Matando preconceito a tapa
São tempos difíceis, cara pessoa que está aí, do outro lado destas letras. São tempos em que mostramos o pior de nós. Todo dia me espanto com o que estamos fazendo com as maravilhas tecnológicas que temos ao alcance dos dedos. Ó admirável mundo novo… que revela nosso lado mais horroroso, expõe o preconceito e a rapidez em estabelecer julgamentos sem provas. Somos o fim da picada.
E isso nos inclui, viu, beltranas? Estupidez não é privilégio de homem machista clichê – que, sim, claro, existe. Mas não é o único tipinho típico que encontramos por aí. As moças também são capazes de escrever e de falar muita besteira indefensável. E não estou falando do maravilhoso direito à opinião. Nem tudo é opinião, nesta vida… preconceito, por exemplo, de qualquer tipo, passa longe do direito de opinar.
Pois é. Comentaristas comentaram. E como comentaram… Disseram que é um absurdo uma marca tão fina se unir a uma celebridade tão popular. Insira narizes torcidos aqui. Disseram que isso tira o glamour da marca. Que não querem mais colecionar a pulseira, estão de mal, trancando a respiração até roxear. Que os berloques são feios, feios. Disseram que é um absurdo a marca lançar uma linha da Anitta… quando pedem tanto por uma do Harry Potter (!!!).
Mas também disseram outras coisas. Que as pulseiras são coisa de pobre. Que quem está reclamando pensa que colecionar os berloques é o suprassumo da riqueza, “kkkk”. Que gente glamorosa mesmo nem compra pecinhas de prata, que é linha “de entrada” da joalheria, suas iludidas pobretonas.
Preconceito de lá, preconceito de cá… só consigo mesmo pensar que a única pessoa esperta nisso tudo é a própria Anitta, que segue empoderada fazendo o que acha certo e ganhando muito bem por isso. E ainda fica postando seus “kkkk” nas redes sociais, bem felizinha.
Mas como tudo o que é ruim pode piorar, os comentários sobre a pulseira são suaves, perto do que foi feito depois do “acidente” que matou o relator da Lava-Jato. Isso você deve ter visto.
Em lugar de trocar as aspas aí acima pela convicção de que esta é uma morte que precisa ser investigada de verdade e ficar com a atenção focada nessa possível investigação, comentaristas exercitaram sua vergonha alheia questionando a presença da massoterapeuta Maira Panas no avião. Questionando a vida da moça. E a gente sabe muito bem que esses questionamentos não são questionamentos, são afirmações. Essa parcela da população – que, tomara, não seja maioria – já deu a sentença: boa coisa a moça não estava fazendo lá, mesmo que acompanhada da mãe. Boa coisa o ministro também não estava fazendo lá, indo para Paraty no mesmo avião que um empresário e uma moça que dançava. Ela dançava, minha gente! Precisa dizer mais alguma coisa?
Aqui, há que se citar a que é desde já a melhor manchete de 2017 do Sensacionalista: Perícia conclui que você não tem nada a ver com a vida da moça no avião de Teori. Compreendeu?
Sinceramente, você, que sai distribuindo rótulos “feios” por aqui, especialmente para quem você não conhece… se reveja. Porque você é realmente parte do problema e, desse jeito, só vai estar enterrando cada vez mais a solução.
Claudia Bia – jornalista impaciente