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VÍDEO: Manifestação ‘Justiça por Mari Ferrer’ reúne mulheres e homens na praça Barão de Schneeburg

Ato teve como objetivo pedir justiça por todas as mulheres que já sofreram violência, fim da cultura de estupro e da culpabilização da vítima

Um ato que pede justiça por Mari Ferrer foi realizado na tarde deste domingo, 8, na praça Barão de Schneeburg. Várias mulheres e homens participaram da manifestação, todos usando roupas pretas, máscaras e respeitando o distanciamento social.

O caso Mari Ferrer repercutiu novamente após o The Intercept Brasil ter publicado a absolvição do empresário André de Camargo Aranha, onde ele teria cometido ‘estupro culposo’. Além isso, o trecho da audiência em que a jovem é humilhada pelo advogado de defesa também está sendo alvo de discussões.

Segundo a organização, cerca de 46 pessoas se inscreveram para participar do ato. Os participantes seguravam cartazes com mensagens como: “pelo fim da cultura de estupro”, “vestida ou pelada, não mereço ser estuprada”, “meu corpo não está aberto para debate”, entre outros.

Os participantes usaram roupas pretas para simbolizar o luto por todas as vítimas de estupro no país e no mundo.

Ato pede justiça por todas as mulheres e o fim da cultura do estupro | Foto: Eliz Haacke

Jaqueline Jorge, 24 anos, uma das organizadoras, diz que a manifestação pede, além de justiça por Mari Ferrer, o fim da cultura do estupro e da culpabilização da vítima. Durante o ato foram apresentadas algumas músicas. Também foi realizada uma roda de fala, em que as pessoas presentes puderam contar suas histórias e relatos.

A moradora do bairro Pomerânia, em Guabiruba, afirma ser feminista desde cedo, mas que passou por um longo caminho de desconstrução devido à cultura patriarcal.

A terapeuta reikiana conhece algumas pessoas que já foram abusadas e já passou por uma situação de violência. “Não levei à Justiça porque ainda não tinha informação ou apoio para isso. A população é conivente e fecha os olhos. O que estamos fazendo hoje é passar a informação adiante, conscientizar e dar voz para quem foi silenciada muitas vezes”.

Jaqueline considera positiva a participação de homens em manifestações como esta. “Não podemos exigir a justiça sozinha. Precisamos do apoio deles sim, não é só nós [mulheres] que precisamos gritar neste momento. O machismo precisa ter fim, pois é prejudicial para eles também”, pontua.

Informação e educação

A antropóloga Rafaela Kohler, 33, diz que luta há muito tempo pelo fim da violência contra mulher e da desigualdade social. A integrante do coletivo Maria Vai com as Outras, de Brusque, relata que ficou indignada com a atuação do juiz e promotor do caso de Mari Ferrer.

“Os índices de estupro são absurdos e, se nós pensarmos, só 10% dos casos chegam aos órgãos de denúncia e, destes, só 97% tem algum tipo de solução e os estupradores são condenados”.

Segundo ela, o coletivo trabalha com informação e educação para evitar situações de violência contra mulheres. “As pessoas não sabem o que podem fazer quando algo do tipo acontece. A partir do momento que temos essas informações, nós podemos cobrar das pessoas que devem fornecer esse apoio para as vítimas”.

Mensagens buscam conscientizar a população | Foto: Eliz Haacke

Ela cita a lei Maria da Penha, que é considerada um marco para o movimento feminista. “Ela é linda e maravilhosa no papel, mas as pessoas e os poderes precisam ter interesse de colocar em prática o que está escrito”

“Já estivemos em eventos com a OAB e os próprios delegados já falaram que aqui em Brusque, com os nossos índices, poderíamos ter uma casa de abrigo para mulheres vítimas de violência”, acrescenta.

Ela também destaca o aumento de casos de violência doméstica durante a pandemia de Covid-19. “Precisamos parar de desconfiar da vítima e tentar pensar o que faz com que essas coisas aconteçam e em números tão absurdos”.

Luta presente na criação

A moradora do bairro Azambuja, Jasmine Simas, 24, aproveitou a manifestação para levar a filha Malika, de 1 ano e quatro meses, e a amiga Dayane Lorrany, 22. Ela também já foi vítima de violência contra a mulher e que se sentiu motivada a lutar por outras mulheres para evitar novos casos.

Jasmine levou a filha Malika e a amiga Dayane para mostrar a importância do feminismo desde cedo | Foto: Eliz Haacke

Ela passou a se envolver de forma mais ativa no movimento feminista em 2017 quando começou a participar de festivais e buscou conteúdos sobre o assunto. “Temos que lutar para prevenir o ato [de violência] contra uma pessoa para que ela não fique prejudicada mental e fisicamente”, pontua.

Jasmine critica o pensamento de muitas pessoas que buscam culpabilizar a vítima em todas as situações. “A mulher é sempre a culpada, porque estava de short curto, ou estava bêbada, estava pedindo, como dizem por aí”.

A artesã pretende ensinar a filha desde cedo sobre a importância do feminismo e a liberdade de expressão. “Eu tenho uma filha e isso faz parte da luta. Ela vai crescer e precisamos sempre buscar novas possibilidades para viver em paz”, finaliza.

Participantes confeccionaram cartazes no local | Foto: Eliz Haacke

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