Maria Comprinha
No mundo encantado dos clichês, comprar é uma paixão feminina. Toda mulher ama shopping, vitrine, e-commerce, qualquer coisa que signifique trocar o suado dinheirinho por itens nem sempre lá muito necessários. Ok, a gente até assume parte da fama. Comprar tem um lado lúdico. Desestressa, tira o foco das tarefas e obrigações, acaba servindo como compensação para o cansaço da rotina e escape dos problemas. É um bom remédio, se usado com moderação. E ainda movimenta a economia.
Uma categoria de compras que não chega a ser novidade, embora não seja tão popular, é a tal de assinatura de produtos. Uns anos atrás, até virou moda assinar caixas de produtos de beleza. Funcionamento simples: você paga uma mensalidade e recebe, de tempos em tempos, uma caixa com coisinhas variadas. Você não escolhe. É surpresa. O que dá um ar de presente para a aquisição. Não sei se isso continua sendo popular, minhas amigas adeptas nunca mais falaram no assunto. Talvez seja por não ser mais novidade. Ou porque, segundo muitas críticas, as caixinhas podem ser uma armadilha. Muitas amostras grátis (que você está pagando) ou “produtinhos” simples, longe da promessa “premium” dos operadores das assinaturas. Como sempre, uma boa ideia acaba sendo estragada por algum descompasso com a ética.
A ideia de assinatura não nasceu ali, é claro. Se pensar bem, a velha e antiquada prática de pagar por mês a entrega matinal de pão e leite não deixava de ser uma assinatura. Nem morreu com os cosméticos. Existe até uma assinatura voltada para os homens, que entrega underwear e produtos de higiene. De volta ao clichê, imagino que muito homem ficaria feliz com entregas trimestrais de cuecas, meias, desodorante e espuma de barbear.
Tio Google conta que existem assinaturas de cachaça, de azeite, existem caixas veganas. Nem todas entram no espírito do presente surpresa. Em alguns, você escolhe o que vai receber. Só evita a obrigação de sair às compras ou de lembrar de ir atrás do que você pode vir a precisar. Troca-se parte do prazer pela praticidade. É a cara dos nossos tempos.
Mas tem coisas que vão além do imaginável. Recebi, há umas semanas, um e-mail me convidando para… comprar produtos de limpeza em um sisteminha assemelhado com o das assinaturas. Sim, produtos de limpeza. Detergente, sabão em pó, essas coisas. Ok, por mais que essa parte do supermercado não seja lá muito coberta de glamour (se bem que recomendo um olhar aprofundado nos nomes e aromas dos amaciantes de roupa, para ver o quanto de gourmetização já chegou neles), é razoavelmente indolor passar pelos corredores e tascar no carrinho o que precisamos para manter a casa minimamente abaixo (ou acima?) da linha do caos. Ter uma compra periódica online para isso… já não é tornar complicado o que é oferecido como facilidade?
Ou será só mais um nicho de mercado, imaginariamente cheio de donas de casa clichê vintage, viciadas em limpeza? Nunca se sabe…
Claudia Bia – jornalista e observadora do mundo