José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

A medida de todas as coisas

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

A medida de todas as coisas

José Francisco dos Santos

Na Grécia antiga, Sócrates se notabilizou combatendo os chamados “sofistas”, tidos como os sábios da época. O filósofo dedicou sua vida a desmascarar os falsos discursos dos tais sábios. O sofista que representa bem a mentalidade combatida por Sócrates é Protágoras, para quem “o homem é a medida de todas as coisas”. Essa frase define o que chamamos de relativismo. Quem acredita nisso não aceita nenhuma verdade, pensa que qualquer crença é apenas um ponto de vista, tão válido quanto o seu contrário.

O combate dessa ideia foi a missão de Sócrates e de seus discípulos Platão e Aristóteles. Praticamente todo o nosso modo de ser e entender o mundo nos remete, em alguma parte, ao pensamento desses gigantes. Durante a Idade Média, o pensamento deles foi criteriosamente entrelaçado com outro pilar da nossa civilização: o cristianismo. Um dos pontos de convergência de ambos os pilares é a busca da Verdade, sustentada pela crença firme de que ela existe, e que o objetivo da nossa investigação intelectual é trazê-la à luz, seja no plano natural ou espiritual, o que dá também as bases para a conduta moral e para a vida social dos seres humanos.

Mas o relativismo de Protágoras não foi totalmente destruído. Sua semente foi preservada pelos céticos, que proliferaram após a decadência das cidades-estado gregas e encontrou solo fértil no mundo moderno e contemporâneo. A dúvida, que sempre foi um momento importante na proposta, análise e aceitação das crenças, tornou-se soberana, de modo que duvidar de tudo se tornou simplesmente uma regra e um estilo de vida. Na busca pelos fundamentos do nosso conhecimento, muitos acabaram reeditando, com um ou outro requinte, a tese de Protágoras.

Não há problema em questionar uma crença e mostrar suas fragilidades. Isso é importante para que verifiquemos se ela tem sustentação ou não e para que possamos propor uma mais adequada, se for o caso. Mas quando não acreditamos mais em verdade alguma, abrimos a possibilidade para a aceitação de qualquer ideia, pois tudo é relativo.

Faz tempo que esse relativismo vem sendo o alimento da nossa cultura. Professores de filosofia enchem a boca para dizerem que não existe verdade; os alunos pensam (foram ensinados a pensar assim) que qualquer coisa que escrevam ou façam deve ser considerada, pois é a “sua” verdade; pais e mães já não sabem mais como adequar a educação moral dos filhos, porque perderam suas próprias referências. Cada um se tornou a medida de todas as coisas. Talvez seja por isso que não temos mais medidas nem limites para nada. Por onde anda Sócrates?

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