais difícil é encontrar lugares que abrem espaço para conteúdo autoral, pois a preferência é maior pelos covers. Uma opção, segundo ele, é preparar um repertório de covers e inserir as músicas autorais aos poucos no meio, para abrir o caminho.
“Em outras situações, existem eventos direcionados para isso com um público alvo bem específico. Aqui em Brusque um exemplo é o Rock na Praça, que há quase 20 anos cede espaço para bandas como a nossa”, destaca.
Jean, da Galáxia, acredita que todas as bandas independentes possuem problemas financeiros e problemas para conciliar os projetos individuais dos integrantes com os compromissos da banda.
Além disso, outra questão é manter o processo criativo em curso. “Acredito que esse seja o grande desafio, pois a banda que não estiver constantemente motivada por novas ideias corre o risco de ter um fim próximo”, explica.
Segundo Juninho, da Etílicos e Sedentos, é necessário se manter motivado o maior tempo possível, para poder evoluir como banda e lidar com os problemas que surgem no caminho.
“A busca por uma ilusória ‘perfeição’ acaba nos tornando produtivos ‘artisticamente’ e isso é o que nos move, talvez até seja este o segredo da nossa longevidade”, conta.
A produção de conteúdo é intensa, com álbuns, videoclipes, singles e mais recentemente com lives para o canal da banda no YouTube. “Toda trajetória da Etílicos e Sedentos é baseada no respeito que temos entre nós, pois, antes de mais nada, somos amigos. Amigos de verdade”, completa.
Resultado de muito trabalho
Criar melodias, compor letras e apresentar a arte ao mundo não é um trabalho fácil, principalmente em momentos de profissionalização do artista. Mas com muito esforço, os resultados agradam os músicos.
“Tocar ao vivo sempre é bom. Se você consegue conquistar um público e vê as pessoas cantando as suas músicas, é o melhor reconhecimento que um artista pode ter”, destaca Alex.
Ele ressalta as conquistas, como ter reconhecimento do público da cidade e da região, com as músicas produzidas pela banda presentes nas rádios, além de lotar as casas por onde apresentam.
“Além do nosso estado, levamos nosso trabalho a Maringá, São Paulo e Porto Alegre. Creio que a música Vício é um dos maiores troféus da banda. Onde toca, a galera canta junto. Isso é muito legal”, completa.
Segundo Juninho, os integrantes da Etílicos e Sedentos são apaixonados pelo processo criativo do rock autoral.
“Desde os ensaios, pré-produções, gravações e principalmente os shows ao vivo, pois é no palco que a magia acontece, é onde tudo faz valer a pena. Ouvir a galera cantando uma música sua é mágico e viciante. O palco é a nossa cachaça”, conta.
Para ele, todos os trabalhos são especiais. Porém, gravar com outros artistas por quais possuem a admiração é muito gratificante. Juninho conta que em 2015, o Gazu, ex-integrante do Dazaranha, foi uma participação especial na música Ponto Final, do álbum V. 3.
Outra participação destacada por ele foi a do vocalista Paulão, da banda Velhas Virgens. Ele participou da gravação ao vivo da música Cachorro de Rua, do primeiro álbum da banda.
“Posso afirmar que foi um dos momentos mais legais que tive na minha vida artística. Sem falar que o Paulão se tornou um grande amigo da banda e sempre que está na região nos encontramos para beber e jogar conversa fora”, ressalta.
Para Jean, da Galáxia, a melhor parte de ter uma banda é pode ser expressar com a música. Ele conta que a recompensa é ver algo produzido por ele, a partir de uma visão de mundo, contagiar e inspirar várias outras pessoas que compartilham das mesmas emoções.
Dentre as maiores conquistas estão os quatro álbuns gravados. “Apesar das facilidades técnicas que se tem hoje em dia para gravar sons, sempre é preciso um grande esforço coletivo para que a música seja produzida e divulgada. Gravar um álbum completo é sempre um grande feito”, comenta.
Segundo ele, outra conquista é a turnê que a Galáxia fez no sudeste, no ano passado. Tocaram duas vezes na cidade de São Paulo e na cidade de São Tomé das Letras, em Minas Gerais. A experiência influenciou a composição das músicas que estão no novo álbum da banda, lançado em junho.
Sobre o início
De acordo com Alex, a Pulsação surgiu após o fim da banda Cabeça Demente. Em 1998, o vocalista Marcelo Fischer (in memorian) e o guitarrista Widman, que já tocavam juntos, resolveram formar a banda.
“Daí convidaram o Jeferson para o baixo e logo em seguida eu fui convidado a assumir as baquetas, começamos os ensaios e a coisa fluiu muito bem”, conta.
O grupo fez uma pausa de 2001 até 2010, quando voltaram. Entretanto, em 2011, o vocalista Marcelo faleceu, foi a perda de um grande ícone do rock brusquense, e a banda fez uma segunda parada.
Em 2018, o grupo voltou para uma reunião comemorativa, com Gabriel Zambiazzi nos vocais. Lançaram um documentário contando a história da banda e gravaram a música inédita Antes do Depois.
Juninho conta que a banda Etílicos e Sedentos surgiu em 2006, após uma conversa entre ele e Moacir Visconti, que foi guitarrista da banda até 2014. “Já tínhamos tocado juntos em uma banda chamada Bêrsadi, então decidimos montar um novo projeto, mas dessa vez voltado 100% pro autoral”, recorda.
O passo seguinte foi convidar o vocalista Cleber de Limas, que também tocava Bêrsadi, e o baixista André Gomes. De acordo com o baterista, foi marcado um ensaio para uma noite de segunda-feira, e até hoje este dia da semana é destinado aos ensaios.
O nome da banda surgiu seis meses após eles iniciarem os ensaios. A origem é de uma das primeiras músicas composta pela banda, de mesmo nome, que está presente no primeiro álbum do grupo.
“Tem como temática uma pessoa com dificuldades sociais devido ao excesso de álcool. Achamos que este nome composto soava bem pra uma banda de rock e tinha certa familiaridade conosco”, diz, com uma risada.
A banda Galáxia surgiu em 2013. Segundo Jean, a grupo começou do objetivo de gravar um disco com um repertório que estava pronto. Ele e o também vocalista e guitarrista Luís Machado trabalhavam no álbum Galáxia Vol. I.
“A banda surgiu com a intenção de ser um projeto que envolveria diferentes músicos em trabalhos de estúdio. Contudo, o projeto acabou se tornando uma banda no formato clássico, com um grupo fixo, e acabamos tocando ao vivo, até mais do que havíamos esperado”, conta.
Novidades pela frente
Entre lançamentos recentes e novos materiais que estão por vir, as bandas antecipam detalhes sobre as produções.
Segundo Alex, a Pulsação não parou, após o retorno no último ano. “Atualmente, estamos nos preparando para gravação de mais algumas músicas inéditas que em breve estarão disponíveis para o público”, antecipa.
Além disso, Juninho conta que a banda Etílicos e Sedentos vai lançar um single ainda neste ano. “Provavelmente com a produção de um videoclipe”, diz.
No planejamento, existe a intenção de a banda continuar na estrada, para levar a música e o nome de Brusque para vários cantos do estado. Em 2020 há o desejo de lançar um álbum de inéditas e em formato de vinil, ou registrar um show ao vivo com boa produção de áudio e vídeo.
“Mas tudo isso depende de vários fatores, entre eles o financeiro, que é sempre uma pedra no caminho de artistas independentes”, complementa.
Para a banda Galáxia, o foco é a divulgação do recém lançado álbum Estranhos Pássaros. Também, alcançar novos públicos com shows em outras cidades e regiões.
Conheça as bandas autorais de Brusque
A lista é feita pela Fundação Cultural da cidade, que registra os nomes dos grupos
- Etílicos e Sedentos;
- Galáxia
- Pulsação
- Lost Pines
- Stall The Orange
- Pobre Ventura
- Raging War
- Eletric Dust
- Arco Elétrico
- 1Plugged
- 7:27
- Claviceps Purpurea
- Southern
- Black Burning Seas
- Posh
- Morenas Azuis
- Mosaico Híbrido
- Inpace
- MFA-s
- Ruínas de Sade
- Os Dalits
- Rangones