Médium Cecília, que atuava em Brusque, é condenada por estelionato
Ela foi absolvida por outro crime; entenda o caso
Ela foi absolvida por outro crime; entenda o caso
O caso da mulher que se apresentava como médium Cecília foi julgado pela Vara Criminal da Comarca de Brusque no dia 29 de agosto. Theyta Lhuba Blado Stanescon – verdadeiro nome dela – foi condenada por estelionato e absolvida pelo crime de curandeirismo. A sentença é de dois anos e seis meses de reclusão, em regime inicial aberto, e vinte e cinco dias-multa.
Yago Nicolete Vacite, companheiro de Theyta, recebeu a mesma pena. Os dois obtiveram o direito de recorrer em liberdade.
O juiz Edemar Leopoldo Schlösser aplicou multa aos dois, de R$ 17,6 mil, e converteu a reprimenda em prestação de serviços à comunidade. O valor vai ser usado para ressarcir três vítimas da médium, que perderam: R$ 2.450, R$ 7.515 e R$ 9.660.
Uma quarta vítima teve um prejuízo ainda maior, de R$ 23.310. Ele já conseguiu o ressarcimento por meio de outro processo judicial.
A condenação narra os fatos a seguir. Segundo o documento, no qual constam os depoimentos da médium Cecília, de Yago e das vítimas, o casal chegou a Brusque em 2014. Ela contou que realiza “trabalhos” desde a infância.
Médium Cecília foi detida pela Polícia Civil no dia 18 de fevereiro de 2016, quando realizava um saque em uma agência bancária de Guabiruba. Os agentes chegaram até ela depois que um homem, que havia se consultado com a médium, a denunciou.
Mais três vítimas apareceram depois que o casal foi preso. A prisão preventiva foi decretada e os dois foram para a Unidade Prisional Avançada (UPA) de Brusque e para o Presídio Feminino de Tijucas. Eles foram soltos nos dias 23 e 24 de fevereiro mediante pagamento de fiança no valor de R$ 17,6 mil cada um.
Um homem que pagou R$ 23.310 para a Médium Cecília (e já foi ressarcido) contou em juízo como aconteceu o caso. Ele pagou R$ 30 pela consulta e mais R$ 390 para fazer o tratamento.
Ele disse: ela “nunca explicou para mim a quantia que ia me cobrar, sempre me falava que era uma coisinha que era para depositar para ela”. Segundo ele, a Médium lhe disse que ia fazer uma oração e que ele precisava trazer uma dúzia de ovos, um pano branco e vela.
Disse ainda, que no dia em que fez consulta, estavam numa sala, cheia de imagens, quando fez a “magia dela”. A vítima disse em juízo: “‘me fez de besta, praticamente, pois me fez eu andar dentro da sala dela carregando aqueles ovos’, depois quebrou os ovos e tirou um “instrupício” parecido com uma cobra”.
Segundo o homem, a médium disse que fazia o benzimento e com isso sairia todos os problemas dele. A vítima disse que foi Yago quem o levou até o banco, onde retirou R$ 23.310 e fez uma transferência bancária para a conta indicada.
O homem afirmou que a médium não prometeu de curar a doença do informante e reconheceu os acusados presentes ao ato processual como sendo as pessoas com quem consultou e fez a transferência do dinheiro.
Ele também informou que depois dos fatos foi feito um acordo com o advogado dela e recebeu R$ 23,8 mil.
Outra vítima foi uma idosa de 71 anos de idade que procurou a médium entre 13 e 25 de dezembro de 2015. O objetivo dela era buscar auxílio espiritual a resolver os problemas de sua vida e da vida de seu irmão, mediante jogo de búzios, rezas e benzeduras.
A idosa disse que precisou levar “meia dúzia de ovos, um pano branco, um pacote de velas e uma roupa do meu irmão que eu queria ajudar”. Ela contou que “pagou R$ 15 que era para o santo”.
“Eu tinha levado R$ 512 para entregar para ela, quando ela fez aquelas rezas e disse que eu tinha que buscar mais dinheiro”, afirmou, em juízo. Então, ela foi buscar mais R$ 7 mil, voltou para a casa da médium e lhe entregou o dinheiro.
Foi quando então a médium “colocou o pano e ovos no chão, e que durante a sessão realizada, a informante quebrou o ovo e ‘saiu uma larvinha, cobrinha com chifres, de dentro do ovo’”.
A vítima ficou apavorada com o que viu, “quando a acusada pediu mais dinheiro, e que fosse no banco fazer um financiamento, porque ‘esta larva que saiu do ovo ia acabar com a vida do meu irmão e a minha também’”.
Em juízo, médium Cecília negou irregularidades. Disse que de fato as quatro vítimas a procuraram, mas ela negou tê-las enganado. Ela culpou a divulgação do caso como o fator para que outros a denunciassem.
De acordo com a sentença, ela contou que atendia no Jardim Maluche, “com ambiente próprio em sua casa para o atendimento”. Afirmou que os clientes deveriam levar objetos para as consultas, tendo em vista o pedido feito pelas “entidades”, as quais pedem “cachaça, materiais para fazerem benzimentos”.
Theyta relatou ainda que durante os trabalhos que realizava, por conta do “poder dos orixás” saíam de dentro de ovos alguns tipos de bichos, entregando-os para a entidade denominada “Exu” como forma de oferenda. Informou que não tinha alvará ou qualquer autorização para exercício da atividade.
Ela continuou explicando que a diferença entre os valores pagos pelas vítimas ocorreu devido ao que é pedido por cada um, “da entidade delas”, espiritualidade, tipo de problemas e “é o que a entidade pede” pois existem pessoas que têm problemas mais sérios e precisam de “mais despachos” e outras “que é mais brando”.
Yago afirmou que só indicava clientes para a companheira. Ele disse que não tinha participação nos atendimentos e que só conheceu uma vítima (a dos R$ 23 mil) porque deu uma carona. Ele explicou que “na cultura cigana só as mulheres têm o dom da mediunidade”.
A reportagem tentou localizar o advogado de Theyta, mas sem sucesso. Foi feito contato com ela por e-mail, porém, não houve retorno até o fechamento desta edição.