Médico do Hospital Azambuja fala sobre a distância do filho durante a pandemia
Rafael Franceschetto é coordenador do pronto-socorro e atua na linha de frente no combate a doença
Rafael Franceschetto é coordenador do pronto-socorro e atua na linha de frente no combate a doença
Para o médico Rafael Bernardi Franceschetto, 41 anos, a pior parte da pandemia do coronavírus é ter que ficar longe do filho. “Ele mora com a mãe dele, então eu sempre ia buscar na escola, a gente sempre se encontrava e agora essa rotina não existe mais, o foco total é no trabalho”, conta.
Há pouco mais de um mês, ele se dedica quase que exclusivamente ao seu trabalho. Fraceschetto é coordenador do pronto-socorro do Hospital Azambuja e convive diariamente com as mudanças que vieram junto com o novo vírus.
O médico conta que nos primeiros 20 dias trabalhou incessantemente, já que é uma situação completamente nova, sem uma receita pronta de como proceder. “Cada setor foi se adaptando, conseguimos respaldo da direção do hospital com relação aos EPIs, à segurança dos funcionários e conseguimos criar um padrão de atendimento, para que tanto os pacientes como os funcionários se sentissem seguros”, diz,
Como coordenador do pronto-socorro, praticamente viveu os primeiros dias da pandemia em Brusque dentro do hospital tentando organizar tudo da melhor forma. Por este motivo, a rotina que o médico tinha fora do trabalho, principalmente com o filho de 10 anos, foi completamente modificada.
Pai e filho ficaram pouco mais de 15 dias sem se ver pessoalmente, apenas pela internet. “Ele sempre estava comigo e agora é diferente, mas a internet ajuda, sempre fazemos ligação por vídeo, ele entende, acompanha, sabe da minha função aqui, mas sempre bate a saudade, não tem como”, diz.
Entre as atividades preferidas de pai e filho está o futebol, que por enquanto, precisa esperar um pouco para acontecer. “Ele sempre fala que tem saudade de jogar futebol comigo. É uma situação diferente, mas por enquanto, terá de ser assim”, afirma.
Em casa a rotina do médico também mudou. Rafael mora com a esposa no bairro Jardim Maluche. Quando chega do trabalho, vai direto para a lavanderia, onde tira a roupa. Depois vai para o banho e só depois pode descansar. “Tem todo um cuidado com o carro, só eu estou usando para evitar qualquer risco”, diz.
Com a carga intensa de trabalho, o contato com os amigos e com a família, que vive no Rio Grande do Sul, também ficou bastante limitado. “É tudo pelo telefone”, afirma.
Rafael trabalha 12 horas por dia, de segunda a sexta-feira. No horário que não está no hospital, está disponível no telefone, caso aconteça alguma urgência. Além da coordenação do pronto-socorro, ele participa de diversos comitês que discutem o andamento da pandemia no município.
O médico conta que o atendimento ao primeiro caso de coronavírus foi mais tenso para a equipe, mas com o passar dos dias, tudo foi entrando nos eixos. “São coisas novas todos os dias, é muito treinamento, capacitação, a prioridade é dar condições para atender todo mundo em segurança”.
De acordo com ele, a tensão está sempre presente na vida dos médicos. “A apreensão é caso a caso. Fica apreensivo quando vem uma criança em estado crítico, quando há um acidente grave, mas são emoções diferentes. Essa é uma coisa nova, que causa incerteza. É preciso estar muito focado”.
O médico sabe que o índice de contaminação dos profissionais de saúde com o novo coronavírus em todo o mundo é grande, porém, o trabalho precisa ser feito, mais do que nunca, agora. “O mais importante é ter conseguido os EPIs para que os profissionais não se contaminem. Temos um cuidado maior porque o tempo de atendimento com esses pacientes é maior”.
Mesmo com todos os cuidados tomados pelos profissionais, a qualquer sinal de imunidade baixa ou qualquer sintoma, os profissionais são afastados do trabalho por um período. “Já tivemos cinco baixas de profissionais com sintomas gripais. Isolamos por 14 dias, para que não haja risco de o colega contaminar outros pacientes ou colaboradores. Qualquer sintoma respiratório já estamos conseguindo isolar porque é algo muito sério”.
O médico destaca ainda que, a partir do momento que os profissionais da saúde ganharam o direito de fazer os testes rápidos para a Covid-19, issotrouxe mais segurança para as equipes.
“Em três dias se tem a resposta e diminui muito a tensão da equipe. Fazemos o que é possível para reduzir a exposição dos profissionais, mas essa é a nossa missão. Fizemos um juramento de cuidar dos outros e agora temos que proporcionar no nosso melhor”.