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Mecanização desacelera plantio de eucalipto na região

Automação da produção e falta de grandes áreas fazem atividade desacelerar

Atividade em alta por muitos anos, o plantio de eucalipto para a venda de toras de madeira e cavaco (madeira triturada) está em queda na região. Um dos principais motivos para a desaceleração do mercado a mecanização. Com processos mais modernos, faz-se mais com o mesmo volume de material. Com isso, a demanda pela árvore não aumenta.

Exemplo desta tendência de o eucalipto deixar de ser procurado por agricultores é o Horto Florestal de Brusque. O local mudou seu foco e deixou de vender mudas da planta. “A demanda praticamente acabou. Hoje se faz até muda clonada – em laboratório. De vez em quando vem alguém atrás de eucalipto, mas é bem pouco”, afirma o responsável pelo setor, Afonso Sartori.

No Viveiro Municipal de Guabiruba a realidade não é diferente. O secretário de Agricultura do município, Moacir Boos, diz que ainda trabalha com mudas de eucalipto, mas que a procura varia em cada época do ano. Segundo ele, a maioria dos compradores é de agricultores da região.

O analista de negócios da cooperativa de crédito rural Cresol de Botuverá, Jonas Graf, diz que a demanda por financiamentos para o plantio de eucalipto na região diminuiu. “Tem procura ainda, mas, comparando com os últimos anos, deu uma caída”, afirma. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é o mais procurado por agricultores para conseguir financiamentos com o objetivo de custear o investimento em eucalipto.
Mecanização

O engenheiro agrônomo Juliano Piske diz que atualmente boa parte da produção de eucalipto é feita com máquinas. Na hora do plantio, por exemplo, já não existe mais o trabalho de fazer as covas na base da enxada para então colocar ali as mudas da planta. Hoje em dia, há plantadeiras automáticas que fazem o sulcamento do solo e um operário vai na parte de trás apenas distribuindo as mudas.

Esta rapidez no plantio fez com que a produção aumentasse, áreas fossem mais bem aproveitadas, o índice de árvores propícias para a venda aumentasse e com isso diminuísse o espaço para novos empreendedores no ramo. No caso de Brusque e região, Piske diz que o relevo é prejudicial. “Hoje, há dificuldades para onde é morro”, explica. Em áreas inclinadas, não há como colocar uma máquina para retirar as árvores, portanto, o trabalho deve ser manual. O resultado disso é que se passa mais tempo colhendo, o que encarece o valor da tora, diminuindo a competitividade do produto. O engenheiro agrônomo diz que vem madeira de outras região porque são mais competitivas, em certos casos.

Outro fator para a diminuição da procura por mudas e financiamentos para o plantio do eucalipto é a urbanização, diz Piske. Com a região crescendo rapidamente, quase não há mais lugares onde se possa plantar. “Está bem devagar [o plantio de eucalipto], porque não temos uma grande disponibilidade de áreas e o mercado consumidor está um pouco retraído”.

Piske afirma que é mito a informação de que o eucalipto exauri o solo. Ele diz que a cultura tem impactos, no entanto, isto é normal e não há prejuízos para o meio ambiente. As árvores podem ser plantadas em qualquer época do ano, diz ele, e pode-se fazer, dependendo das condições, até mesmo três colhidas em um só ano.
Mercado

Apesar de estar passando por um período difícil, o mercado consumidor de eucalipto ainda é forte na região. “O grande mercado consumidor da nossa região é a biomassa, lenha para produzir energia. O mercado de madeira para serralheria está aberto e com muitos compradores, o mercado de lenha está retraído”, diz o engenheiro agrônomo.

Por ser polo têxtil, várias empresas de Brusque e região compram eucalipto para transformar em cavaco, que é a tora de madeira picada para a queima. Este produto é utilizado, por exemplo, nas caldeira das tinturarias. “A madeira picada otimiza a queima, há um aproveitamento maior da madeira e um desperdício menor de vapor. Na maioria das empresas este processo é automatizado”, afirma Piske.

A Kohler e Cia Tinturaria e Estamparia é uma destas empresas que adquirem eucalipto, mas neste caso tanto para fazer lenha para as caldeiras quanto para transformar em madeira, porque também tem uma serralheria. “Hoje, tem eucalipto de sobra. Há uma oferta muito grande no mercado da região e o mercado consumidor teve queda, por causa do setor têxtil”, afirma Jorge Kohler, encarregado do setor de cavaco da empesa.

Atualmente, a Kohler produz todo o cavaco de que necessita para se manter em funcionamento. Houve meses que foram comprados 5 mil metros de lenha, valor considerado alto por Kohler. O processo na indústria é feito de forma automatizada: um caminhão pega as toras, as coloca no picador, que os envia por um duto para o local onde ficará armazenado.

Na caldeira, o esforço é menor porque não tem o peso de uma tora. É só abrir um compartimento para que o cavaco caia no fogo e queime. Outro sinal da automatização do processo.

A Kohler Tinturaria e Estamparia produz todo o cavaco que consome