Mais preconceito linguístico
O assunto foi discutido algumas semanas atrás, mas a minha indignação ainda continua. Precisamos falar sobre o caso de “peleumonia”. Precisamos falar de preconceito linguístico – novamente.
Eu já falei do assunto há algumas edições do Like, mas eu não posso deixar passar em branco o caso que veio como exemplo de tudo o que falei naquele primeiro texto. Para relembrar e resumir: preconceito linguístico é o ato de descriminar alguém que, por alguma razão, fala de alguma forma diferente da sua. Foi isso que aconteceu no mês passado.
O CASO
Um paciente de 42 anos chamado José Mauro de Ovelha Lima, que estudou até o segundo ano do ensino fundamental, foi ao hospital em busca de tratamento para pneumonia. Entretanto, devido à baixa escolaridade do paciente, ele apresenta dificuldades em pronunciar algumas palavras e, assim que soube o diagnóstico, o sujeito pediu tratamento para “peleumonia”. O médico Guilherme Capel Pasqua reagiu com risadas, de uma forma, no mínimo, antiprofissional. O enteado do paciente percebeu o tom de deboche do médico, mas não desconfiou o que estava por vir.
Vinte minutos após o atendimento, Guilherme postou uma foto em seu facebook com um papel – aqueles de diagnóstico mesmo –, onde estava escrito “não existe peleumonia e nem raôxis”.
Aí a coisa ficou feia!
A INDIGNAÇÃO
No mundo de hoje, com a avançada tecnologia, as notícias se espalham muito rápido. Ainda bem! Não demorou muito para uma massa de pessoas escreverem críticas sobre o caso – também teve quem defendeu o profissional da saúde, mas vamos deixar essas pessoas um pouco de lado hoje e falar das que agiram a favor do paciente. Uma mulher, também médica, deu um depoimento sobre o caso afirmando que “EXISTE PELEUMONIA” como forma de resposta. Veja:
EXISTE PELEUMONIA.
Eu mesma já vi várias. Incrusive com febre interna que o termômetro num mostra. Disintiria, quebranto, mal olhado, impíngi, cobreiro, vento virado, ispinhela caída. Eu tô aqui pra mode atestá. Quem sabe o que tem é quem sente. E eu quero ouvir ocê desse jeitinho. Mode a gente se entendê. Por que pra mim foi dada a chance de conhecê as letra e os livro. Pra você, só deram chance de dizê.
Pode dizê. Eu quero ouvir.
O próprio hospital também indignou-se e após toda a exposição, afastou o profissional do cargo em que atuava.
O PEDIDO DE DESCULPAS
Até agora, eu só critiquei o médico e mostrei críticas do assunto, porém, devo confessar que fiquei feliz por uma atitude que ele tomou depois do episódio. Após ver a repercussão do caso, ele encontrou o paciente para pedir desculpas. Postou uma foto com ele e da mesma forma que debochou, escreveu “Desculpem” em um papel. Além disso, marcou a foto com a seguinte legenda: “Eu errei, me arrependi e me sinto mal com isto. Este pedido de desculpas vai a todos os brasileiros que se ofenderam com a brincadeira da ‘peleumonia’. Sr. José Mauro hoje tornou-se meu amigo. Fui até a casa do mecânico que virou símbolo nacional”. E depois de tudo, se ofereceu para ser médico da família.
Devemos sempre lembrar: a língua é marca de personalidade, ao descriminar a fala de alguém, você está descriminando a pessoa em si. Vamos pensar um pouco mais!
Vitor Hochsprung – 17 anos – Letras – FURB