X
X

Buscar

Maratoninha do Oscar – parte II

  • Por Like
  • 02/03/2017
  • 10:30

Aproveite, respeitável público! Mesmo que o Oscar já tenha passado, temos ainda muitas sessões de cinema aqui no Like! Filmes premiados, injustiçados, filmes de todos os estilos, cores, que alegram e que fazem pensar. A temporada de premiações é divertida, mas o cinema, com suas histórias, é nosso companheiro por todo o ano, todos os anos. Pegue a pipoca, apague a luz… e vamos conhecer novos personagens cheios de poesia, dor e sonhos…

Elle

Michèle (Isabelle Huppert) é a executiva-chefe de uma companhia de videogames e administra a empresa exatamente como administra sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, o olhar pétreo e a mente precisa e ordenada. Até que, um dia horroroso, ela é estuprada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. Aí você pensa: “nossa ela vai sofrer horrores, vai para a delegacia e tudo” (SQN). Na verdade, ela não sofre com o abuso, não faz disso um drama nem se torna agente passional da situação, de jeito nenhum! De fato, é isso que faz o filme tão interessante, nenhum personagem age como se esperaria nesta situação, e este mecanismo solicita constantemente o julgamento do público: ética e moral ficam em jogo o tempo todo.

Elle é audacioso, é petulante, é um berro nas nossas caras. Contar uma história na qual o estupro não é tratado como a origem de um trauma, mas como ferramenta psíquica para a resolução de outro trauma ainda maior (de infância, no caso – Michèle, A Sofrida!) é uma maneira extremamente intrigante – para não dizer problemática – de retratar a vida de uma vítima de estupro.  Difícil pensar numa abordagem mais corrosiva aos nossos paradigmas.

O filme é ainda mais sensacional graças à interpretação de Isabelle Huppert. O trabalho da atriz é transcendente: a força que exibe na ironia, na presença física, o modo como ela domina as cenas, os fatos, os laços dramáticos, que atriz! Uma pena, uma pena mesmo (!), ela não ter ganhado o Oscar de melhor atriz, o trabalho dela comparado com a da Emma Stone, ganha disparadamente (mas fazer o que, né!?)

Pedro Rabelo de Araújo Neto

 

Fences – Um limite Entre Nós

Fences (do inglês: cerca) é um filme baseado na peça de teatro homônima de 1983, um sucesso de bilheteria da década de 1980. Estrelado e dirigido pelo incrível Denzel Washington, a obra retrata a vida desiludida de Troy Maxson (Denzel) com sua esposa, Rose (Viola Davis) e o filho mais novo, Cory (Jovan Adepo).

Ao redor desta família surge, aos poucos (bem devagar, mesmo!), a literal e metafórica cerca do jardim, que atua como coadjuvante numa das mensagens retratadas no filme: “algumas pessoas constroem cercas para manter as pessoas do lado de fora. Outras constroem cercas para mantê-las do lado de dentro”. A fala retrata a conturbada relação entre pai e filho existente entre Troy e Cory. Como o pai sente um profundo rancor por não ter conseguido se tornar jogador profissional de baseball, devido à cor de sua pele, ele faz de tudo para que o filho também não se torne um esportista; cria-se aqui uma crítica à inclusão de negros nos esportes.

O enredo, o roteiro, a direção, a fotografia, o figurino, tudo! É detalhadamente pensado na obra, sem exageros e com uma nítida realidade cinematográfica. A atuação de Denzel é monstruosa, é surreal, o ator encarnou o personagem de uma maneira que espanta os olhos de tão boa (mas, ops, não teve Oscar para o mister Denzel #chateado). Já Viola Davis até certo ponto do filme não é destaque, mas daí (POW!), cai uma bomba dramática na trama e ela mostra porque mereceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante desse ano.

A cerca, a Morte e o taco de baseball também mereciam Oscar, mas não vem ao caso. Um filme para ser visto, admirado, refletido e, com toda certeza, revisto algumas vezes ao longo de nossas vidas.

 

Pedro Rabelo de Araújo Neto – 17 anos – calouro no curso de Relações internacionais na UFSC

 

 

 

Hidden Figures – Estrelas Além do Tempo

Se no ano passado choveram reclamações sobre a falta de diversidade no Oscar, este ano parece que “acharam” excelentes filmes para entrar na lista dos melhores do ano: são três representantes negros – Fences, Moonlight e Hidden Figures. Tem também Lion, com seu protagonista indiano. A lição, pelo jeito, foi aprendida e os membros da Academia colocaram óculos que permitem enxergar o mundo além da cultura dominante. Isso é bom!

A história baseada em fatos reais de Hidden Figures é incrível: as matemáticas negras, “computadores humanos” que trabalhavam na área científica na Nasa ainda nos tempos de segregação, no começo do programa espacial, era, pelo menos para nós, grande público, totalmente desconhecida. Precisava muito ser contada. O filme é daqueles que deveriam ser vistos e discutidos em sala de aula, na sala de casa, em todo lugar.

Não que o filme não pudesse ser muito melhor, mais aprofundado, menos “arrumadinho”, com menos jeito de aumentar contraste nas situações para frisar as dificuldades e importância do trio. Mas… isso é Hollywood… e eles não acreditam em sutileza, certo?

Das três atrizes principais, fica a sensação de que a não indicação de Taraji P. Henson como melhor atriz foi bastante injusta. Ao contrário, a sempre maravilhosa Octavia Spencer recebeu sua indicação como atriz coadjuvante, mesmo em um papel que não parece exigir nada dela. Cuidado, Oscar, para não confundir justiça com condescendência!

 

Claudia Bia – editora do Like